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Crítica: Os Infratores

Baseado em um livro escrito sobre uma história real, “Os Infratores” conta basicamente a história de superação de Jack Bondurant (Shia LaBeouf), o irmão mais jovem entre três foras da lei que fabricavam e traficavam bebida alcoólica durante o período da Lei Seca.

Os irmãos de Jack são Howard Bondurant (Jason Clarke) e Forrest Bondurant (Tom Hardy), dos quais Jack é o mais sensível, como se pode perceber desde o início da projeção. O clã dos Bondurant terá que viver então uma briga de gato e rato com Charlie Rakes (Guy Pearce). E se os irmãos violentos não toleram que outros corruptos tentem ganhar dinheiro em cima de seus negócios, o vilão Rakes é apenas um personagem unilateral, mau pelo princípio de ser mau – apesar do esforço de Guy Pearce em ser sádico e transformá-lo em uma espécie de “Coringa do Heath Ledger”. Enquanto isso, o roteiro falha em explicar mais a respeito de Forrest Bondurant e suas atitudes tão honestas dentro de seu código de conduta.

Mesmo com algumas falhas no roteiro, o diretor Tom Hillcoat consegue extrair excelentes interpretações e elementos bastante curiosos que valem ser analisados. Embora a atuação de Tom Hardy possa ser lembrada por muitos como a que mais se destaca, junto à de Pearce, é Shia LaBeouf que surpreende com o personagem mais interessante e com mais elementos dicotômicos a serem explorados – é ele quem se apaixona pela filha do pastor, admira o amigo, comete os erros estúpidos que levam o roteiro adiante, e ainda narra a história.

Os elementos interessantes que Tom Hillcoat trabalha bem com sua equipe são da ordem da direção de arte e das cenas de violência.

Hillcoat consegue não somente tornar crível a truculência exagerada dos irmãos Howard e Forrest, como também retratar os crimes cometidos pelos personagens principais com uma espécie de “receio” de mostrar a cena toda, com o objetivo de torná-los personagens queridos do público, ou ao menos sempre justificá-las como vingança – as truculências do vilão Rakers são muito mais cruas e por motivos menos importantes, como insinuar sua sexualidade.

Quanto à direção de arte, o uso de roupas de cores quentes apenas por parte das mulheres se mostrou bastante acertado. Enquanto que todo o filme se dá em meio a cores bege, sépia, marrom e cinza, simbolizando inclusive a atmosfera árida do ambiente, Maggie Beauford (Jessica Chastain) aparece sempre vestindo roupas de cores quentes ou destoantes, como azul claro, vermelho e vinho. Quando o filme caminha para seu terceiro ato, Jack dá de presente a sua amada Bertha (Mia Wasikowska) um vestido amarelo: as cores quentes poderiam muito bem ter sido uma influência de Maggie, que adquire uma figura materna ao longo da trama. E como se não bastasse apenas isso, o vestido amarelo serve como rastro para que seja descoberto o segredo dos irmãos e, assim, cheguem ao terceiro ato. É como se as cores fortes representassem a felicidade e o aconchego, possível somente com a presença das mulheres, que são as únicas a simbolizar a não violência.

“Os Infratores” consegue realizar o que se propõe e consegue humanizar os personagens principais, mesmo que com falhas, de maneira a fazer deles talvez heróis, mas ao menos personagens respeitáveis. O que faz sentido, já que o livro original foi escrito pelo neto de Jack, Matt Bondurant.

Nota: 04 Claquetes

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