"Amor Pleno" - (2012) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

“Amor Pleno” – (2012)

To The Wonder: Escrito e dirigido por Terrence Malick

O trem parte de um ponto desconhecido para um lugar incerto. O meio do caminho é a ilusão, o êxtase do amor: o simples, a sinceridade, o sorriso ingênuo. Os toques no ombro, os dedos que passam pelas orelhas, os suaves resquícios de um passado não mais existente; é o instante que vive e não há futuro e nem presente. O estado estático dinâmico dos olhares torna o francês rebuscado em inglês de verão; o sol brilha à paixão dos amantes. A calmaria que se estabelece é questionável, apaziguadora, transparente: ”How calm she is in love”

A estrada granulada pela neve, o frescor do ar puro e gélido do quente respirar diante de tanta delicadeza, transforma-se em meros pingos de chuva num lamaçal de grama num entardecer. O jardim preenchido de cores junto ao silêncio do amor, ao passo do tempo, representam o que ali se dá, isto é,  um beijo fotografado em rosa. A dança dos pés rodeia o paraíso de água, areia e solidão perante o gigante horizonte que a rodeia. O amor platônico o qual gera dois em um, e muito mais que o reconhecimento de si no outro, distancia o diferente, amarga o inesperado, angustia o presente.
O frio torna-se quente. O mar e o gelo tornam-se pasto e o olhar de esperança, inevitável. As brincadeiras persistem em brincar com o embaraço adulto de ser criança, mesmo que por momentos; o carpete, quente, esquenta os pés dele que atenta-se à estar diante daquela que o ama.
“What is this love that loves us?”
O canto, as flores do campo junto ao correr de menina alegre, extrovertida e feliz, compõem o adereço permanecente do amor. Sente-se o carinho leve e doce do amante quando diz que ela, à filha de seu amor, é também sua. Ela escreve seus pensamentos com os dedos e questiona sobre o que é amar. Uma nova vida engatinha pelo quintal, ela sorri, distrai as preocupações dos adultos ocupados com suas vidas; é ela quem faz deles mais vivos, porém é instantâneo.
“I write on water what I dare not say”
A música e o calor do feixe de luz solar que entra forte pela janela trazem de novo um frescor perdido no tempo. Beijos, abraços, sexo. Dúvida. As discussões em volume alto, as gritarias de uma paixão já dura, fria; é preciso esquecer esse momento quando não se quer ouvi-lo. O matrimônio alheio expõe os sentimentos daquele que o realiza. A melancolia que preenche seu ser vai além do vestido branco e dos felizes sorrisos de quem o rodeia: solidão.
O silêncio desconstrói a esperança do amor sem fim. O não dizer, o fingimento de algo que não existe costura o pano já sem cor e sem umidade: seco, duro, arenoso. É um antigo amor que rejuvenesce sua vida. A chuva no espelho molha à indecisão, à incerteza do que fazer: “What do you want?” Vem cá e diz que me ama. Deitar-se ao dormir do sol, juntos, quando o toque de suas mãos toca meu rosto gélido pelo vento forte abrindo mão do que virá a seguir. O que basta é o agora.
Ele tem medo da permanência sem mudança, sem outro alguém, ou talvez, um medo de se entregar completamente aos braços de quem já se entregou por ele. Cada tecla do piano diz uma nota de pesar e de tristeza diante de tantas dúvidas e escolhas a serem tomadas. O amor cristão acaba sendo um reflexo do amor uníssono de Platão, que na fala de Aristófanes, temos o argumento do um, ser o casal, isto é, uma das  partes deixa de ser uma parcela e passa a ser o inteiro, mas esse inteiro só existe se a outra parte também o ser; há uma dependência apaixonada dos amantes.
“Alone
No fim queremos e desejamos a liberdade, o liberto, àquele torpor de consequência que nós mesmos causamos, contudo, não é o que acontece. Não vivemos num mundo onde os instântes são somente nossos, pelo contrário, os trocamos uns com os outros, ainda mais quando estamos apaixonados; até queremos doar mais do que podemos, dar mais do que queremos interiormente.
“Open me. Enter me”
É o que quero.
Nota: 5

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