Trash Freak #10: Black Dynamite, Blaxploitation, Black Power, Black Homenagem, Black Paródia, Black Zoeira…
Ficha Técnica
Black Dynamite (EUA, 2009)
Direção: Mark Sanders
Roteiro: Michael Jai White e Michael Sanders
Elenco: Michael Jai White, Arsenio Hall, Kim Witley, Sally Richardson, Biron Minns
Heróis politicamente incorretos, tiroteios, brigas de rua, figurinos e penteados à lá James Brown, muita black music na trilha sonora, algumas cenas sensuais, efeitos especiais não tão convincentes. Esses são os ingredientes indispensáveis para se produzir um bom filme de Blaxploitation.
Muito conhecido e rotulado pelas atuações “canastrônicas” de seus atores e pelo baixo orçamento de suas produções, o Blaxploitation, um gênero de filmes ação muito comum nos anos 70 feito para a população negra dos Estados Unidos, tem importância especial para a história do cinema. O Blaxploitation foi um dos principais responsáveis pela primeira popularização de atores e diretores negros no cinema comercial Norte-Americano.
Vale lembrar que em boa parte dos estados americanos, até o fim da década de 60, os negros não possuíam os mesmos direitos civis que os cidadãos brancos. Essa espécie de “racismo legalizado” também se refletia no cinema, um espaço predominantemente caucasiano até o movimento Blaxploitation chegar e chutar o pau da barraca com suas histórias exageradas, gírias de periferia, cores extravagantes e trilha sonora inconfundível.
O Soul Cinema, outra alcunha para nomear o movimento, foi uma espécie de “abre-alas” mostrando que os afro-americans, apesar de restrições orçamentárias consideráveis, também podiam fazer cinema comercial. Os anos oitenta marcaram o declínio do estilo, mas ainda hoje, o Blaxploitation ecoa em trabalho de diretores importantes como Quentin Tarantino, Spike Lee e Mario Van Peebles.
Conhecido por suas performances em filmes de ação, o ator Michael Jai White junto ao diretor Michael Sanders e outros fãs do estilo reviveram os tempos do Soul Cinema através de uma deliciosa paródia lançada em 2009. Assim nasceu Black Dynamite, uma das melhores comédias trash já lançadas em todos os tempos.
Jai White interpreta Black Dynamite, um ex-agente da CIA, Mestre em Kung Fu e sucesso da mulherada, que perdeu o irmão num estranho assassinato. Ele jura vingança e a partir daí se desenrola uma história louca, repleta de piadas nonsense, interpretações regadas de zoeiras e cenas propositadamente mal feitas para lembrar alguns deslizes técnicos que aconteciam em filmes da época.
O enredo sofre reviravoltas à lá Scooby-Doo o tempo todo. O que dá folego para que Jai White e companhia coloquem todo seu arsenal de anedotas chulas em meio a belíssimas citações a clássicos do movimento como Shaft (1971), Sweet Sweetback (1971), Superfly (1972) e Black Samurai (1977). Na esteira do assassinato, Vão se criando tramas paralelas, nada muito complexo, mas que estende a gozação para todos os clichês do gênero.
Nosso herói recebe a missão de limpar a cidade de uma nova droga que está “fazendo a cabeça” dos jovens pobres da periferia. Mas isso não é tudo… Investigando o caso, Black Dynamite descobre uma terrível conspiração de uma organização secreta para encolher o bilau da população negra através da comercialização de uma nova marca de cerveja feita para o público afrodescendente. (Vale a pena assistir para descobrir como Black Dynamite descobre os detalhes da conspiração! Você dará boas risadas!) \o/!
Black Dynamite é daquelas comédias que qualquer spoiler é um crime. O Filme consegue brincar até com a questão mais polêmica do gênero Blaxploitation. Para muitos críticos, o movimento serviu para perpetuar os estereótipos negros perante os brancos… o que é de fato controverso, mas que em Black Dynamite vira ingrediente para construir personagens exageradamente caricaturados e saborosamente engraçados como, por exemplo, uma surreal Liga de Cafetões.
Com orçamento de menos de 3 milhões de Dólares arrecadados através de doações pela internet, Black Dynamite prova que é possível fazer uma paródia e uma homenagem ao mesmo tempo, por mais paradoxal que seja a princípio, sem soar de forma pretensiosa. Vale a pena conhecer esse herói não muito convencional, que tem os anos 70 em suas veias e na sua vasta cabeleira.