Trash Freak #3: Planeta Terror, uma ode ao Trash, dirigida por Robert Rodriguez
O Trash e seus derivados provocam muita polêmica entre os cinéfilos. Há quem considere legitimas manifestações da cultura pop. Existe um lado mais arredio da crítica que observa o estilo como simplesmente um grande deserto intelectual caça-níquel. Polêmicas a parte, um fato é inegável: desde que os irmãos Lumière inventaram o cinema, as “histórias malucas” saíram do mundo literário, lugar onde viviam, e ganharam uma nova perspectiva aproveitando-se da capacidade única da sétima arte em lidar com o movimento.
Esse ímpar modo de cinegrafia é o exagero em essência e de uma forma bem peculiar tem influenciado muita gente em diferentes campos das artes. Na literatura, Chuck Palahniuk (Clube da luta) é um bom exemplo. Na música, sobretudo no rock, os Punks Ramones e o pai do Metal, Ozzy Osbourne já falaram abertamente da influência trashfilm em suas obras. No cinema, muita gente boa, como Burton, Del Toro e Tarantino, vai beber dessa fonte de tempos em tempos.
Quando o assunto é beber da fonte trash, um nome se destaca em Hollywood: O texano Robert Rodriguez que, sem medo de ser feliz, toma verdadeiros porres desse tipo de estética. Para deixar bem claro toda influência e apreço, o diretor presenteou o gênero com uma espécie de ode cinematográfica ao lado B do cinema, o filme Planeta Terror (2007).
A obra faz parte de um projeto, em parceria com o Tarantino, para emular para uma nova geração de espectadores o que seria uma sessão nostálgica de Filme Trash nas décadas de sessenta e setenta. Nascia então o Projeto Grindhouse, que conta também com a película ‘A prova de morte’, de Quentin Tarantino.
Nos pouco mais de 80 minutos de Planeta Terror, Rodriguez nos brinda com uma paródia sobre zumbis e armas biológicas. Um Casal de médicos, William (Josh Brolin) e Dakota Block (Marley Shelton) vão para aquilo que seria mais um dia comum numa emergência de um hospital, quando são surpreendidos por uma série de casos de uma doença desconhecida. A enfermidade é fruto de uma operação militar mal sucedida que espalhou no Texas, uma arma química, um gás que transforma quem o inala em zumbis famintos por gente.
O que poderia ser somente mais uma história clichê de apocalipse zumbi ganha uma roupagem alucinante. Rodriguez recheou a trama com algumas de suas principais caracteristicas: muita ação, cenas que abusam da ultraviolência em tiroteios insanos e bastante humor negro… (algumas tiradas são bem pesadas quem lembram o estilo da sitcom Family Guy.) tornando o filme difícil de se passar batido.
Um grupo de sobreviventes vai reagir ao apocalipse zumbi e suas implicações. Um motoqueiro especialistas em armas, uma stripper aspirante a comediante que perdeu a perna num acidente e coloca uma metralhadora como prótese, (É isso mesmo, você não leu errado… ela tem uma metralhadora como prótese), duas babás gêmeas de origem latina que brigam por tudo, uma médica adúltera e lésbica, um xerife bem genérico de um filme dos anos oitenta, e um dono de bar que busca a fórmula para o churrasco perfeito formam o grupo de sobreviventes, uma paisagem cinematográfica ideal para Rodriguez brincar de fazer cinema.
O desenrolar dessa história é bem legal e uma homenagem bacana ao estilo. É perceptível citações a grandes nomes lado B como George Romero, Lloid Kaufman e Roger Corman. Confesso que esperava um pouco mais do final, que é bem previsível, mas talvez tenha sido feito de maneira proposital (não tenho opinião formada ao certo.), mas ele não chega a tirar os méritos de Planeta Terror que ultrapassa os limites de uma simples homenagem.
Planeta Terror é uma obra que exalta e exala a alma trash. O exagero, o non-sense, o canastrice estão lá elevados a décima quinta potência por um diretor que se diverte bebendo nessa fonte torrente e regurgitando para o mercado algo totalmente original. Se você não curte exageros, roteiros malucos ou se importa com piadas e cenas fortes… passe longe da película! Mas se você gosta de um bom podrão, Planeta Terror é indispensável para você… E uma boa oportunidade para adentrar na interessante filmografia de Robert Rodriguez que vai muito além da estética trash.
PS: O Ministério do Cinem(ação) adverte: caso você venha a se aprofundar na Obra de Robert Roriguez, fique longe de um filme chamado “As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl “