"The Painted Veil" - O Despertar de uma Paixão (2006) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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“The Painted Veil” – O Despertar de uma Paixão (2006)

Acredito que a trilha sonora de um filme realmente possa despertar um novo olhar diante de um filme. As teclas de um piano soando finamente e de forma cautelosa e melancólica faz com que nos atentemos ao que  está ao redor da música, de suas sonoras e triunfantes notas maiores e menores. Pessoas andam de smoking numa festa para lá e para cá com bebidas nas mãos, rindo, cumprimentando, acenando; até que o encontro de um para o outro acontece numa descida de escada devagar, pura, com um vestido calmo e sereno, para si. O penetrante olhar de um quando encontra o caminho  para onde permanecer intacto com os olhos, para com o outro, faz com que a festa pare como numa pausa dramática, como se só a música continuasse e as pessoas falassem, mas sem ruídos, sem barulho, sem vozes. A primeira palavra quando surge expontânea após um pigarro de garganta que soa como um anúncio do embaraço com que o amante se encontra, pode ser simplesmente um convite, um pedido para uma dança. Os segundos os quais permanecem intactos e perenes no esperar do cavalheiro por uma resposta, denunciam o desejo pela dama, em aceitar o convite formal para dançar.

“Quieto e sério”, qualidades descritas pela irmã da dama no dia seguinte à respeito do homem o qual dançara com ela naquela noite, despertam interesse na família em saber quem o convidou para seu lar e foi seu pai que o fizera. “Ele é um médico”- ele diz calmo e sereno lendo seu jornal ao som da filha tocando piano. A pressão dos pais em manter uma dignidade na sociedade e manter-se inseridos num padrão o qual se pede um casamento de uma jovem com um homem rico e assim perdurar o digno e valoroso nome da família intacto, faz com que questionamentos surjam ao decorrer do lindo piano soando, até que ele encerra numa discussão sobre questões financeiras e dependência. O esbravejar da linda dama ao sair em delírio sem saber o que dizer em busca de um respiro no jardim de sua casa se dá por completo quando encontra com o homem em questão prestes à bater em sua porta com uma caixa de bombons nas mãos. O pigarro e o desconforto bonito e sincero do rapaz pautam na elegância de mostrar-se calmo e seguro, contudo, a falta de respiração e o gestos sem sentido das mãos dizem tudo sem precisar dizer nada com palavras.

Num vilarejo da China onde a realidade é de total discrepância com a qual o casal antes separados e solteiros viviam, a chuva, os mosquitos, o mato preenchem o espaço antes urbano e movimentado de suas antigas realidades. Fazendo o uso charretes, pessoas ao invés de cavalos, carregam-os pelos cantos desse lugar pacato e pueril, de um lugar ao outro, do trabalho à sua nova casa. Um pedido de casamento após uma pergunta singela e simples como: “(…) você gosta de flores?”, demonstra o tanto quanto esse homem está apaixonado por ela, o quanto, mesmo sendo objetivo e direto, diz respeito ao seu caráter e seus desejos como cavalheiro ao abrir seu coração para alguém que ama. À espera pela resposta pode ser uma tortura para ele, o qual não pode esperar muito já que deve, por obrigações de trabalho, partir para a China embora não querendo ir só, uma vez que a companhia da moça é o seu maior desejo no momento. O pedido não tem resposta no mesmo instante, entretanto, quando a dama percebe o quanto sua mãe a deseja fora de casa, o quanto ela se sente feliz ao saber que o rapaz a pediu em casamento ao falar com alguém ao telefone, e a moça, entrando em casa, ouve àquelas palavras difíceis de serem engolidas, perversas e sem sentimento algum de amor para consigo, sai desgostosa da sala em busca de momento e só e de reflexão.

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A intensa chuva, o ambiente monótono e o silêncio tornam as coisas mais difíceis para a dama vinda da cidade grande e agitada como Londres. O vilarejo, para ele, é o lugar ideal para sua pesquisa, para sua escrita na máquina de escrever, para o seu momento de criação, contudo, os pesares pesam muito quando para um as coisas não andam tão bem como pensadas que poderiam ser. Kitty Fane (Naomi Watts), desde sua partida de sua terra natal à uma terra infestada por uma epidemia de cólera a qual seu marido Walter Fane (Edward Norton) está trabalhando no combate e no extermínio, não consegue amá-lo o suficiente ao ponto de se deixar levar por uma paixão fora do casamento por um amigo do casal. A traição de Kitty permanece acontecendo debaixo do teto onde o marido ao voltar do trabalho deita-se na cama aos braços da mulher que passivamente o aconchega com seu abraço tímido e irreal, e as consequências podem ser drásticas tanto para o casamento quanto para suas vidas já que não há mais conversa, troca e amor entre o homem apaixonado e a mulher infiel.

Kitty Fane: “Você não é muito de conversar, não é?”

Walter Fane: “Não”.

Kitty Fane: “Por quê?”

Walter Fane: “Falo apenas o que é necessário”.

Kitty Fane: “Se as pessoas dissessem apenas o que é necessário, a humanidade já teria perdido o dom da fala”.

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