Mom - Parte 1: Conhecendo o Seriado e o Gênero "Dramédia"
Artigo

Mom – Parte 1: Conhecendo o Seriado e o Gênero “Dramédia”

 

O Seriado

“Mom” é um seriado da CBS Americana do gênero comédia. O plot se foca em Christy, uma mãe jovem e solteira que precisa lidar com as mais diversas situações. Entre tentar se manter sóbria e a recém-chegada de sua mãe de volta em sua vida, com quem não tem um bom relacionamento, Christy descobre que vai ser avó: sua filha, Violet, está prestes a se tornar mãe aos dezesseis anos, como ela. E isso tudo é apresentado apenas no primeiro episódio, no decorrer da temporada vemos: Bonnie, mãe de Christy, ir morar na mesma casa que ela, Violet lidar com a decisão de entregar a filha para adoção, a constante presença de seu ex-marido, Baxter, que é pai de seu filho mais novo, Roscoe. Tudo isso frequentando regularmente as reuniões dos alcoólicos anônimos.

      

        

 

O seriado estreou em 23 de setembro de 2013, na TV norte-americana. A drama de ficção seriada teve boa recepção de público e crítica, porém, não excelente, tendo 65 como nota média no agregador de críticas Metacritic. Sua terceira temporada está confirmada para novembro de 2015.

A princípio foi falado comédia, mas o show pode ser considerado um misto deste com drama. Não apenas no formado conhecido como “dramédia”, onde os conflitos e dificuldades são amenizados e até transformados em motivo de riso, o que também acontece, mas durante o decorrer das duas temporadas é possível se aproximar dos personagens e se emocionar com os acontecimentos com o avançar da história contada, como detalhado mais a frente.

   

   

Dramédia

Dramédia é o encurtamento da expressão comédia dramática, que por si só, é bem auto explicativa. As histórias desse gênero geralmente trazem assuntos bem sérios e delicados, abordados numa visão cômica. A obra-tema desse artigo por exemplo: uma mãe solteira de 2 filhos, alcoólatra e que se sabota o tempo inteiro… Um prato cheio para um material depressivo, com final onde a protagonista morreria de overdose. Porém, todos os elementos da peça – como roteiro, direção, fotografia e até a escolha do elenco (Anna Faris, Rainha das comédias, por favor) -, seguem uma trilha que termina no riso de quem assiste ao show.

     

Alguns filmes classificados como infantis, tem um grande poder no gênero, só que acabam usando o caminho contrário: usam histórias naturalmente caricatas e infantis – bonecos que se mexem, insetos e animais que falam ou viagens numa casa cheia de balões de festa – para trazerem temas seríssimos como perda, morte, aceitação (dos outros, do eu, do mundo), distúrbios psicológicos, laços familiares, etc.  A pessoa chega no cinema com a expectativa de entretenimento leve e descontraído e sai da sala com reflexões sociológicas que não o abatiam a tempos.

Mas voltando ao nosso objeto de análise, Mom consegue trazer ambos, comédia e drama, bem equilibradas se forem vistas a primeira e a segunda temporada no total. A primeira mais focada na comédia ao decorrer dos seus episódios, talvez para prender o público e gerar empatia com os personagens, e na segunda, gera a impressão de brincar com os sentimentos dos que assistem, trazendo novas personalidades e impressões sobre aqueles personagens que todos julgaram já conhecer. E o enredo, regado a sexo, álcool, drogas e piadas de duplo sentido – ou fazendo referência à falta de tudo isso -, mesmo com seus altos e baixos, merece a atenção do público e da crítica.

     

 

 

Um olhar mais próximo

Podemos notar a presença de certas marcas específicas do gênero sitcom presentes no show, já no episódio piloto. Uma dessas características é a relação de eterno conflito entre os personagens principais, como vemos também em 2 Broke Girls e Two and a Half Man, que são do mesmo criador, Chuck Lorre. O telespectador vê os personagens brigando entre si quase todos os episódios, principalmente Bonnie e Christy, que mesmo quando se aliam com algum objetivo em comum, assuntos menores frequentemente geram uma pequena discussão ou desentendimento.

Nos primeiros minutos do episódio piloto temos uma Christy aos prantos, às beiras de um colapso nervoso, preocupada com o futuro dos filhos, tudo isso ainda servindo os clientes no restaurante, introduzindo drama e comédia na mesma cena. Quando questionada a razão de todas as lágrimas, disse se sentir insultada por terem a chamado de “uma boa garçonete”. Segundo a personagem, ela não cresceu para ser isso, e sim uma psicóloga (mesmo sem ter concluído o ensino médio). E então volta para casa escutando um CD motivacional.

No decorrer das temporadas, com seus altos e baixos, vemos a tradicional risada de fundo das sitcoms, que são resíduos dos programas humorísticos de rádio dos anos 1950, mas também podem ser identificadores de diferentes sentimentos à serem demonstrados, como quando Roscoe, caçula da protagonista, se diz não ser bom em uma apresentação da escola e por isso sua mãe não precisa ir, gerando suspiros caridosos.

    

 

Outro ponto de análise para “Mom” é o forte conteúdo dramático. Para o riso ser provocado, o espectador precisa se distanciar emocionalmente da história e dos personagens envolvidos nela. Mas no seriado, o telespectador consegue, ao mesmo tempo rir das situações dos personagens e se identificar com elas. Isso se torna possível porque nas comédias a atenção do público é desviada das ações e passa a estar nos gestos dos personagens. Para exemplificar, ainda no episódio piloto, em um dialogo entre mãe e filha, Bonnie diz: “Sei que você foi a melhor filha que poderia ser. Meu trabalho é te perdoar e eu perdoo.”. A partir desse ponto, a carga dramática é extremamente forte, mas a tensão se quebra com a reação da outra personagem (acontecimentos prévios e as risadas de fundo também colaboram) e seus gestos, quase caricatos, que provocam o riso em quem assiste ao show.

Christy Plunkett

     

    

A principal protagonista do seriado é uma ex-stripper viciada em bebidas, drogas e jogos de azar, quando não tem nada disso recorre ao prazer sexual, de preferência proibido. Também explosiva, ignorante, por vezes até egoísta. Apesar disso, é uma mãe que tenta se reconectar com sua família, manter seu trabalho que sustenta a todos e ainda se manter na sobriedade, depois de 118 dias afastada de seus vícios (no episódio piloto).

Entretanto, parece que nem os seus parentes ou as situações vão ajuda-la na missão de se tornar uma pessoa melhor. Sua mãe reaparece com o discurso da transformação, e como ela mesma está tentando melhorar, acredita, mas logo flagra Bonnie mentindo. Violet não parece acreditar na redenção da mãe e tem seus próprios dilemas para lidar e não dá muita atenção à Christy. Na contramão, vemos Roscoe, que pelo menos na primeira temporada, parece ser o alívio da personagem.

O passado da agora garçonete também não foi fácil. Foi abandonada ainda no hospital pelo pai, e quase mandada para a adoção pela mãe, que desistiu da decisão um pouco antes de entrega-la. Quando percebeu que tinha todos os fatores apontando na direção de se tornar a mãe que tanto rejeitou, decidiu mudar o rumo de sua vida e deixa isso claro no primeiro episódio.

 


Este é a parte um de dois de um artigo sobre o seriado Mom, da CBS e sua protagonista Christy Plunkett.

Ele foi originalmente escrito por mim para a disciplina “Narrativas e Construção de Personagem”, administrada pela doutoranda em Comunicação Social Jéssica Neri, no curso de graduação Estudos de Mídia, da Universidade Federal Fluminense.

Adaptei o seu conteúdo para a web, de maneira a ficar mais fluído e interessante para o público em geral.

Para maiores informações sobre fonte, bibliografia, etc, é só adicionar um comentário no final da página.

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