Os Filmes da Minha Vida Cinéfila - parte I - Cinem(ação)
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Os Filmes da Minha Vida Cinéfila – Parte I

Já escrevo sobre cinema há quase 2 anos, mas este é meu primeiro texto aqui no Cinem(ação), o que está me causando uma certa ansiedade. E elucubrando sobre o que escrever, comentei com o Lucas Albuquerque, também colaborador no site sobre esse meu nervosismo do primeiro texto e como isso estava tirando meu sono. Tive então umas dezenas de ideias – umas boas e outras nem tanto. Mas ao expor minhas ideias, Lucas salvou minha pele ao sugerir “por que você não fala de você“?

E foi ai que surgiu meu primeiro insight! Cinema é interpessoalidade por essência, afinal, cada filme se comunica com seu interlocutor de forma individual. Tanto, você caro leitor quanto todos aqui no Cinem(ação) temos nossos filmes marcantes, que não necessariamente são os melhores filmes das famosas listas que já conhecemos. As vezes são filmes escondidos, subestimados e por que não, de qualidade questionável, mas o que importa é o que esses filmes representam para seu interlocutor de forma pessoal.

E para que eu me apresente a você que está lendo esse texto, listei 6 filmes que me fizeram amar o Cinema. Para não ficar muito longo o texto, o dividirei em duas partes. Então seja bem-vinda e bem-vindo ao meu mundo de Cinema!

 

 

PARTE I

A CRUZ DOS ANOS (Make Way For Tomorrow, 1937)

Já começo com o que é o filme da minha vida, e também o filme que mais demorei a descobrir. Mas apesar de ser o menos conhecido dessa lista, é um filme memorável e segundo o próprio diretor, Leo McCarey, mereceu mais reconhecimento.

Durante a premiação do OSCAR de 1938 onde o diretor recebeu o prêmio pelo filme CUPIDO É MOLEQUE, Leo McCarey declarou: “Obrigado, mas vocês deram o prêmio para o filme errado”. Isso mostra o poder desse filme e como o diretor estava emocionalmente ligado à essa obra.

O filme narra momentos de dificuldades financeiras vividas por um casal de idosos (Bark e Lucy) que passam a receber ajuda dos filhos crescidos. Para que não haja sobrecarga para nenhum dos filhos o casal é separado criando uma profunda dor em ambos, que lutam para que essa dor não absorva o restante da força vital que lhes sobram, ao passo que lidam com a indiferença dos filhos diante desse sofrimento.

O que Leo McCarey faz aqui é mostrar como a indiferença dos filhos para com os pais idosos é mais doloroso que o abandono. O filme foca na expressões do casal que nunca forçam as emoções. Elas vem naturalmente conforme a história avança. Uma cena que demonstra isso é quando Lucy está na casa de sua filha que está oferecendo uma jantar para suas amigas. Nessa cena, Lucy animada, fala ao telefone quase gritando de tanta empolgação por estar na casa da filha, mas o volume da sua voz passa a incomodar as visitas e a própria anfitriã que lhes lançam olhares de censura, raiva, desconforto e tristeza. Esses olhares ferem profundamente quem está assistindo ao filme e aquilo me fez chorar como poucas vezes fiz diante da TV.

Apesar de não ter pais idosos, e já ter perdido todos os meus avós há anos, senti uma conexão com aquele casal que poderia ser meus pais e meus avós, e é isso que me fascina no cinema – conectar vidas. A CRUZ DOS ANOS consegue nos conectar à pessoas de forma sensível e nos fazer refletir nas nossas relações pessoais. Será que somos indiferentes com nossos pais, avós, parentes ou não?

 

V DE VINGANÇA (V for Vendeta, 2005)

Há surpresa com a escolha desse filme? Te entendo perfeitamente, afinal em termos de qualidade, esse talvez seja o que fica mais abaixo dos demais, mas não estamos falando aqui dos melhores filmes que já vi, e sim dos que formaram minha cinefilia. E nesse quesito, V DE VINGANÇA tem papel essencial pois foi a partir daqui que passei a anotar frases ditas durante um filme.

Quando eu vi esse filme eu tinha 20 anos de idade, ou seja, não era mais adolescente mas também não me estabelecera como adulto. Estava tentando entender meus ideais e minhas crenças, e quando eu vi esse filme produzido e escrito pelas Wachowski e que contava a história de um homem que se esconde atrás de uma máscara querendo derrubar o sistema e livrar o povo da opressão, aquilo fez a mão da revolução juvenil até vibrar e me pôs na frente do computador para pesquisar tudo sobre esse tal de Guy Fawkes.

OK, foi um pouco frustrante descobrir que realmente foi Guy Fawkes, mas pesquisar mais sobre o extra-filme me conectou ainda mais ao filme e suas frases marcantes viram “status” do MSN e Orkut. Como essa por exemplo; “Você usa tanto uma máscara que, acaba esquecendo de quem você é”, ou essa que gosto muito “Idéias não são só carne e osso. Idéias são aprova de balas”.

Toda a ambiguidade do filme que não trás um herói perfeito (se é que podemos chama-lo de herói) é fascinante pois não nos obriga a simplesmente torcer pelo mocinho. Há muito mais envolvido do que vencer o vilão malvado ou não. Questionamos suas motivações e seus métodos ao mesmo tempo que queremos que toda aquela opressão acabe. Agora junte esse dilema ideológico e moral à uma estilizada direção do estreante James McTeigue e temos um dos melhores filmes baseados em quadrinhos até hoje.

 

2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO (2001: A Space Odyssey, 1968)

Nenhuma surpresa aqui não é mesmo. 2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO é um dos filmes que mais aparecem em listas de melhores filmes de todos os tempos, e aqui não poderia ser diferente, pois foi o filme que me apresentou à um dos meus diretores favoritos – Stanley Kubrick.

Costumo ver esse filme pelo menos uma vez ao ano, e cada vez que o faço tenho uma experiência diferente e é isso que mais me encanta nesse filme. A última vez que o revi foi recentemente, numa exibição única no cinema, o que para mim foi uma experiência inenarrável. Mas esse filme se tornou importante na minha vida no momento em que eu finalmente tive meu entendimento do filme. E eu digo “meu entendimento”, por que 2001 é daqueles filmes que cada um poderá tem um entendimento particular dos eventos ali narrados.

O grande mistério do filme está presente nas aparições do Monolito, um bloco preto que tem breves aparições durante uma expedição espacial que pesquisa inesperáveis eventos ocorridos na lua. Cada aparição desencadeia eventos que mudam a trajetória da história culminando num dos filmes mais interpretativos da história do cinema.

A partir do momento que vi esse Monolito como simbolo do conhecimento, o filme passou a ter mais significância para mim. Aquele bloco negro representa o conhecimento evolucionário da humanidade civilizatória. Lembre-se da cena onde os macacos tocam no objeto e passam a agir de forma estranha e a desenvolver ferramentas o que permite-lhes caçar e deixar de serem apenas caças e passam a serem caçadores, causando uma ruptura na forma como viviam.

Pois bem, eles tinham medo daquele conhecimento desconhecido, o que faz com que relutem em toca-lo mas quando o faz, passam a agir de forma estranha. Kubrick nos mostra como o conhecimento transforma nossas vidas e mesmo depois de milênios de evolução tecnológica, o conhecimento ainda causa estranheza e nos faz evoluir, seja para coisas boas ou para coisas ruins. Vale lembrar que mesmo no auge do processo evolutivo, o homem no espaço precisa reaprender a comer, a andar e até a usar o banheiro. Conhecimento gerando novos conhecimentos. E no final de tudo, a humanidade nasce, vive, envelhece e morre, mas o conhecimento permanece para renovar a vida de forma cíclica. No ultimo frame do filme, aquele bebê nos olha nos olhos como que perguntando: “… e agora? O que você fará com esse conhecimento?”.

Palmas para Kubrick!

Essa foi a primeira parte de minha apresentação. Os próximos 3 filmes me ensinaram a importância de uma sala de cinema, de uma montagem bem feita de como a mise-en-scène funciona para acrescentar profundidade à história.

Se quiser conhecer mais do meu trabalho, eu escrevo para site ArteCines e semanalmente falo de cinema no meu Canal no Youtube

Forte abraço e até a próxima.

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