Acusações de plágio de indicado ao Oscar voltam à tona
Voltou à tona, especialmente devido às redes sociais, as acusações de plágio em relação ao livro A Vida de Pi, adaptado para os cinemas como As Aventuras de Pi em filme indicado ao Oscar.
O autor Yann Martel ganhou o Booker, importante prêmio de literatura, no ano de 2002. Desde aquele ano, o escritor canadense, então com 38 anos, foi acusado de plágio.
Em “As Aventuras de Pi”, o jovem Pi se vê em um bote com um tigre após o naufrágio do navio que o transportava da Índia para o Canadá.
Troque Pi por Max, o tigre por um jaguar, e a viagem da Índia ao Canadá por uma viagem da Alemanha nazista ao Brasil. Você então tem “Max e os Felinos”, livro do escritor gaúcho Moacyr Scliar. Toda a questão foi discutida logo que Martel recebeu o prêmio Booker, já que a mídia internacional se interessou pelo assunto, especialmente após um artigo publicado no jornal britânico The Guardian.
Logo que foi questionado por jornalistas, Yann Martel disse que se utilizou da ideia que leu em uma resenha literária, e afirmou que aproveitou uma boa ideia de um escritor ruim. Se não havia lido o livro, como poderia ele dizer que Scliar era um escritor ruim? Talvez não soubesse que se tratava de um dos maiores escritores da literatura contemporânea brasileira. De qualquer forma, mais tarde os escritores teriam se acertado e Martel incluiu um agradecimento a Scliar no prefácio de seu livro.
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De fato, muitos escritores aproveitam-se de ideias vindas de outros para criar suas histórias – um tal de Shakespeare teria se utilizado de uma ideia anterior para escrever “Romeu e Julieta”, por exemplo. E apesar de a premissa e a trama serem parecidas, o romance do canadense é sobre “religião, fé e imaginação”, segundo o próprio escritor, enquanto que a história de Moacyr Scliar é política, e mostra o homem enfrentando a crueldade da ditadura, representada por um felino (e aqui vale lembrar que Scliar, de origem judaica, teve duas grandes ditaduras marcando sua vida: a de Hitler, que “expulsou” sua família da Europa, e a militar do Brasil).
Moacyr Scliar, que faleceu em Fevereiro de 2011, nunca teve a intenção de processar seu colega escritor, e sua decisão deve ser respeitada. Infelizmente, o escritor brasileiro não viveu a tempo de ver o “rastro” de sua obra ser transformado em filme e indicado a tantos Oscars.
Agora, há quem diga que um Oscar de roteiro adaptado seria injusto, mas isso não seria bem o caso, já que o prêmio valoriza o melhor roteiro, e não a melhor obra que inspirou seu roteiro. E é precipitado julgar as duas obras sem as ter lido.
De qualquer forma, é bom ver uma obra literária brasileira ser amplamente divulgada, mesmo que por caminhos tortuosos que passam por acusações de plágio e dependência de um esquema mercadológico que valoriza os grandes filmes de Hollywood.
Confira um vídeo em que Scliar explica o acontecimento.
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