Crítica: Sense8 – Especial de Natal
“Sense8 – Especial de Natal” continua a série e funciona como um episódio entre temporadas que retoma a conexão dos personagens.
Cerca de um ano e meio após ter sua primeira temporada lançada na Netflix, a segunda temporada ganhou um início diferente por meio de um episódio especial de Natal (o restante será lançado em Maio).
Em vez de parar no tempo para apenas mostrar os personagens celebrando o Natal, o roteiro de “Sense8 – Especial de Natal” não hesita em mostrar os personagens caminhando com suas histórias, centralizando a temática na conexão e empatia entre as pessoas. Por isso, é interessante que uma das cenas do começo do episódio mostre Hernando em uma aula dissertando sobre o que é arte: “a arte é o amor revelado”. Ele também fala que o que vemos na arte é aquilo que desejamos ver. É claro, trata-se de uma forma simples de criar um diálogo com os próprios críticos à série, que muito falaram sobre o excesso de “orgias” e relacionamento homossexual.
Aliás, todo o episódio “Sense8 – Especial de Natal” busca gerar uma conexão nova com o espectador em diversos momentos. Um deles é a mais uma cena de sexo – suruba! – realizado pelos “sensates” como maneira de celebrar a vida – e desta vez com a presença da asiática Sun e do africano Capheus, ausentes na primeira cena. Em outro momento, Kala conversa com Wolfgang sobre mudar e sobre nossos lados bons e ruins, dando pistas de que haverá mudanças no comportamento dos personagens, o que sempre pode ser bom para gerar novidades – que, vamos combinar, não foi o que vimos neste episódio.
A mudança de ator para viver Capheus pode demorar para acostumar, mas não deve ser um problema, embora seja uma pena que Toby Onwumere tenha tido pouca oportunidade de demonstrar a que veio. Pode ter sido impressão minha, mas parece que o núcleo de Nairóbi esteve mais voltado ao personagem Jela que ao próprio Capheus.
É curioso observar como a mudança de tom da série Sense8 não ocorra com a mesma maestria da mudança de cenas – e essa característica que já estava presente na série permanece em “Sense8 – Especial de Natal”. Enquanto alguns Match Cuts são orgânicos e belamente orquestrados por uma montagem que permite “enganar” os olhos ao mostrar a casa em que Nomi vai se hospedar, seguida da cobertura em que Kala vai morar, por exemplo, o tom de humor na trama de Nomi e Amanita pouco se conecta com a urgência vivida por Will e Riley.
Se fosse um filme, seria altamente criticável a pouca explicação sobre o “remédio” que Sussurros (Whispers é mais legal, né?) toma para evitar que Will faça com ele a mesma tática de descobrir seus segredos. Por se tratar de uma série, sabemos que o tema será explorado mais à frente. Ainda que os acontecimentos sejam lentos e Whispers seja um vilão ainda muito unidimensional, o ator Terrence Mann merece aplausos pela maneira ameaçadora com que compõe o vilão – e a escolha dos óculos que aumentam os olhos é particularmente interessante.
Muitos consideram Sense8 uma série supervalorizada. Pode até ser. Ganhou muitos fãs que se sentiram conectados com os personagens, todos cheios de falhas e transbordando desejos. Mas tem seus problemas, até porque é aquele tipo de série que promete discutir coisas profundas e só chega a um nível pouco além do superficial. Mas está muito longe de ser “um pretexto para a putaria”. Pelo contrário: é sensível mesmo quando escorrega no melodrama (devidamente mexicano!) e mostra às pessoas que o que temos em comum é muito mais importante do que aquilo que temos de diferente – mensagem que pode parecer banal, mas é primordial nos dias atuais.
Mesmo assim, aguardaremos ansiosos por Maio.
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Resumo
É curioso observar como a mudança de tom da série Sense8 não ocorra com a mesma maestria da mudança de cenas – e essa característica que já estava presente na série permanece em “Sense8 – Especial de Natal”.