"Paris, Texas" - (1984) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

“Paris, Texas” – (1984)

A imensidão do vazio e da seca são o habitat de um homem perdido com sede. Travis (Harry Dean Stanton) é um errante perdido no tempo de suas lembranças, de seu corpo, de seu passado. A estrada é seu círculo de vida; a trilha do trem é o caminho para o destino de sua origem: Paris, Texas. Ilusão? Talvez! A exaustão de sua pessoa perante os problemas de uma civilização fazem de si um nômade nascido da pueril cidade vazia de areia: a invisibilidade.

Sua sensibilidade ao preço do silêncio condiz com sua psicologia de vida. Atualmente há tantos roteiros e narrativas que se perdem dizendo muito quando na verdade, por si só, podem dizer muito sem dizer nada, isto é, uma só palavra. O disparate de sensações é claro quando temos desde o início uma árida paisagem quente de dia e fria durante a noite, até o ponto em que os outdoors e as luzes passam a escurecer o deserto e iluminar a sociedade civilizada: Los Angeles.
A fotografia guardada por tempos numa carteira velha num saco plástico o qual Travis carrega por todo canto, diz respeito ao quanto tal personagem pensa sobre o lugar. Após quatro anos andando pelas imagens de suas vontades e imaginações, ao invés de sentir falta de um papo, pelo contrário, permanece calado até que seu irmão, Walt (Dan Stockwell, de Quantum Leap) aparece após receber uma ligação de quem o encontrara. As trocas cênicas escritas por Sam Shepard trazem, junto à visão cinematográfica de Wim Wenders e das cordas da guitarra de Ry Cooder, ao filme e para nós, a conexão de dois personagens que não se vêem há quatro anos e para quem os vê de longe, como espectadores, sentimos como se estivéssemos viajando junto, no banco de trás do carro, mas só como observadores. Tudo a partir dessa viagem, a qual tem por busca respostas de resoluções de um passado distante, tem em si algo de peculiar, simples e de amor. Vamos conhecendo melhor sobre a personalidade de Travis, visto que em alguns momentos duvidamos de seu caráter, e em outros, o adoramos. É belo, atraente e orquestrado de forma sutil e poderosa.
Nota: 5

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