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Crítica: Águas Rasas

Blake Lively é destaque em Águas Rasas 

Ficha técnica:

Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Anthony Jaswinski
Elenco: Blake Lively, Óscar Jaenada, Angelo Jose
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (25 de agosto de 2016 no Brasil)

Sinopse: No thriller Águas Rasas, Nancy (Blake Lively) está surfando sozinha em uma praia isolada, quando é atacada por um tubarão branco e encurralada a poucos metros de distância da praia. Apesar de estar muito perto, chegar até lá se mostra uma imensa prova de sobrevivência.

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Inicialmente, Águas Rasas parece o tipo de filme inofensivo, em que as produtoras tentam faturar algum dinheiro, colocando uma celebridade com apelo teen num filme de gênero, como o terror. Neste caso, a celebridade é Blake Lively, e o terror em si é um dos mais interessantes: o de sobrevivência.

Quando se fala de “filme de tubarão”, logo nos vêm à mente os acordes iniciais e inconfundíveis de Tubarão, clássico de Steven Spielberg. Vêm em mente também as recentes investidas num subgênero desgastado, que descambam direto pra trasheiras como Terror na Água e a sensação pop Sharknado. Já houve tempos melhores para o nosso inimigo aquático na sétima arte, sem dúvidas.

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É com surpresa, então, constatar que Águas Rasas é um esforço digno o suficiente do cineasta Jaume Collet-Serra (A Casa de Cera, Sem Escalas) e, mesmo que sua inofensividade ou não para o gênero seja discutível, ele sem dúvidas o respeita, com escorregões bobos, mas com uma construção de tensão eficiente.

A premissa é a básica jornada da heroína no cinema recente. Acompanhamos Nancy (Blake Lively), jovem estudante de medicina, de carona com um simpático estranho até uma praia distante e isolada no México, apelidada de “paraíso”. Nancy carrega consigo apenas uma mochila e sua prancha de surf, que pertencia a sua falecida mãe. Após alguns mergulhos, no entanto, a presença de um predador mortal coloca sua vida em risco e o seu instinto de sobrevivência à prova.

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O minúsculo enredo (estamos falando de um horror de sobrevivência) é fornecido com exposições forçadas de roteiro. Enquanto a costumeira projeção do chat do celular através de animações mostrando a conversa das personagens na tela não compromete, o conflito e passado da personagem é apresentado de forma burocrática e desinteressante, através de conversas por Skype. O pai de Nancy (Brett Cullen) insiste em repetir para a protagonista (e audiência) frases como ” Até quando você vai continuar fugindo?” e coisas do tipo. Um problema parecido com os do recente Rua Cloverfield 10, que continha os mesmos temas de empoderamento feminino, de redescobrimento da “guerreira dentro de si”. Apesar dos mesmos erros de querer martelar os temas na cabeça da audiência, o filme de Blake Lively é melhor resolvido em relação à jornada de sua personagem principal que o longa produzido por J.J. Abrams.

O que o roteirista Anthony Jaswinski e o diretor Jaume Collet-Serra parecem não compreender é que, neste tipo de filme, os detalhes do passado do personagem costumam ser irrelevantes. Como o Alien de Ridley Scott nos ensinou, a personagem só vira a protagonista da história, realmente, quando é testada, quando enfrenta as adversidades. É como se ela tivesse que “merecer” este manto. O diretor, porém, insiste em idealizar Lively desde o princípio, filmando o belo corpo da atriz com closes extremos e uma câmera lenta que a glorifica, que a coloca num pedestal desde o início.

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Se ocorrem problemas na construção da heroína como temática, a câmera de Collet Serra é muito mais eficiente na construção de tensão. Os vários close-ups responsáveis por idealizar Lively também servem para construir um clima de cautela. Ao incluir planos detalhe de partes do corpo de Nancy enquanto a mesma flutua sobre a água e surfa nas ondas, o diretor brinca com o espectador, causando uma sádica sensação de estranhamento apenas pela forma como enfoca a mão da surfista, enquanto esta rema para “pegar uma onda”. A sonoplastia também é eficiente, apostando em sons diegéticos que ajudam na construção de tensão, como um simples atolamento de uma prancha na areia em meio ao silêncio causando apreensão.

O filme acerta também em sua protagonista. Lively segura a onda (viu o que fiz aí?) de Scream Queen muito bem e confere carisma à personagem. Nancy se queima, é mordida, jogada de um lado pro outro com o sadismo habitual de Collet-Serra. O roteiro fica muito melhor quando foca na questão sobrevivência, mesmo que possua alguns deslizes em relação a lógica estabelecida na própria narrativa. Uma sequência em especial, envolvendo águas-vivas, é visualmente bonita mas exige a boa e velha suspensão de descrença.

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O filme sofre quando tenta apelar para frases de efeito pouco inspiradas e momentos mais extremos de suspensão de descrença, e, por mais que deslize num efeito especial ou outro (a inclusão digital do rosto de Blake Lively no corpo de uma dublê enquanto ela surfa é péssima), Águas Rasas se sai muito bem quando foca no que quer ser: um suspense de sobrevivência, que funciona como um representante digno do gênero graças ao carisma de sua atriz principal e de um diretor que entende de construção de tensão.

  • Nota Geral:
3

Resumo

O filme sofre quando tenta apelar para frases de efeito pouco inspiradas e momentos mais extremos de suspensão de descrença, e, por mais que deslize num efeito especial ou outro, ele se sai muito bem quando foca no que quer ser: um suspense de sobrevivência, que funciona como um representante digno graças ao carisma de sua atriz principal e de um diretor que entenda de construção de tensão e, mesmo que sua inofensividade ou não para o gênero seja discutível, ele sem dúvidas o respeita.

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