Trash Freak #2: Rubber, a história de um pneu stalker que explode cabeças… ou manifesto de um Não-Filme
Qual o motivo para alguém fazer um filme onde o protagonista é um pneu que misteriosamente ganha vida no meio do deserto americano e descobre ter poderes paranormais? Ainda tem mais… se eu te disser que esse pneu se sente descartável pela sociedade e começa uma matança desenfreada explodindo cabeças de pessoas numa cidade do interior… até conhecer uma bela garota misteriosa, se apaixonar e virar um stalker… (?!?!?!?!)
Nos primeiros minutos de “Rubber, o pneu assassino” (2010), a produção nos fornece uma pista sobre a motivação de se fazer um filme desse tipo. Uma resposta cínica através do protagonista humano do filme, um xerife interpretado por Stephen Spinella, que provoca toda motivação de se fazer cinema. A cena é um monologo honesto que revela o espírito da produção e um aviso daquilo que está por vir nos oitenta minutos seguintes.
Municiado pela ideia de fazer um não-filme, o roteirista e diretor francês Quentin Dupieux distribui, no maior estilo ‘‘sem querer… querendo’’, uma série de cacetadas na indústria cultural hollywoodiana e em alguns dos seus maiores clichês. Quem espera encontrar um trash de fácil digestão, como Sharknado ou Tomates Assassinos, vai se surpreender em assistir um metafilme com humor negro, à lá Monty Python, sacárstico, mas totalmente despretensioso como um não-filme deve ser.
Dupieux insere uma trama secundária que se transforma numa metáfora muito inteligente da nossa sociedade do espetáculo. Um grupo de espectadores acompanha as peripécias do pneumático Rubber do alto de uma montanha, ao relento, através de binóculos, 24 horas por dia. O filme prossegue enquanto tiver pessoas acompanhando as tosquices da película. Numa certa hora, as histórias acabam se cruzando e o resultado é um final deliciosamente delirante.
Paradoxalmente ao que a história deveria sugerir, falta ação no filme… algumas cenas são bem arrastadas. As atuações dos atores principais são dignos da escola Tara Reid de dramaturgia… o que por incrível que pareça, não atrapalha o roteiro, já que a premissa é fazer um não-filme. Talvez se fosse um média ou até um curta-metragem, a obra seria épica. A fotografia e, principalmente, a trilha sonora são muito bem-feitas… já os efeitos especiais são daquele jeito, né? (Bizarros para nossa alegria!)
De um grupo de dez mil pessoas, talvez uma ou duas consigam assistir os dez primeiros minutos de Rubber, o pneu assassino. Convenhamos que fazer um trash-cult com roteiro louco desses não é muito palatável… A atuação do Pneu Rubber, nosso astro-mor, não é das melhores. No máximo vai conseguir uma ponta em alguma novela do Manoel Carlos.
Já o diretor Quentin Dupieux promete. Ele é arrojado e muitíssimo cara de pau! Uma promessa que deve amadurecer e fornecer coisas boas tanto no cenário mais trash quanto no circuito mais comercial. Em Rubber, Dupieux passeou na tênue linha entre o genial, o esquizofrênico e o ridículo criando assim um dos melhores não-filmes de todos os tempos. O Bizarro filme do pneu sociopata é um experimento, um manifesto não-filme onde tudo é permitido.
Mas para trabalhar com filme, o cineasta francês vai ter que se moldar a uma máxima remetida num antigo slogan de uma fábrica de pneus italiana: “Potência não é nada sem controle.”
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