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Cinema Nacional

Cinema moralista?

*texto também publicado no site Itunotícias

O diretor brasileiro Bruno Barreto está desenvolvendo um novo filme, que se chamará “Flores Raras” e terá as atrizes Glória Pires e Miranda Otto (australiana famosa por sua personagem Éowyn em “O Senhor dos Anéis”).

O filme parece que vai realmente ser filmado, mas os produtores estão tendo muitos problemas para angariar fundos para a realização do filme. Tudo isso por dois motivos: conseguir dinheiro para fazer cinema no Brasil já é difícil naturalmente, e empresas não querem se vincular a um projeto em que duas mulheres viverão uma relação amorosa.

O filme vai contar parte da vida da poetisa Elisabeth Bishop, que viveu no Brasil nas décadas de 1950 e 1960, e aqui no país teve um relacionamento com uma arquiteta brasileira.

Bruno Barreto criticou o Brasil, dizendo que é um país falsamente liberal, mas profundamente moralista e racista, e por isso seu projeto tem encontrado dificuldades.

Infelizmente, Barreto está coberto de razão. O moralismo brasileiro afeta diretamente a produção artística e cinematográfica do país.

A sociedade brasileira é, de maneira geral, contra a mudança do status quo comportamental, e não está preparada para ver aquilo que lhe é diferente. Para que isso mude realmente, seria necessário mudar as bases da educação, o que infelizmente não ocorre devido à incompetência e descaso dos governantes, e também à paradoxal presença de grupos religiosos-partidários que parecem esquecer que o Brasil é (ou deveria ser) um Estado laico.

É interessante pensar que a produção cinematográfica de um país pode refletir sua ideologia, ou ao menos a ideologia das classes dominantes, já que os financiadores de filmes aceitarão apenas aquilo que seja bem visto pelo público (quem gostaria de ter sua marca vinculada a algo que não traz uma boa imagem ao consumidor?). Há exceções, é claro. Em muitos países, filmes são feitos com dinheiro público (o que não é o caso do Brasil na maioria dos filmes, apesar das leis de incentivo).

O cinema de um país reflete diretamente sua cultura e sua ideologia, devido à mecânica que existe entre os produtores e financiadores dos filmes (salvo exceções, como filmes experimentais, por exemplo). No Brasil, temos produções absolutamente diferentes entre si, produzidas em diversos cantos do país por diretores com as mais variadas formações. Entretanto, o Brasil ainda é conservador o suficiente para ter produções interessantes dificultadas.

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