União Europeia inicia 2023 com regulamentação do streaming completa
Em 2018, uma nova legislação foi aprovada pelo Parlamento Europeu e consistia na regulamentação do streaming. Com um prazo inicial de 21 meses para que os países do bloco pudessem atualizar seus marcos de mídia e regulamentar o streaming, o início de fevereiro de 2023 marca a transposição total dos países no tema.
Mesmo que a pandemia tenha colocado um atraso nas discussões sobre o tema em diversos países-membros, a União Europeia seguiu buscando diferentes meios para proteger sua produção na era do streaming.
Segundo dados do Observatório Europeu do Audiovisual, mesmo ainda sem a transposição completa dos países, o conteúdo europeu já faz parte de 16% dos investimentos das plataformas de streaming na região, em grande parte pela obrigatoriedade de investimentos.
Um dado curioso da mesma análise de investimentos é que desde que a regulamentação do streaming foi aprovada pelo Parlamento Europeu em 2018, as plataformas passaram a investir mais em conteúdo original do que simplesmente licenciar obras já realizadas.
Países onde a regulamentação andou mais rápido, como Alemanha, Espanha e França, são as maiores beneficiadas em seus catálogos, em especial da própria Netflix, por ter sido pioneira internacionalmente a desbravar outros mercados longe dos Estados Unidos.
Vale ressaltar que 16% ainda não é nem sequer a cota de investimento estabelecida pela França ainda em 2021 (20%), logo, é possível que os números analisados no histórico tenham crescido para 2023.
Irlanda começa 2023 com o pé direito
Além de ter sua regulamentação do streaming sancionada e em vigor desde o dia 01/02, a Irlanda ainda garantiu uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional, com o título “The Quiet Girl”.
A conquista é a primeira vez da Irlanda na categoria, com um filme 100% do país e que quebrou todos os recordes de bilheteria de um filme nacional até então. No entanto, o caminho para o Oscar não começou “ontem”.
Desde pelo menos 2017, a Irlanda vem ampliando e amadurecendo seus recursos para distribuição e promoção dos seus filmes, principalmente no quesito internacionalização.
Com foco em grandes festivais, o próprio órgão disponibiliza pubicistas especializados no festival que o filme será exibido, para que o título consiga conquistar as melhores oportunidades possíveis de distribuição e, consequentemente, trilhar um caminho até o Oscar.
Tudo isso foi uma conquista progressiva com o investimento no audiovisual local, cobrança de taxas de investimentos e que tem tudo para dar um novo fôlego para que a Irlanda siga conquistando premiações internacionais com a inclusão dos investimentos diretos do streaming.
Paralelo a isso, a Olsberg SPI lançou um estudo bem interessante que destrincha os efeitos positivos das políticas públicas na Irlanda. O que mais chama atenção para aos resultados é o fato de que a maior atração de filmagens – e estímulo contínuo de tantas outras – impacta até mesmo taxistas credenciados de Dublin e outras cidades que por vezes servem como locações.
A promoção dos filmes irlandeses e suas medidas protetivas de mercado interno, como as cotas de tela para salas de cinema e TV também fizeram com que a população mais jovem, de até 35 anos, tivesse interesse em começar a estudar o gaélico, não deixando assim a língua nativa cair no esquecimento.
Os exemplos recentes da Europa nos enchem de bons materiais para seguir pensando nossas próprias políticas adequadas com a realidade local, além de se inspirar em possibilidades mais expressivas para a promoção da internacionalização do filme brasileiro, investindo primeiramente na formação profissional.
O ano de recuperação já começou, e ele conta com muitos bons exemplos para serem aplicados.