ROCHA )S( #03 - "De Bertô ao Sonho Glauberiano"
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ROCHA )S( #03 – “De Bertô ao Sonho Glauberiano”

Isabelle, Theo e Matthew.

– Três “SONHADORES” atraídos pelo cinema e uns pelos outros.

Alice, Cadú e Arthur.

– Três “AMADORES” atraídos pelo cinema, uns pelos outros e por Glauber Rocha.

 

Pode provocar certa estranheza um curta metragem ter ancorado em seu roteiro e personagens, uma alma tão nacionalista (quem acha que verá índias, belas paisagens, favelas e seus derivados, ledo engano) ser fruto de uma película que traz em sua origem três nações-berços do Imperialismo (Itália, França e Reino Unido).

“Os Sonhadores” (2003), do consagrado diretor italiano Bernardo Bertolucci, foi a inspiração para mim – um pré diretor – criar o roteiro de “Uma Câmera na Mão… Duas Paixões no Coração” (primeiro nome de batismo).

 

O triângulo amoroso formado pelos gêmeos franceses e pelo imigrante americano foi o ponto de partida para a construção dramatúrgica do curta, que tem como premissa dramática a história de três estudantes de cinema, que criam uma relação de intimidade, e compartilham uma admiração in (comum) pelo cineasta de suas vidas, Glauber de Andrade Rocha.

Mas, chegar ao mestre Glauber como nó entre ELES não foi algo instantâneo. Inicialmente, pensei em um cineasta para cada amador. Fernando Meirelles, Walter Salles, Bruno Barreto… Mas, se propor a falar de vários pode levar a se falar de nenhum, e a ideia foi em seguida descartada.

 

Declarei aberta a temporada de caça!

Qual cineasta brasileiro de real importância e significado para a produção cinematográfica nacional, faria jus a tal referência?

– Se eu falar que desde pequeno era fã do revolucionário e contraditório Glauber, estarei ressurgindo a farsa do texto anterior. A única coisa que sabia sobre esse filho de Vitória da Conquista era: Glauber, do Deus e o Diabo na Terra do Sol. Só e mais nada.

Bebi na fonte do comodismo moderno, de nome Google, e lá comecei a pesquisar os grandes cineastas brasileiros. Foi então que redescobri as reticências do cineasta, crítico, pensador…

Sua história, sua trajetória como cineasta e grande defensor do cinema nacional, além da inegável contribuição na formação da cultura brasileira.

Munido das incertezas do mundo virtual, mergulhei mais a fundo na história do menino que não é o Grapíuna – como no conto homônimo do grande Jorge Amado -, mas que desde pequeno mostrava ser dono de grande persona.

 

– Está aberta a temporada (glauberiana) de caça!

|| TEMPO GLAUBER ||

 

Centro cultural que mantém vivo todo o acervo do cineasta (fotos, textos, poesias, manuscritos, desenhos). Tesouro que deixa ainda mais explícita toda a versatilidade de um artista a frente do seu tempo, sem tempo.

Fiquei indignado ao saber que o órgão responsável por guardar e tornar domínio público o legado deixado por um de nossos maiores artistas, se localiza na Rua Sorocaba, Nº 190 – Bairro de Botafogo na cidade do Rio de Janeiro.

Qual a justificativa para o desencontro geográfico?

Pergunta que não me cabe responder, mas como cidadão e brasileiro sinto-me no direito de questionar.

Conheci em detalhes a biografia desse gênio e a revolução cultural que a sua diversificada e injustiçada filmografia causou em todo cenário cultural.

 

||Sylvie Pierre¹ – Sidney Rezende² – Nelson Motta³ ||

 

Três biografias que me ajudaram no processo de produção de “Uma Câmera na Mão…” Leituras que me fizeram reforçar ainda mais que as ideias podem ser homônimas, mas a forma com que se aborda é que torna cada obra de arte, independente do gênero, únicas.

Escritores que falam do mesmo “EU” de formas e fôrmas completamente distintas.

O olhar francês é mais imparcial, claro, dinâmico e vez ou outra pragmático; A narrativa jornalística segue um viés mais documental, mostra os fatos, responde as 05 perguntas do jornalismo, evidencia todos os lados da “notícia”; E por fim a publicitária narração feita pelo Nelson, não o Rubens, o Motta (em alguns momentos pode confundir).

A última leitura já se faz convidativa com a capa do livro (desde pequeno me falam que não se julga um livro pela capa, mas nesse caso a capa e toda a diagramação da “Primavera do Dragão”, é um espetáculo à parte). O vermelho da capa remete o inferno. Inferno cheio de filmes estáticos, de estórias desconhecidas e de certo exagero poético, que o diferencia das outras duas biografias citadas anteriormente.

 

|| De Glauber, sobre Glauber ||

 

Bebi na própria fonte, os filmes.

“Glauber, O Labirinto do Brasil” tece uma linha cronológica da sua vida e “No Tempo de Glauber”, do fiel escudeiro Roque Araújo, de uma forma mais informal e intimista revela as facetas do diretor, do homem e do filho da pátria.

Execrada por uns, idolatrada por outros e eternamente dividindo opiniões. Da sua filmografia testemunhei “Barravento (que tem grande influência na linha narrativa do curta), o clássico “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e o apedrejado “A Idade da Terra”.

 

|| MEMÓRIA VIVA! ||

 

Da onipresença do www à à magia do folhear de páginas à à viagem imagética, fui beber em outra fonte. Fonte da sabedoria, da experiência, da história, da humildade.

 

– Uma fonte nossa! Uma fonte viva!

 

Viva Roque Araújo, memória viva do nosso cinema.

O primeiro contato com ele foi pelo telefone, o que nos dias de hoje, não é difícil descobrir.

Bastante receptivo, falei brevemente sobre o filme e marcamos um encontro para maiores esclarecimentos.

 

Dizem que quando não sentimos o passar do tempo é porque a conversa foi boa. E realmente foi!

Estórias inesquecíveis, fatos esclarecidos, revelações e curiosidades feitas pela testemunha que acompanhou toda a trajetória, toda a engrenagem.

Roque, com o falar arrastado e uma lucidez invejável, transmitiu um pouco da sua vasta bagagem me fazendo entender melhor o que realmente é respirar cinema. No café, no almoço, no sono ainda que raro.

 

A humildade de Roque me provocou um questionamento:

“Impressiona como tem pessoas – rascunhos de alguma coisa – que se acham o suprassumo da arte. O brasão que carregam no peito com um orgulho narcísico, inflama seus egos.

Enquanto outras – vividas e com a tela já pronta – permeiam humildade no caminhar.”

 

Viva a humildade!

 

¹ – Livro “Glauber Rocha – Sylvie Pierre” || ² – Livro “Ideário de Glauber Rocha – Sidney Rezende” || ³ – Livro “Primavera do Dragão – Nelson Motta”

 

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