Crítica: Beleza Americana
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Crítica: Beleza Americana

Quem nunca assistiu “Beleza Americana” (American Beauty, 1999)? Pois é, um absurdo quem ainda não assistiu. E até domingo passado eu fazia parte desse absurdo. Então, escrevo essa crítica especialmente para quem ainda não viu: deixe de fazer parte desse absurdo também, porque estamos diante de uma grande produção que levou 5 estatuetas do Oscar, incluindo a de Melhor Filme.

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Kevin Spacey, excelente ator que na época já havia desempenhado seu papel de assassino em “Seven – Os Sete Crimes Capitais” (Seven, 1995), atua no papel de Lester Burnham, um pai de família infeliz com o seu trabalho e com a sua esposa (Annette Bening). O casal tem uma filha, Jane (Thora Birch), que está no auge da adolescência com direito a todas as rebeldias específicas dessa idade. Lester é um pai ausente para Jane, e não se encontra satisfeito com isso. Quando o casal decide desempenhar o papel de pais e finalmente vão assistir a uma apresentação de Jane na escola, eles são apresentados a uma amiga dela, Angela Hayes (Mena Suvari). Angela é a representação da típica adolescente loira, popular e “avantajada” da escola. Lester se encanta no mesmo segundo em que coloca os olhos em Angela durante a apresentação, e não faz nenhum esforço para disfarçar e esconder o desejo. Enquanto essa obsessão do pai pela amiga da filha começa a ficar ridícula para Jane, ela se aproxima de seu vizinho Ricky (Wes Bentley), um traficante de drogas que está sempre com uma câmera a postos para filmar mais uma de suas centenas de fitas com vídeos aleatórios.

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Até que ponto somos capazes de imaginar a simbólica família americana sem os seus distúrbios internos? Será anormal um homem possuir desejos sexuais com a amiga de sua filha? Ou será culpa da própria esposa, uma viciada em limpeza e ordenação que vive por se colocar no lugar da vítima, manipulando todas as situações à sua volta? E a filha rebelde? Será só rebeldia da idade ou um reflexo do relacionamento fracassado de seus pais? Sem contar o filho que é traficante de drogas. O pai de Ricky é excessivamente preocupado em controlar as ações de seu filho, sempre desconfiando dele. O orgulho de ter o poder em suas mãos durante todas as situações o consome por inteiro, e, quando uma situação sai do controle, nos surpreendemos com suas atitudes. E isso é claramente notável no final do filme (sem spoilers).

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O diretor Sam Mendes (Estrada para Perdição, 007 – Operação Skyfall) merece aplausos de pé, junto com o roteirista Alan Ball (True Blood). Além da estatueta de Melhor Filme, “Beleza Americana” também levou as de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Ator para o fantástico Spacey. A atuação de Spacey é indiscutível. Você consegue sentir nojo e pena de Lester, ao mesmo tempo. Afinal, a aparência é tudo o que importa?

Wes Bentley (Jogos Vorazes) também merece um destaque especial. O personagem Ricky é essencial para a trama, e só descobrimos o porquê quando o filme está próximo de acabar. A história de vida de Ricky e suas atitudes o levam a se aproximar de Lester, gerando uma incerteza. Sua relação com Jane torna-se cada vez mais profunda e excêntrica, fato que começa a incomodar Angela. Afinal, ela vivia com Jane apenas para brilhar frente à sua sombra.

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“Beleza Americana” vale à pena ser assistido e re-assistido, e digamos que é quase obrigatório. Abordando temas polêmicos, o filme dá espaço para diversas interpretações, e, para mim, essa é uma característica que difere os bons filmes dos ótimos filmes.

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