48 quadros por segundo: qual a diferença?
por Daniel Cury
*já foi publicado por aqui um artigo falando da opção de escolha e das exibições de O Hobbit no Brasil.

Muita gente não entende porque os 48 quadros por segundo podem melhorar a experiência cinematográfica. Primeiro, é preciso entender que, quando vemos um filme no cinema, na verdade estamos vendo 24 “fotos” sequenciais a cada segundo, e nosso cérebro é responsável por criar a ilusão de movimento. No entanto, quanto mais “fotos” forem exibidas por segundo, mais o movimento de aproxima da realidade. Para entender melhor isto que aqui é brevemente explicado, sugiro que assistam ao vídeo do crítico de cinema Pablo Villaça, clicando aqui.

Mas afinal, qual a grande diferença de assistir a um filme com 48 fps? Após ver o filme “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, gostaria de transmitir as minhas impressões.

Graças à fluidez dos movimentos, o filme se torna mais realista. Fica difícil explicar em palavras o quanto um filme assim se aproxima da realidade. As barbas, os cabelos (e com aquela quantidade de magos e anões, cabelo e barba é o que não falta!), as texturas, tudo fica mais real. Nos primeiros dez minutos do filme, todo mundo acha meio estranho. Como nossa visão não está acostumada à nova tecnologia, parece que as cenas estão “aceleradas”, como se alguém estivesse pressionando o botão de “fast forward”. Mas em pouco tempo acostuma-se com o novo padrão de imagem.
Vamos a um exemplo prático. Em um breve momento do filme, vemos uma cachoeira. Antes de assistir ao filme, eu pensava que a imagem de águas caindo era a mesma coisa em um filme e na vida real. Somente após ver a cachoeira de “O Hobbit”, pude perceber a grande diferença entre um filme e uma cachoeira de verdade. Neste momento, pensei que estava vendo uma cachoeira verdadeira na minha frente, e entendi como uma cachoeira filmada não tem a mesma fluidez de movimento que aquelas que visitei nos passeios turísticos. Há um ponto que pode ser considerado negativo por muitos: por fazer a imagem muito mais próxima do real, temos a impressão de que o filme é mais “falso”, pois as imperfeições ficam mais evidentes. Mas, particularmente, senti que esse choque está apenas nos primeiros momentos, antes de me acostumar.

Mesmo assim, creio que a filmagem em maior frequência de quadros permitirá muitas mudanças no cinema, seja em termos de linguagem (é possível criar mais detalhes em cenas rápidas, por exemplo), de técnica (maquiagem e efeitos digitais precisarão de muito mais cuidado), e de maturidade audiovisual do público, que vai se acostumar com um novo padrão de imagem.

Mal posso esperar pelas sequências de “O Hobbit” e “Avatar”, com seus 48 quadros, e as consequências que eles trarão ao cinema. E, mais uma vez comparando o “frame rate” com o 3D, lembro-me que Wim Wenders fez “Pina”, um filme de arte em três dimensões, o que me anima para ver filmes de diretores menos “comerciais” com estas novas tecnologias.