A representação da fúria feminina no audiovisual
origem da Mulher Maravilha
Artigo

Mulher também sente raiva: a representação da fúria feminina no audiovisual

Tarantino, Fincher, Scorsese e diversos diretores retrataram em suas obras a violência a partir de uma perspectiva masculina. Filmes de super-heróis também passaram anos mostrando homens batendo e destruindo coisas. E desde sempre fomos bombardeados por homens podendo bater e xingar em cena, como forma de catarse. A vida é cheia de provações, situações difíceis e estressantes e homens podem sentir frustração, fúria e externalizar isso. A raiva masculina é naturalizada no cinema. E na vida real também. Em contrapartida, durante anos o audiovisual não permitiu isso para as mulheres. 

Tudo bem, você pode dizer que temos diversos filmes com mulheres vingadoras, bravas e que protagonizam cenas de briga e aventura. É verdade! As heroínas da Marvel e da DC estão aí mostrando que não são apenas os homens que podem protagonizar filmes de ação. Só que geralmente o que move mulheres nesse tipo de filme não é simplesmente a raiva. Muitas vezes, como no caso da Mulher-Maravilha, o que a faz lutar é o amor. 

Por anos mulheres foram colocadas na caixinha de indefesas. Seres frágeis e de coração enorme que precisam ser salvas por homens heróicos. E quando as personagens eram representadas de maneira mais raivosa, eram colocadas como loucas e vilãs, como acontece em vários filmes de horror. E infelizmente isso se repete na vida. 

Só que a verdade é que mulheres não são mocinhas indefesas que querem sempre ser vistas como vítimas. E quando sentimos raiva, não queremos ser taxadas como loucas ou barraqueiras. Mulheres são educadas a guardar sentimentos considerados negativos, porque são educadas a buscar uma perfeição impossível de conseguir. E ano após ano se tornam mais adoecidas por não serem permitidas de externalizar esses sentimentos. Mulheres sentem raiva pelos mais diversos motivos e isso deveria ser retratado pelo cinema e pela televisão. Não como uma forma de mostrar que somos quebradas e sem salvação, mas sim que somos seres humanos que possuem as mais diversas emoções. 

Com o aumento de produções criadas por mulheres e pessoas não-binárias, parece que isso está mudando. Yellowjackets mostra um grupo de mulheres que por mais que esconda sua raiva de boa parte do mundo, precisa de alguma forma colocá-la para fora. Chega a ser catártico ver as personagens lidando de forma complexa com sentimentos que normalmente apenas os homens são permitidos a ter. 

Bottoms é um filme que trouxe a questão da raiva e violência feminina, com um ar de comédia. E é super importante ver que toda uma nova geração de garotas pode enxergar suas emoções e perceber que está tudo bem senti-las. Ainda estamos longe de ter um número de produções tratando sobre as questões femininas como existem as que mostram os dramas masculinos, mas é muito bom perceber que existem filmes e séries que desejam mostrar aqueles lados da experiência de ser mulher que até a sociedade faz questão de tentar aniquilar.

Deixe seu comentário