E o Oscar vai para… Argo?
*Elen Campos Munaier
Sim, “Argo”! A não ser que a Academy pregue mais uma peça nos cinéfilos. Muita gente vai estranhar, pois há muito mais matérias e marketing em cima de “Lincoln”, “Django” e “Os Miseráveis” que em “Argo”, que vem ganhando um prêmio atrás do outro. Produtor, diretor e ator principal do filme, Ben Affleck foi o que mais recebeu prêmios até aqui. Deveria ser o personagem principal do mundo do cinema em todas as publicações especializadas. Não é. Os motivos disso são conflitantes, mas sempre envolvem interesses econômicos. A seguir, contradições tradicionais que podem trazer surpresas à cerimônia mais aguardada do ano.
Antes do Oscar, vários prêmios foram disputados. O primeiro que colocou as produções de Hollywood em destaque foi o Globo de Ouro. Segundo as publicações especializadas, “Os Miseráveis” venceu a disputa, já que ganhou três estatuetas (Melhor Filme Cômico ou Musical, Melhor Ator em Comédia ou Musical para Hugh Jackman e Melhor Atriz Coadjuvante para Anne Hathaway), contra duas de “Argo” (Melhor Filme Dramático e Melhor diretor para Ben Affleck) e duas de “Django” (Melhor Ator Coadjuvante para Christoph Waltz e Melhor Roteiro para Quentin Tarantino). Ou seja, como havia dois prêmios para Melhor Filme, “Argo” e “Os Miseráveis” levaram os principais troféus da noite e todos saíram contentes. Curiosidade #1: Affleck é o único dos diretores que concorria ao prêmio que não foi indicado ao Oscar.
No dia 26 de janeiro, porém, essa “farra” acabou. No primeiro embate entre os dois pelo Melhor Filme, os produtores Ben Affleck, George Clooney e Grant Heslov venceram o PGA (Producers Guild of America), o Sindicato dos Produtores Americanos, e começou a mostrar o favoritismo de “Argo”. No dia seguinte, o SAG (Screen Actors Guild), o Sindicato Americano de Atores, deu o principal prêmio da noite, de Melhor Performance de Elenco, para “Argo”. No entanto, os prêmios individuais foram para Jennifer Lawrence (Melhor Atriz por “O Lado Bom da Vida”), para Anne Hathaway (Melhor Atriz Coadjuvante por “Os Miseráveis”) e para Daniel Day-Lewis e Tommy Lee Jones, Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante, respectivamente, por “Lincoln”. Curiosidade #2: O ator principal do elenco vencedor nem concorreu a Melhor Ator.
No primeiro final de semana de fevereiro, o DGA (Directors Guild of America), o Sindicato dos Diretores, elegeu Ben Affleck como o Melhor Diretor por “Argo”. Curiosidade #3: Ora, se os membros do DGA também votam no Oscar, como podem dar a estatueta a Affleck no seu sindicato e nem gerar uma indicação ao prêmio da Academy? Seria esta a estratégia para garantir o terceiro Oscar de Melhor Diretor a Steven Spielberg, já que “Lincoln” parece não ter a menor chance como Melhor Filme? Vale lembrar que os membros do PGA e do SAG também votam no Oscar.
Por último, mas não menos importante, Ben Affleck levou o BAFTA de Melhor Filme e de Melhor Direção na premiação da Academia Britânica de Artes Cinematográficas e Televisivas, realizada no dia 10 de fevereiro, em Londres. Esta, sem dúvida, foi a maior derrota que “Os Miseráveis” poderia sofrer, já que a película perdeu não só para “Argo” como Melhor Filme, como também não conseguiu vencer na categoria Melhor Filme Britânico. O lendário James Bond (com “007 – Operação Skyfall”) surpreendeu e ficou com o troféu. Curiosidade #4: Apesar de vencer “fora de casa”, Affleck só leva o Oscar para casa se “Argo” vencer como Melhor Filme.
Para completar a lista, vamos à Curiosidade #5: a Academy vai fazer uma homenagem aos musicais da última década. Veja o comunicado oficial da academia: “O musical como gênero passou por um renascimento extraordinário na última década. Nós estamos emocionados por apresentar três filmes musicais na cerimônia do Oscar: Chicago, Dreamgirls – Em Busca de Um Sonho e Os Miseráveis”.
Reconheço que esta última “curiosidade” (pra não falar outra coisa) pode ser uma espécie de “prêmio de consolação” para “Os Miseráveis”. Ou seja, pode ser uma boa informação para os torcedores de “Argo”. Porém, as outras quatro “curiosidades” são tão desfavoráveis a Ben Affleck que temo que a última possa servir mais como desculpa para premiar outro musical que reconhecer o trabalho do Diretor, Produtor, Ator…
Em meu artigo anterior, publicado no Cinem(ação), classifiquei “Os Miseráveis” como excelente. Mais: “Se vencer o Oscar não será uma surpresa, tampouco um desastre. É um musical que todos devem assistir, apreciar e se emocionar com as canções e interpretações espetaculares de seus atores.” Portanto, não tenho a menor pretensão de dizer qual filme é melhor, ou qual é merecedor. Mas gostaria muito de entender como funciona de verdade a premiação antes de apostar nos vencedores. Incomoda-me demais ver tanta contradição de uma academia que deveria valorizar a arte, não o dinheiro. Falta menos de uma semana para a cerimônia. O que será que vão fazer? Arte?