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Crítica: Meu Amigo Hindu

Meu Amigo Hindu é uma produção nacional com o Willem Dafoe como protagonista e dirigida por Hector Babenco.

Ficha técnica:
Direção e roteiro: Hector Babenco
Elenco: Willem Dafoe, Maria Fernanda Cândido, Reynaldo Gianecchini, Selton Mello, Bárbara Paz, Supla, Guilherme Weber, Dan Stulbach, Ary Fontoura
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 03 de março de 2016

Sinopse: releitura exótica autobiográfica do diretor Hector Babenco, através da história de Diego Fairman. Mostrando a luta dele contra o câncer e aspectos da vida como um todo, destacadamente a amorosa. Além do processo criativo da produção literária e cinematográfica.

Meu Amigo Hindu_Maria Fernanda Cândido e Willem Dafoe

Hector Babenco, nascido na Argentina e naturalizado brasileiro, dirigiu grandes longas: Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (sexta maior bilheteria de um filme nacional), O Beijo da Mulher Aranha (4 indicações ao Oscar e 1 prêmio), Pixote, Carandiru, entre outros.

Diego Fairman (Willem Dafoe), alter ego do diretor Hector Babenco, descobre que tem câncer. Ainda assim ele decide se casar com Livia (Maria Fernanda Cândido). Os dois tem um relacionamento aberto e são desbocados e desinibidos um com o outro. A história se desenvolve a partir da luta de Fairman contra o câncer, mas não espere um tom melodramático. O filme tem uma pegada voltada para a comédia (apesar de ser, em primeira instância, um drama).

Há dois problemas no filme que tenho que trazê-los logo no começo: há um baixo aproveitamento do elenco (alguns são grandes atores). Muitos deles aparecem em apenas uma cena e até sem falas. E o principal: o longa se passa parte em São Paulo, com atores brasileiros, e é falado todo em inglês – muito devido ao protagonista e, provavelmente, para ter uma abertura internacional. Isso causa uma sensação muito desagradável de algo fora do lugar (este segundo problema considero uma falha grave), algo semelhante aconteceu no filme Os 33, sobre o terremoto no chile – onde personagens nativos também falavam inglês.

A história tem uma certa quebra na fluidez com cortes bruscos e, por vezes, colocando o espectador no meio dos ambientes sem uma explicação prévia. Há também o recurso de fade out, onde a luz vai se apagando ao término da cena. Esses elementos podem incomodar alguns, mas considerei consonante com a proposta apresentada.

dafoe_ meu amigo hindu

Quase 100% do tempo Willem Dafoe está em tela. Algumas atitudes dele não são tão corretas (o que pode dificultar na empatia com o público). Ele é um personagem bem relacionado, verborrágico e com respostas ácidas – essas características o fazem marcante. Mas quando está em silêncio, com um olhar contemplativo e onírico, funciona até melhor. Há um esforço físico de Dafoe que chega a impressionar. Por tudo isso, a atuação dele, de um modo geral, está merecedora de elogios.

Alguns diálogos, principalmente com a esposa e com alguns amigos, soam pasteurizados e artificiais, faltando uma certa entrega dos outros atores e um texto um pouco mais elaborado. Novamente, quem comprar a ideia de que o tom é intencionalmente assim poderá usufruir melhor – dessa vez não me convenceu completamente.

O som e a trilha do filme estão muito bons. Ambos carregam a trama para frente e ajudam na experiência. As mais de duas horas, com uma barriga no segundo arco, tornam qualquer tempero muito bem-vindo.

Como eu falei há vários personagens que vem e vão na trama, mas sem um papel significativo (algo que costumeiramente me desagrada. Filmes como Spotlight e A Bruxa onde temos vários secundários desenvolvidos trazem um corpo para a história muito mais atrativo aos meus olhos). Contudo, há uma ponta do Selton Mello, que faz um personagens um tanto peculiar, que é digna de nota. Os diálogos e o que ele representa fazem subir o conceito do longa. Há também uma piada com a Barbara Paz que me fez gargalhar alto no cinema.

meu-amigo-hindu

Os anseios criativos do protagonista e o modo como ele usa elementos abstratos para se relacionar como o personagem título (que só aparece na metade do filme) ficam estranhos no enredo, mas podem causar uma dubiedade de sensações no público, sendo agradável e incômodo ao mesmo tempo (não seria exatamente isso que Babenco queria proporcionar com as obras dele?).

Vale o aviso: há muitas cenas de sexo com nudez frontal feminina (e momentos de masturbação). Os mais sensíveis podem se incomodar. Essa luxúria é contraditória e feroz no contexto da trama e também é um dos prismas pelos quais a história de Babenco é contada.

Meu Amigo Hindu, que estreou dia 03 de março de 2016 no Brasil, pode causar reações diversas nos espectadores e não vem sendo bem recebido pela crítica. Baseia-se em fatos reais, mas vai além, principalmente no modo como contar. Com todas as ressalvas já relatadas, eu recomendo a inusitada experiência.

O trailer contém cenas que são mais impactantes vendo no momento do filme, mas para quem não se incomodar vale conferir pela breve declaração do Dafoe ao final: 

https://www.youtube.com/watch?v=Lf9u3rs1RXc&ab_channel=Aut%C3%AAnticoBrasileiro

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