James Dean: o símbolo de seu tempo
Artigo

James Dean: o símbolo de seu tempo

James Dean, cuja morte completou 60 anos no último dia 30, foi um símbolo de sua época. O astro de vida curta e permanência eterna também foi “imitado” em situações posteriores no mundo do cinema e da cultura pop.

No mesmo período em que o ator se tornou um dos maiores astros de Hollywood, também entravam em cena no mundo do entretenimento Marlon Brando (seu colega do Actor’s Studio) e o lendário Elvis Presley. Os três se tornaram os ícones da beleza masculina, que na década de 50 passaria a seguir um padrão mais delicado e afeminado, em contraponto aos endurecidos protagonistas dos filmes de faroeste, tal qual Clint Eastwood, um ano mais velho que James Dean. Ainda que não fosse tão talentoso quanto Brando, nem tão ubiquamente atemporal quanto Elvis, James Dean foi eternizado, essencialmente, por três grandes sucessos lançados entre 1955 e 1956: “Vidas Amargas” (1955), dirigido por Elia Kazan; “Juventude Transviada” (1955), de Nicholas Ray; e “Assim Caminha a Humanidade” (1956), do diretor George Stevens. Destes, Dean viu apenas o primeiro fazer sucesso, já que morreu antes da estreia dos dois últimos longas.

James Dean tornou-se o primeiro ator a ser indicado ao Oscar postumamente, em 1956, por “Vidas Amargas”, que também teve outras três indicações – e apenas a vitória por Atriz Coadjuvante. Em 1957, o ator chega a uma marca até hoje nunca batida: o único a ter duas indicações póstumas no Oscar, já que o longa de George Stevens, lançado um ano após sua morte, também levou mais nove indicações, vencendo a estatueta de Melhor Diretor. Por mais que James Dean não fosse um mau ator, teria ele ganhado tais indicações se não fosse sua morte prematura? É tão difícil fazer qualquer afirmação sobre isso quanto afirmar que Heath Ledger não ganharia seu prêmio póstumo se não tivesse partido tragicamente antes da premiação do Oscar.

JamesDean_JuventudeTransviada1

Representante dos adolescentes

Ainda que seja considerado “apenas um bom filme” por muitos críticos, “Juventude Transviada” ficou muito mais marcado na memória afetiva do público da época – e dos cinéfilos até hoje. Afinal, o choque de gerações e os medos e angústias do adolescente Jim Stark causaram uma identificação muito forte dos jovens do período, e foram representados, posteriormente, por muitos filmes que mostram a juventude. Não fosse este longa, ao lado de “O Selvagem”, filme com Marlon Brando de 1953, e do fenômeno musical de sobrenome Presley, talvez os topetes acompanhados de jaqueta de couro não teriam se tornado tão famosos. Mais para frente, outros filmes repetiriam algumas particularidades: “O Clube dos Cinco” e outros de John Hughes também comentariam os embates entre gerações nas relações entre pais e filhos.

Nos anos 1990, Leonardo DiCaprio daria voz aos adolescentes rebeldes de sua época em “Diário de um Adolescente” (1995), acrescentando o problema do abuso de drogas, recorrente em “Christiane F.” (ainda década de 80) e “Kids” (1995). O vazio e a dificuldade de ser aceito em um grupo e se encontrar enquanto pessoa, que até o fim do século XX eram descontados na “rebeldia” e nas drogas, configuram algo ainda mais vazio e materialista hoje em dia, na segunda década do século XXI, que trouxe a depressão em “As Vantagens de Ser Invisível” (2012), ainda que um retrato dos anos 90; e o símbolo do vazio consumista em “Bling Ring: A Gangue de Hollywood” (2013); além do brasileiro “As Melhores Coisas do Mundo” (2010), cujo amadurecimento do protagonista já indica as mudanças nas relações com os primórdios das redes sociais e já utiliza o termo “bullying“, nomenclatura que por si só já desafia os jovens a tentarem aceitar as diferenças, tal qual no impactante “Depois de Lúcia” (2013), do México.

 

Morte precoce

Talvez, se tivesse vivido mais, James Dean poderia ganhar outro status. Afinal, grandes astros do passado se tornaram, nos dias de hoje, símbolos da decadência, idosos esquecidos ou atores medianos que apenas se divertem em comédias medíocres. Alguns outros, após escândalos na vida pessoal, recebem o desprezo da mídia. Quem morre no auge fica para sempre no topo – o astro é o 17º maior ator do século segundo o American Film Institute – tal qual a banda brasileira Mamonas Assassinas.

James Dean também recebeu um golpe do destino. Sempre associado ao carro, símbolo do poderio econômico americano na década de 1950, o ator faz a cena de um “racha suicida” em “Juventude Transviada”, e era apaixonado por velocidade em sua vida pessoal. Sua morte em um acidente de carro é tão irônica quanto a perda recente do ator Paul Walker, de “Velozes e Furiosos”, igualmente loiro e de olhos azuis, ainda que de relevância notoriamente inferior.

Como curiosidade, vale lembrar que os três atores principais de “Juventude Transviada” morreram prematuramente e de formas trágicas. Natalie Wood (Judy) morreu afogada em 1981, aos 43 anos, em circunstâncias ainda duvidosas (o caso de sua morte foi reaberto em 2011 e Robert Wagner, seu então marido, é acusado de assassinato). Sal Mineo (Plato), morreu em 1976, aos 37 anos, após ser esfaqueado por um bandido.

JamesDean_JuventudeTransviada2

Deixe seu comentário