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Grandes mestres do cinema: John Ford

“Bom, prefiro os grandes mestres, e com isso quero dizer: John Ford, John Ford e John Ford”, assim respondeu Orson Welles quando lhe perguntaram quais eram seus diretores americanos favoritos. O genial diretor de “Cidadão Kane” não era o único mestre do cinema a admirar o inigualável John Ford. Entre aqueles que fazem coro a Welles, temos Steven Spielberg, Martin Scorsese, Clint Eastwood, Peter Bogdanovich e Walter Hill. O crítico Antonio Moniz Vianna foi um dos maiores admiradores de Ford aqui no Brasil. Não é difícil entender toda essa admiração por Ford, quando paramos para assistir até mesmo as obras ‘menores’ do diretor.

Nascido no estado do Maine, nos EUA, em 1894, Ford começou no cinema como ator, ainda no início da década do século passado. Logo passou a dirigir alguns westerns. Foi em 1924 que ele dirigiu seu primeiro filme de destaque: “O Cavalo de Ferro”. Depois disso, o incansável Ford dirigiu várias produções maiores, culminando em 1935 em “O Delator”, obra que lhe deu o primeiro dos quatro Oscars de direção (nenhum outro diretor na história conseguiu igualá-lo). É um filme mais politizado, sem o humor típico de boa parte de suas obras. Desse período, “O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões” (1936) é um de seus trabalhos mais marcantes.

Victor McLaglen em “O Delator”

Como bem lembrado no documentário “Direção de John Ford” (de Peter Bogdanovich), Ford dirigiu nada menos que seis produções marcantes entre os anos de 1939 e 1941. São elas: “No Tempo das Diligências”, o primeiro de seus grandes westerns, e também o início de sua parceria com John Wayne, o astro que o acompanharia em outros de seus trabalhos marcantes. “A Mocidade de Lincoln” e “Ao Rufar do Tambores”, ambos com Henry Fonda, outro astro excepcional que participaria ainda de outros ótimos trabalhos do diretor, como “Vinhas da Ira”, que deu a Ford seu segundo Oscar de direção. Trata-se de um dos mais importantes filmes de todos os tempos; uma obra-prima em tom de denúncia, baseada no célebre romance de John Steinbeck.

Henry Fonda e Jane Darwell em “Vinhas da Ira”

A Longa Viagem de Volta” relata a história de homens explorados em um cargueiro, vivendo momentos alegres e desesperançosos. Ford era ótimo em trabalhos que mostram o descaso social. Fechando o ciclo, “Como Era Verde meu Vale” se tornou a única produção de Ford a ganhar o Oscar de melhor filme. Foi também seu terceiro Oscar de direção. É um belo e comovente trabalho que mostra a vida de homens em uma pequena cidade de mineradores.

Depois disso, Ford passou alguns anos servindo na Segunda Guerra e documentando todo o horror que presenciava ali. Quando ele retornou para casa, voltou a filmar em Hollywood, mas não se esquecendo do que viu na guerra. “Fomos os Sacrificados” (1945) mostra um grupo de marinheiros lutando em uma perigosa batalha.

No ano seguinte, Ford retorna aos westerns com o ótimo “Paixão dos Fortes”, uma obra repleta de grandes momentos. “Sangue de Heróis” (1948) traz os dois maiores atores fordianos, John Wayne e Henry Fonda, na primeira parte da “Trilogia da cavalaria”, seguido de “Legião Invencível” (1949) e Rio Grande (1950), ambos com Wayne. Com o ótimo e inesquecível romance “Depois do Vendaval” (1952), Ford conquistou seu quarto e último Oscar de direção.

John Wayne e Maureen O’Hara em “Depois do Vendaval”

Em 1956, com Wayne à frente do elenco, Ford dirigiu “Rastros de Ódio“, aquele que segundo boa parte da crítica é seu melhor trabalho. Um western excepcional e antológico, um retrato do homem solitário convivendo com seus maiores temores. “O Último Hurrah” (1958) traz Spencer Tracy em uma ótima atuação, no papel de um incansável político que é visto como ultrapassado, mas que não desiste de lutar. “Marcha de Heróis” (1959) mostra a Guerra da Secessão de forma menos nobre que os habituais filmes do diretor. O bom ator negro Woody Strode (um dos preferidos de Ford) é um soldado acusado de um crime no reflexivo western “Audazes e Malditos” (1960). “O Homem que Matou o Facínora” (1962) é o último grande filme de Ford; um belo exemplar do gênero western que simboliza o fim de uma era. “Crepúsculo de uma Raça” (1964) é um pedido de desculpas do diretor pelo tratamento que ele deu aos índios em vários de seus filmes. “Sete Mulheres” (1966) é seu último longa-metragem.

John Wayne em “Rastros de Ódio”

Com um senso de humor ácido, Ford trabalhava frequentemente com os mesmo atores, como se fosse uma família. Isso, segundo ele, dava melhores resultado às produções. Além de Wayne, Fonda e Strode, outros atores preferidos de Ford eram James Stewart, Harry Carrey, Harry Carrey Jr, Ward Bond, John Carradine, Maureen O’Hara e Victor McLaglen . Ford não gostava muito de filmar várias vezes uma mesma cena, preferindo utilizar sempre a primeira. Para evitar que os produtores mexessem e alterassem sua obra, ele filmava apenas o que pretendia usar, sem deixar sobras de cenas para os editores.

Apesar de nunca ter sido premiado por um western, Ford se apresentava como alguém que fazia westerns. Um de seus lugares preferidos de filmagem era o Monument Valley, uma paisagem fascinante cheia de montanhas que fica entre o Arizona e Utah.

Ford era mestre nas composições de cenas, capturando sempre os melhores ângulos, deixando as imagens de maior destaque no centro da tela, de forma a torná-las mais amplas, mesmo vistas em formato quadrado, que frequentemente era o formato padrão até 1953. A cena final de “Rastros de Ódio”, com Wayne sendo enquadrado ao centro de uma porta com as laterais escuras, é de uma genialidade que só um mestre como Ford poderia criar.

John Ford no Monument Valley

John Ford faleceu em 31 de agosto de 1973, deixando várias obras-primas inesquecíveis que fizeram a história do cinema.

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