Crítica: Invocação do Mal 2 (2016)
Invocação do Mal 2 dá mais susto que medo, mas ainda assim é um bom filme.
Ficha técnica:
Direção: James Wan
Roteiro: Carey Hayes, Chad Hayes, James Wan
Elenco: Patrick Wilson, Vera Farmiga, Madison Wolfe, Frances O’Connor, Simon McBurney
Nacionalidade e lançamento: E.U.A., 2016 (09 de junho de 2016 no Brasil)
Sinopse: baseado na história real do casal Warren que, em 1977, tem mais um caso para lidar. Desta vez, a dupla que caça atividades demoníacas, tem que ajudar uma família na Inglaterra está sendo atormentada por forças desconhecidas e corre sérios perigos.
Ao ver um filme de terror você prefere sentir medo ou se assustar? Sim, são coisas diferentes…. Sentir medo é estar absorvido por aquela atmosfera, ficando com aquelas imagens na cabeça e pensando naquilo posteriormente. Em geral, nestes casos, o terror é sugerido. Já o susto ocorre quando é jogado um elemento na tela com o intuito de te pegar desprevenido e você dar um saltinho na cadeira – por vezes gerando algumas risadas depois – sendo, portanto, passageiro. O Invocação do Mal de 2013 é mais eficaz em dar medo que este. Já Invocação do Mal 2 usa mais o susto como elemento motriz, ainda assim tem uma atmosfera convincente.
Em Invocação do Mal 2, tal qual no anterior, temos vários elementos clichês de filmes de terror: o porão escuro, crianças vendo assombrações, uma casa velha, entre outros… A maioria deles até que funciona bem e tem valor narrativo. Por outro lado, outros clichês não tem bom resultado. O abuso de jumpscares é um deles. Quando o filme se pauta nesse artifício vira uma muleta fácil e preguiçosa. A outra coisa que irrita é a “burrice” de alguns personagens… por que o cidadão vai descer as escadas sozinho sabendo que tem um bicho feio no andar debaixo? Chama o resto da família e vai todo mundo… Em Rua Cloverfield, 10 (que, claro, não é um terror) os participantes são mais ativos neste sentido.
A história agora tem alguns elementos mais interessantes. O casal Ed e Lorraine Warren quer se afastar do conturbado mundo das investigações paranormais após estarem presentes no famoso caso de Amityville (a cena de terror no local é uma das melhores do filme). O chamado de uma família indefesa, na Inglaterra, coloca uma dúvida neste posicionamento deles. A família em questão são os Hodgsons. O pai acabara de largar a esposa e não paga pensão há meses. A mãe, Peggy, e quatro crianças: Janet, Margaret, Billy e Johnny passam por dificuldades financeiras. O que suscita discussões se eles estão forjando os cenários para ganharem dinheiro. Esse elemento, se eles estão ou não mentindo, arranha alguns momentos positivos, mas no geral não convence.
Dos personagens sem dúvidas que Janet é a mais interessante. A jovem de 11 anos tem uma certa contextualização no começo e um baita desenvolvimento – toda a história gira em torno dela. Vemos a personagem evoluir e sentimos muita empatia pela situação que ela vive. A atriz inclusive é um dos elementos que faz a nota subir. Madison Wolfe (Trumbo e Joy) tem muito material para trabalhar e transita entre o drama e o terror de uma forma esplendida.
Os demais filhos tem um ou outro momento, porém estão lá só para fazer número. Os vizinhos servem como vizinhos apenas. O casal principal do outro filme (neste dá para colocar Janet como protagonista) ainda tem química e funciona, mas o resultado não é tão bem apresentado como no anterior. As figuras demoníacas – em boa parte do filme em parceria com Janet – são bem caracterizadas e alternam bons e maus momentos. Dentre elas, o velho Bill Wilkins é o que traz mais elementos instigantes.
A trilha me causou sentimentos dúbios. As músicas cantada/tocada são boas e condizentes com as cenas – fazendo parte da contextualização da época. Há inclusive elementos diegéticos bem presentes, esse fator pode até entrar na conta do bom design de produção também. Já a parte instrumental nas cenas de impacto não funcionou bem. Normalmente critico filmes que usam a trilha para dizer que sentimento você deve ter na cena a seguir. Aqui o problema foi o oposto: elas entravam um segundo depois. Eu já tinha tomado o susto, o mostra já aparecera e só então vem o som.
A direção de James Wan (Invocação do Mal 1 e Jogos Mortais 1 ) se caracteriza por bom manejo da câmera em movimentos circulares e na apresentação do interior da casa, esta utilizada com planos sequências bem pontuados. O suspense é por ele melhor desenvolvido que o terror. Até mesmo quando o suspense entra no elemento aterrorizante ele dá mais viço às figuras fantasmagóricas. Há poucos alívios cômicos, mas que são utilizados de forma bem precisa e funcionam como tal.
Invocação do Mal 2 tem uma longa duração (mais de 2 horas) que se mostrou desnecessária. Um tanto inferior ao longa anterior – mas só porque considero o de 2013 um excelente filme – porém apresentando boas cenas e um filme que passa longe de ser desastroso. Ao contrário, pode ser considerado um dos melhores do ano no gênero, ainda perdendo para o controverso A Bruxa. Vale muito o ingresso e tentem ir numa sala vazia para ajudar na imersão – e evitem, sempre mais em terror mais ainda, conversar no cinema.
[o trailer não traz spoilers e constrói uma boa atmosfera]