Crítica: Ex Machina
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Crítica: Ex Machina

*Artigo sem Spoilers

Dirigido e escrito por Alex Garland, estrelado por Domhnall Gleeson, Oscar Isaac, Alicia Vikander, Sonoya Mizuno, Corey Johnson e Claire Selby. Ex Machina é um filme britânico que foi lançado nos cinemas no dia 24 de Abril de 2015, mas chegou em poucas salas aqui no Brasil.

O filme conta a história de um programador chamado Caleb (Domhnall Gleeson) que é aprovado para um projeto de 1 semana com o gênio excêntrico, Nathan (Oscar Isaac). O projeto consiste em ficarem isolados do mundo fazendo experimentos com algo que Nathan tem desenvolvido independentemente, a inteligência artificial. A personificação deste projeto é Ava (Alicia Vikander), uma android que será submetida ao chamado Teste de Turing para saber se a IA esta realmente consolidada ou não.

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Ex Machina é um filme cínico, e para explicar essa definição vamos ao significado da palavra:

  1. p.ext. que ou aquele que afronta ostensivamente as convenções e conveniências morais e sociais.

Diferentemente de Ela (Her) onde você caminha pelo filme com aquela voz no ouvido em off, e isto te faz sentir o romance, os encantos e problemas que a narrativa traz, em Ex Machina o debate sobre inteligência artificial fica quase velado pelo jogo de xadrez que os personagens vão construindo.

Esse cinismo é aparente de forma muito sutil e que não precisa ser falada, mas sentida. Caleb (Domhnall Gleeson) é pivo de um debate moral sobre a implementação da inteligência artificial que não é falado no filme, ou seja, o debate é silencioso e é visto em gestos, olhares, movimentos, pensamentos e eventualmente em falas, mas o grande charme do filme é justamente deixar a interpretação do “certo” e “errado” nas mãos do expectador.

O Teste de Turing, por exemplo, que consiste em descobrir se uma máquina exibe o comportamento inteligente equivalente a um ser humano, é de uma certa forma, colocado para que nós possamos tirar esta conclusão. O Teste funciona como uma conexão entre Caleb e você, pois juntos, nós precisamos entender o que se passa com Ava e julga-la. Porém o Teste ganha uma dificuldade a mais quando a máquina que estamos vendo, tem o rosto e expressões angelicais, como julgar uma máquina tão humana de forma tão mecânica? Não devemos levar em conta as emoções? Mas que emoções se ela é uma máquina? Mas como pode uma máquina ter um rosto tão familiar e tão humano?

Ex Machina tem um roteiro bastante focado, com narrativas simples e explicativas, porém o charme do filme esta realmente na fotografia e direção de arte. Os detalhes de texturas, articulações, montagem que Ava (Alicia Vikander) carrega no filme é uma mistura de tecnologia e mensagens subliminares cínicas sobre nós, nossa sociedade e nossas relações humanas.

Os 3 personagens centrais estão muito bem representados por Domhnall Gleeson, Oscar Isaac e Alicia Vikander. Domhnall encabeça bem o estereótipo de nerd, virgem, talentoso que irá trazer questionamentos e valores morais ao filme. Oscar da ao seu personagem a força (física e mental) que precisa, além de uma pitada de arrogância. Alicia, talvez a mais desconhecida dos três, consegue equilibrar bem em sua personagem o enigma de personalidade, além da sedução quase mística que uma android poderia ter. Enfim, os atores abrilhantam o filme.

Pesa um pouco contra Ex Machina o ritmo, que talvez tropece nas resoluções, de forma rápida e pouco emotiva. Por tratar da discussão central de uma forma quase velada, temos uma característica muito singular, a racionalidade. Acredito que seja exatamente isso que falte um pouco ao filme, um sentimentalismo, uma emoção um pouco mais pesada que possa trazer a conclusão de forma mais emocionante e menos fria. Sim, é verdade que no final do filme existem 2 cenas que arrepiam, tanto a resolução de Nathan, quanto a de Ava, porém, por termos Caleb, que é o elo emocional de tudo, sendo deixado de lado (literalmente), a parte emocional acaba ficando escondida. Mas nada muito grave para um filme bastante provocativo.

Ex Machina tem uma discussão atual e é feliz justamente por não colocar o filme de forma datada, o que deixa em aberto se tudo que ele narra seria possível no hoje ou no amanhã. Porém seu maior acerto é realmente a discussão silenciosa da moral, e nisso devemos dar crédito total ao diretor Alex Garland, que já tinha mostrado algo semelhante em Dredd por exemplos.

Garland consegue abordar em Ex Machina, problemas como o Big Data, que hoje é produzido pelas Redes Sociais, onde é possível descobrir quase tudo sobre uma pessoa. Aborda também questões feministas e questões de relacionamento humano. Todos os assuntos abordados trazem o filme para muito perto do expectador que acaba ficando com os olhos presos a tela devido tantos fatos verossímeis.

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