Trash Freak #9: Cinderela Baiana, o pior conto de fada de todos os tempos
Se você vive no Planeta Terra é óbvio que alguma vez na vida você já ouviu falar na Cinderela. A história da gata borralheira do sapatinho de cristal é um dos contos de fada mais famosos da humanidade. O que pouca gente sabe é que o embrião da história é um conto chinês, de autor desconhecido, que tem por volta de 3.000 anos. A versão tradicional mais famosa no ocidente foi escrita em 1697 pelo francês Charles Perrault e imortalizada em desenho animado pelos estúdios Disney em 1950, que desde então, virou uma espécie de ícone, uma fórmula pronta para o cinema. Puxe pela memória, certamente você lembrará de algumas comédias românticas “levemente inspiradas” no conto.
Mas, coube ao cineasta brasileiro Conrado Sanchez assinar a versão mais freak da milenar história recontando-a de uma maneira bem peculiar, à lá HueHue BR. O contexto da obra é o seguinte: o ano é 1998 e a dançarina Carla Perez do grupo de Axé ‘É o Tchan’ está em seu auge. Praticamente tudo relacionado a moça vira alguma espécie de produto. Eis que alguém tem a “brilhante” ideia de colocá-la no cinema e assim nasceu um dos piores filmes de todos os tempos.
Assistir Cinderela Baiana deveria ser obrigatório a todo mundo que pretende trabalhar com cinema sob qualquer aspecto. A película é uma verdadeira aula daquilo que NÃO se deve fazer com um filme. Tudo de ruim que você espera numa obra está lá: roteiro ininteligível, interpretações horrendas, edição de cenas sem o menor nexo…
Os primeiros dez, quinze minutos nem são tão ruins e contam uma história comum no Brasil dos anos 70 e 80. A família da protagonista, Carlinha, a Cinderela Baiana, batalha pela sobrevivência no auge do período de seca no Sertão nordestino. O pai da Carlinha sonha em prosseguir seus estudos. Sua mãe é uma beata que trabalha tapando buraco nas estradas por algum trocado para alimentar toda família. A mãe acaba adoecendo e falece vítima de tuberculose. O pai então recebe uma proposta de emprego para trabalhar em Salvador e leva sua filha para morar numa favela na capital baiana.
Passada a “parte séria”, o filme dá um salto no tempo de maneira indeterminada e a Cinderela Baiana se transforma numa mulher interpretada por uma serelepe Carla Perez que sonha em ser dançarina. A partir daí tudo vira uma coleção de memes. Cada cena do Filme é intercalada pela Carlinha dançando algum hit de axé da época. Eis que nossa querida mocinha requebra bastante ao som de Chiclete com Banana, Cheiro de amor, Banda Eva, Araketu, Olodum, Netinho, Mastruz com leite, Luiz Caldas… nem DVD de Zumba tem tanta dança…
Mas, acredite… esse não é o maior dos problemas! Sapatinho de cristal é para os fracos… Sinta só a magia do roteiro: Carlinha então conhece dois vizinhos adolescentes, dentre os quais um é interpretado por Lazaro Ramos estreando nos cinemas, e juntos passam a perambular pelas ruas de Salvador e nas horas vagas dançar em academias, rodas de samba e semelhantes. Ela então é esnobada por um playboy até que seu talento é descoberto por um “excêntrico” produtor velho e milionário que a faz ser a dançarina de axé mais conhecida em todo mundo. (?!?!?!) Numa viagem, ela conhece Alexandre Pires, se apaixona e volta para Bahia para dar um pé na bunda no produtor. Junto ao seu amado e sua trupe, Carlinha embarca, vestida de odalisca, num conversível e resolve ajudar as crianças de sua cidade natal a sair da pobreza através do poder da dança. (?!?!?!) Toda a história, que parece ter sido escrita por um menino de oito anos de idade, é interpretada por uma série de atores sem a mínima preparação artística. A impressão que passa é que selecionaram uma quantidade aleatória de pessoas nas ruas de Salvador e as contrataram para fazer o filme. Tipo assim: “Oi, tudo bem? O que você está fazendo? Vamos ali fazer um filme?”
Olha o naipe das interpretações
A participação da Carla Perez como protagonista dá vergonha alheia e provoca muitos risos involuntários. As pessoas que assistiram “Cinderela Baiana” nos cinemas participaram de um momento histórico: testemunharam o nascimento do pior filme brasileiro de todos os tempos… e certamente um dos piores desde que os irmãos Lumière inventaram a projeção cinematográfica. Ainda bem que as produtoras nacionais tiveram noção do ridículo e a moda de estuprar contos de fada acabou não pegando… Já pensou assistir “Branca de Neve Carioca” estrelado pela Kelly Key ou pela Anitta? Que Maravilha seria assistir “A Bela Adormecida Caipira” interpretada pela Wanessa Camargo…