Crítica: As Primeiras
As Primeiras – Ficha Técnica
Direção: Adriana Yañez
Roteiro: Adriana Yañez
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2023.
Sinopse: Um grupo de mulheres com quase 60 anos divide um passado comum: elas foram as pioneiras da seleção feminina de futebol no Brasil.
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Para além de um caráter cinematográfico e de uma estruturação de alguma história (que, por si só, já basta, é preciso dizer), os documentários também podem trazer alguns elementos curiosos para o debate público. Entre eles estão a discussão de algo que não se vê, a exposição de agentes públicos ou, até mesmo, a luz sobre uma história esquecida.
Um desses temas dentro dessa última compreensão é o futebol feminino dentro do Brasil. Inicialmente renegado e até mesmo proibido, com jogadoras precisando ir para outros países atuar, ele só passou a ganhar escopo nos anos 1990 por aqui. A diretora Adriana Yañez vai atrás do passado em busca de entender quem era essas mulheres que formaram a primeira base da Seleção Brasileira feminina de futebol.
Mais do que apenas entender as conexões entre as vidas atuais e passadas de Elane dos Santos Rego, Leda Maria Cozer Abreu, Maria Lucia da Silva Lima (Fia), Marilza Martins da Silva (Pelé), Marisa Pires Nogueira, Roseli De Belo, Rosilane Camargo Motta (Fanta), a obra traz um olhar como uma espécie apenas observadora. Yañez não parte de nenhum tipo de julgamento, seja por viés positivo ou negativo. Ela apenas enxerga essas personagens como capazes de contarem sobre tudo que passaram.
Até mesmo por isso, os grandes momentos do filme são menos os individuais e mais os coletivos. Aqueles em que elas todas se reúnem, contam histórias de momentos do passado e relembram situações engraçadas, constrangedoras e mais. Ao mesmo tempo, estabelecem um senso de união, realmente como de uma equipe, mas que não se separou, e sim foi separada.
As vidas relacionadas ao futebol ganham a própria forma assim. Em como uma experiência de ir para a China atuar gerou um novo interesse para a vida. Ou até mesmo como a busca por uma maior profissionalização do esporte feminino fez ter ficado de lado da primeira convocação olímpica da Seleção Brasileira. É interessante como “As Primeiras” caminha sempre em um limite das discussões entre a dor e um afeto perante essas personagens. Esse lado múltiplo delas também parece que só faz sentido quando em conjunto, compartilhado.
Porém, o filme também se desfavorece um pouco de seu tempo muito curto (possui apenas 1h18). Desse jeito, da mesma forma que há conexões profundas, a própria vida e trajetória desde que pararam de atuar é um pouco deixada de lado pela narrativa, que não sabe bem como caminhar nesse campo. É como se isso fosse apenas uma vírgula, enquanto é parte fundamental de quem essas mulheres são atualmente.
Esse conjunto meio desconcertado dá espaço para alguns períodos mais tocantes, como quando uma das jogadoras relata o vício em cocaína que teve. Ao mesmo tempo, também desencadeia uma espécie de sensação de “e aí?” a cada fim de exposição delas individualmente, como se essa mesma história pudesse ser continuada, porém não no próprio longa.
Dentro desses muitos recortes, prevalece em “As Primeiras” menos os íntimos e mais os compartilhados. É dentro deles que essas personagens parecem realmente se mostrar e dão a oportunidade do próprio telespectador as entender. Acima de tudo, Yañez parte de um relato histórico para uma trama sobre mulheres que apenas tinham um sonho e que não conseguiram fazer ele na plenitude: o de jogar bola.
Nota: 3 /5