CRÍTICA: Springsteen – Salve-me do Desconhecido – 49ª Mostra de São Paulo
Springsteen: Salve-me do Desconhecido
Direção: Scott Cooper.
Roteiro: Scott Cooper.
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2025.
Elenco: Jeremy Allen White, Jeremy Strong, Stephen Graham, Odessa Young, Paul Walter Hauser, Gaby Hoffman, David Krumholtz, Marc Maron, Harrison Gilbertson, Grace Gummer.
Sinopse: O astro musical Bruce Springsteen produz o seu álbum Nebraska, enquanto tem que lidar com os seus traumas do passado e a sua depressão.
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Um dos méritos de “Springsteen: Salve-me do Desconhecido” é não seguir uma estrutura de Wikipedia de cinebiografia aonde toda a sua trama acaba sendo baseada em mostrar de modo engessado a trajetória do artista protagonista – geralmente um cantor – informando passo a passo como se deu a sua carreira. Existe um ponto de vista particular na visão que o cineasta Scott Cooper tem do seu personagem central e que ele busca desenvolver: entrar na psique de Bruce e na sua mente traumatizada.
Jeremy Allen White dá um auxílio suficiente construindo um personagem fragilizado e que foge totalmente da postura de “rockstar” se revelando um tipo totalmente normal. Ele está ótimo e é a melhor coisa do filme. O grande problema do filme é que o comandante desse “navio”, Scott Cooper, é um cineasta quadrado e apático.

Para além das obviedades como transformar o passado da sua infância com o seu pai abusivo num preto e branco brega ou fazer uma música hiper dramática subir quando ele confessa seu sofrimento na terapia, Cooper nunca consegue pensar qualquer cena para além de uma filmagem super conservadora. O diretor de fotografia, Masanobu Takayanagi, até coloca cores vivas, fortes e uma iluminação vibrante nos momentos do presente deixando a coisa toda mais interessante, mas Cooper parece incapaz de pensar essas cenas de modo mais interessante e preencher elas de uma vivacidade também na direção.
A ideia de Jon Landau (Jeremy Strong) como uma figura positiva e super companheira na vida de Bruce ao invés do clichê de sempre do empresário e produtor sangue–suga e abusivo do cantor é boa e Jeremy Strong está bem interpretando uma visão beneficia do tipo de personagem que já havia feito em O Aprendiz (The Apprentice) de 2024. Mas é uma pena que toda a sua relação com Bruce, suas cenas com a esposa analisando o cantor, sua relação com a banda e etc pareçam pouco além de colocadas esquematicamente dentro do filme, também genéricas e pouco desenvolvidas.
E o mesmo dá pra falar dos momentos de Bruce com a sua banda fazendo o álbum Nebraska ou as cenas com a sua namorada interpretada por Odessa Young, uma figura que nem existe dentro de tela como um ser humano pleno. Os momentos com Stephen Graham acabam trazendo alguma tensão pela postura intimidadora que o ator consegue evidenciar tão bem, mas seus movimentos de “pai abusivo terrível que traumatizou o filho” para “pai do presente disposto a mudar nos seus momentos finais” são tão gritantemente calculados quanto o próprio filme. Existe mérito em pensar Bruce Springsteen de um modo mais sensível, mas do que adianta esse mérito se esse próprio filme vê o seu próprio protagonista e a sua depressão de maneiras tão distantes dramaticamente. Frustrando qualquer emoção.
Nota: 2 /5
