Por que “Argo” não mereceu
*Elen Campos Munaier
A despeito de já estarmos mestre-Yoda-de-saber que Globo de Ouro e Oscar não são os melhores julgadores para os melhores filmes, digo por que “Argo” não mereceu ter levado o maior troféu da noite na festa das estrelas de TV e Cinema de Hollywood.
É preciso dizer que “Argo” está longe de ser um filme ruim. Ao contrário, é uma trama e tanto, daquelas que costuram muito bem as curvas da trajetória, que dosam suspense e alívios cômicos no ponto certo – o que os americanos fazem a torto e a direito, com invejável maestria. O que acontece com o filme dirigido por Ben Affleck é que ele já era extremamente cinematográfica antes de vir a ser. E paramos por aí. Ou uma equipe de inteligência da CIA, que forja uma filmagem de uma ficção científica no Irã para resgatar americanos da embaixada ameaçados de morte não é, por si, um argumento fantástico? Daqueles casos que a gente acusaria de inverossímil, não fosse real.
É por isso que quando um filme desses, ancorado por uma história surpreendente, e quase-nada-mais, ganha um prêmio de melhor direção não parece justo com o cinema. Ok, Ben Affleck fez um bom trabalho atrás das câmeras. Além de atuar de forma madura, dirigiu cada cena com extrema correção, no nível alto-padrão do cinema clássico. Mas a sensação que fica é que qualquer bom diretor – não necessariamente genial – faria o mesmo. As mesmas cenas, os mesmos cortes, a mesma ambientação. E um filme que não tem um trabalho de direção excepcional não é um filme que mereça o prêmio maior de competição alguma.
Contudo, se você não viu, não tenha dúvidas. Vale muito a pena ver “Argo”. Só não vale o prêmio que tem.