Sinédoque, Nova Iorque
por Carlos Estefan
Apesar de já fazer algum tempo que foi anunciada a minha coluna, fiquei quieto até o presente momento. Claro que não foi sem motivo, queria trazer para vocês algo que fizesse realmente valer os minutos da atenção de cada um. E, antes de mais nada, é importante frisar que esta coluna não é feita para trazer críticas e análises dos filmes que assistimos por aí. Será, sim, uma visão tendenciosa de um amante de cinema, ávido por boas histórias, tentando sugar o que há por trás de cada narrativa cinematográfica. E espero que vocês concordem, discordem e conversem comigo sobre o que falarei por aqui. Dito isto, nada melhor do que começar com um filme de um dos meus roteiristas favoritos de Hollywood: Charlie Kaufman.
Conhecido mundialmente por escrever Quero Ser John Malkovich (1999), Adaptação (2002) e o filme que lhe rendeu o Oscar, Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças (2004), esta foi a primeira vez que ele entra também no papel de diretor. Sinédoque, Nova Iorque (2008) é a expressão máxima da paranóia de Kaufman com a metalinguagem, neurose e arte. Este alter-ego é representado desta vez por Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman), um diretor de arte que se é diagnosticado com sicose, uma doença de pele, mas que transforma tudo à sua volta em psicose.
Ao ver sua vida e seu casamento em ruínas, Caden aproveita o prêmio em dinheiro que recebeu pela sua última peça e decide montar o espetáculo de sua vida. Para tanto, dentro de um enorme galpão, reproduz Nova York em escala (daí o título do filme: SINÉDOQUE – ATRIBUIÇÃO DA PARTE PELO TODO), e passa anos tentando contar a sua própria história de vida no teatro. Neste momento, a maluquice e genialidade de Kaufman entram em ação: Caden é tomado pelo seu personagem, realidade e ficção se misturam, e ele se torna protagonista, coadjuvante e figurante em seu mundo. A linha do tempo também fica confusa, anos se passam, personagens mudam, vem e vão, e você acaba ficando sem entender muito bem o que está acontecendo. E então você entende que o filme não fala de Caden Cotard, ou de Charlie Kaufman.
Ele fala da vida.
Sinédoque, Nova Iorque consegue nos mostrar que somos todos protagonistas de nossas próprias histórias. Que estamos todos interligados. Cada cena é importante, cada tomada. Anos passam, pessoas mudam, vem e vão. E nunca saberemos qual vai ser o grande desfecho, afinal, o destino nada mais é do que o resultado de uma boa (ou má) atuação de cada um de nós neste grande palco da vida.
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