Crítica: Viagem a Darjeeling
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Crítica: Viagem a Darjeeling

por Bárbara Pontelli

Viagem a Darjeeling

Lançamento: 2007

Direção: Wes Anderson

Roteiro: Wes Anderson, Roman Coppola e Jason Schwartzman

Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited) é uma comédia dramática produzida por Wes Anderson no estilo road movie, ambientada na Índia. Vale destacar que o filme tem uma “introdução” no curta Hotel Chevalier que comento mais adiante. (vide final do texto)

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Em Viagem a Darjeeling, temos a trama desenvolvida sob essa curiosa viagem que os irmãos Jack (Jason Schwartzamn), Francis (Owen Wilson) e Peter (Adrien Brody) toparam embarcar. A ideia é liderada por Francis que busca, principalmente, reerguer o laços entre os irmãos somada, ainda, à tentativa de auto descoberta e motivação frente à morte recente do pai. Assim, não há destino mais propício que a mística e excêntrica Índia que, mostrada sob as lentes de Wes Anderson, vai transbordar beleza e questionamentos da condição humana.

Então, o que era para ser uma viagem cuidadosamente planejada – recheada de visitas a templos e com o objetivo final de encontrar a mãe – acaba por tomar um outro rumo, onde situações impensáveis irão confrontá-los à encarar suas perdas e angústias pessoais. Sobre a mãe deles Patrícia (Anjelica Huston) – após uma crise existencial, resolvera viver reclusa nas montanhas do Himalaia sem ao menos manter contato com os filhos – daí o destino final dos irmãos, ou seja, reencontrar a mãe. O tom fica ainda mais dramático ao considerarmos as crises internas pelas quais cada um dos protagonistas vivenciam: Peter vive em um casamento fracassado e, em vias de pedir o divórcio, descobre que a esposa está grávida. Jack sofre com a inconstância de um relacionamento incerto e instável e Francis sofrera recentemente um acidente de moto que lhe renderam diversos ferimentos, marcas e cicatrizes no rosto. Eis as circunstâncias ideais que motivaram os protagonistas rumo à um destino tão sugestivo: busca-se ao menos tentar entender ou aceitar algumas situações que a vida os fizeram engolir.

Paralelamente, Wes Anderson acaba presenteando o próprio espectador com essa viagem. As cenas – quase todas rodadas no noroeste da Índia, no deserto de Rajasthan – são simples porém muito lindas; uma Índia cômica e singela mas nem por isso menos atraente. O colorido dos figurinos em meio ao marrom do deserto, a alegoria ao místico sempre presente e a cultura tão expressiva, nos transporta para essa busca espiritual junto aos irmãos. A viagem de trem é temperada com um humor muito divertido bem típico de Anderson.

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Em diversos momentos é difícil não se emocionar. Seja no episódio em que os irmãos pulam para salvar as crianças no rio e os acontecimentos seguintes…seja na dor de cada um deles. Tão fácil encontrar alguma identificação. Anderson joga a ideia do tipo “quem nunca esteve em uma fase em que tudo parece dar errado e a vida ainda surpreende com mais alguns golpes implacáveis”. Os protagonistas são compelidos a lidar com tudo isso – além da perda em comum do pai. Na verdade, essa viagem parece ser uma tentativa de encontrar um sentido para a vida. As respostas aparecem nos pequenos detalhes, sutilmente, em pequenas situações.

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Particularmente, a cena do encontro com a mãe é de uma sensibilidade e delicadeza lindíssima. A opção pelo silêncio e o foco nas expressões e no olhar, de fato, valeram muito mais que um diálogo longo e dramático. Wes Anderson tem esse feeling de jogar as imagens no lugar das palavras no momento exato e preciso. E eis um grande acerto! As cenas seguintes – referente às montagens nos vagões do trem – são lindas…não tem como não se emocionar. As cores e os enquadramentos de Anderson são sempre um assunto a parte, como sempre espetacular!

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No final, embora a viagem não tenha saído exatamente como Francis planejara, acho que todos os personagens conseguiram o que buscavam. A barreira existente entre os irmãos foi partida, houve o reencontro com a mãe e, principalmente, entraram em contato com experiências que certamente os levarão a encarar a vida diferente. Pesos são desnecessários. Eventualmente, é preciso deixar algumas lembranças para trás…algumas delas não precisam ser carregadas sempre pois estagnam a vida e é preciso vivê-la o mais intensamente possível, já que ela é breve.

<3 Sempre muito grata pelos bons filmes de Wes Anderson!

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***Hotel Chevalier

HOTEL CHEVALIER

Hotel Chevalier seria um prólogo do filme Viagem a Darjeeling e foi exibido na maioria dos cinemas antes do início do filme. Curta de aproximadamente 13 minutos, mostra um dos irmãos – Jack – deprimido em um luxuoso quarto de hotel em Paris quando recebe, inesperadamente, a visita da sua “namorada” – Natalie Portman. Aparentemente, o relacionamento entre eles caracteriza-se pela inconstância da garota e por mais alguma problemática que não chega ser exposta claramente. O curta servirá de peça chave para algumas pequenas situações que mais tarde acontecem em Darjeeling além de ter sido alvo de um pouco mais de atenção por parte de Wes Anderson em mostrar a crise pela qual o irmão Jack passa. Claro que eu teria adorado que tivesse virado tema para um único e exclusivo filme sobre eles, mas não foi o caso. A vista de Paris…a sincronia dos movimentos… a trilha sonora Where do you go to (My lovely)…resulta numa coisa ultra melancólica mas muito linda. Deve ser conferido, embora a pouca duração, as breves imagens conseguem dar conta do recado.

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