Trash Freak #12: O que há, Tigresa? A estreia de Woody Allen, o primeiro troll a fazer sucesso com redublagem
Ficha Técnica
Título: |
What’s Up, Tiger Lily? (Original) |
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Ano produção: |
1966 |
Dirigido por: |
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Duração: |
80 minutos |
Gênero: |
Comédia |
Países de Origem: |
Estados Unidos |
Um dos clássicos da zoeira na internet é a redublagem. Com muita criatividade e um microfone, dubladores de ocasião transformam filmes, seriados e desenhos em paródias sensacionais. Se redublagem para fins humorísticos fosse um esporte olímpico, o Brasil ganharia tudo. Bátima e a Feira da Fruta, os clássicos da Disney em versões (+18) e o canal Vai Seiya, que satiriza o anime Cavaleiros do Zodíaco, já se tornaram pérolas do humor nacional com milhões de visualizações e compartilhamentos na rede.
Mas quem foi o pioneiro da zoeira? Quem foi o primeiro cara que teve a ideia de escrachar um filme através de uma redublagem tosca criando uma comédia? Na terra do HueHue Br, a lembrança recente é do grupo Hermes e Renato e seu saudoso humorístico Tela Class exibido na MTV Brasil, entre 2007 e 2008.
No mundo, o primeiro caso de sucesso de uma redublagem para fins comerciais foi assinado por um diretor que fazia sua estreia no cinema. Um comediante de stand-up novaiorquino famoso na cena local, mas, até então, desconhecido do grande público americano dos anos 60.
…um certo Woody Allen
Na década de 60 era comum nos Estados Unidos pequenas produtoras se aventurarem a comprar direitos de filmes japoneses para lançar em cinemas populares. Muitas vezes, os enredos sofriam adaptações para agradar ao público americano. Mais ou menos como acontecia com os Supersentai japoneses que na terra do Tio Sam se transfiguram em Power Rangers.
No final de 1965, a American International Pictures, uma produtora já extinta, adquiriu os direitos de um filme chamado Kokusai Himitsu: Kagi no Kagi, uma cópia chinfrim do 007 recheada de efeitos duvidosos, histórias forçadas e nudez feminina. Já levando em conta que o investimento de 65 mil dólares muito provavelmente seria perdido, alguém sugeriu que se transformasse o filme numa comédia. A Ideia louca foi aceita e a responsabilidade ficou nas mãos de Woody Allen, um roteirista recém-contratado pela pequena companhia por conta de seus dotes humorísticos.
Pouco tempo depois, Kokusai Himitsu virou ‘‘O que há, Tigresa?’‘. O enredo original de espiões que procuravam um microfilme secreto do foi suprimido e transformado na história do agente Phil Moscowitz, um agente recrutado com a missão de encontrar uma receita de salada de ovos roubada de um Sultão pela Máfia Japonesa. Sim, a história é tão sem noção que parece escrita por integrantes do grupo Hermes e Renato, mas não somente o enredo: as dublagens toscas, os cortes bruscos e cenas com edição mal remendada. Tudo tem um ar de saudosismo para quem, assim como eu, era fã do Tela Class.
Se a fórmula da redublagem acabou se tornando um sucesso, o mesmo não se pode afirmar do conteúdo de “O que há Gatinha?”. O filme ficou totalmente perecível com o passar do tempo. Nos oitenta minutos da produção, você consegue dar duas ou três risadas leves de canto de boca. Várias partes da comédia são ininteligíveis e muitas anedotas quase flertam com a xenofobia. As belas orientais, atrizes do original japonês, viram escada para piadas totalmente sem graça e até de certo ponto infantis, que em nada lembram o humor refinado do diretor, uma de suas principais características.
A impressão final é que a estreia de Allen é uma ideia preciosa, mas executada de forma rudimentar, quase que de qualquer jeito. As inserções do diretor que aparece algumas vezes de supetão no filme, sempre de mau humor, é um elemento para suspeitar profundamente de que o mesmo não estava curtindo brincar de redublagem.
Críticas a parte, o fato é que “O que há, Tigresa” surpreendeu e conseguiu, não só recuperar o investimento, como obter lucro para a pequena produtora que apostou na ideia. Depois da experiência inicial bem-sucedida do ponto de vista comercial, Woody Allen foi se estabelecendo como diretor viável em bilheteria ao ponto de lançar um filme a cada 15 meses em média, numa das mais respeitadas filmografias da história do cinema. Nunca mais o velhinho mexeu com redublagem, mas valeu pela centelha inicial para outros aperfeiçoaram a ideia!