A dificuldade de Hollywood com a Coreia do Sul
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Simplificando Cinema

A dificuldade de Hollywood com a Coreia do Sul

Não é novidade para ninguém que o filme do ano será “Top Gun: Maverick”, ao menos isso é o que se vê ao fazer uma análise anual das bilheterias dos principais mercados cinematográficos do mundo.

Na Coreia, isso não será diferente, mas não vai vingar como Top 1. O ano chama atenção pela recuperação do mercado durante um retorno gradual das salas após a grande crise do COVID-19 no país.

Enquanto as salas ainda se recuperavam, a Netflix colhia excelentes frutos com “Round 6”, uma das séries estrangeiras mais vistas do serviço e realizada inteiramente nos estúdios da própria plataforma na Coreia do Sul, uma conquista gerada graças aos incentivos governamentais do país.

Crítica: Top Gun: Maverick

Em meio a tudo isso, a expectativa para colher bilheterias maiores em títulos de super-heróis continuava se avizinhando para o país que se tornou uma referência mundial em cultura pop e vem alardeando a grande potência hollywoodiana.

O resultado nos últimos meses, em que a Disney tentou emplacar dois filmes da Marvel no cinema, não é nada animador para o país que tentou destruir as políticas internas do mercado coreano ainda no início dos anos 2000 (conto mais sobre isso no podcast Simplificando Cinema).

“Adão Negro” e “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre” eram aguardados para fazer frente nas bilheterias, o que vem se confirmando no Ocidente, mas bem longe de atingir seus propósitos no Oriente. Conquistando a liderança apenas na semana de lançamento, ambos os títulos já saíram até mesmo do Top 5 e do Top 10.

Entre os dois, a projeção de sucesso de “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre” era maior do que “Adão Negro”, que já foi relegado para a terceira posição na Coreia do Sul apenas sete dias após seu lançamento, perdendo para títulos nacionais.

Com a esperança de que o público coreano fosse se focar bem mais em “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre”, a Disney conseguiu um lançamento grandioso em salas do país. A primeira semana do filme rendeu mais telas do que os títulos nacionais lançados no mesmo período, mas o favoritismo seguiu sendo somente uma idealização.

Mesmo com 400 salas a menos, o título local “Decibel”, lançado apenas 6 dias depois, conseguiu a liderança logo no início da nova semana cinematográfica –que na Coreia se dá todas às quartas-feiras–, deixando até os mais céticos sem muita resposta a dar.

Enquanto escrevo este artigo, “Decibel” voltou a estar abaixo de “Pantera Negra”, mas possuindo ainda mais salas no país do que o título da Disney. E esse é um outro fator interessante de se analisar.

Em menos de um mês em cartaz, “Pantera Negra” foi perdendo substancialmente suas salas, antes garantidas mesmo com o lançamento de novos filmes nacionais. Começando apenas sua terceira semana no país, o longa saiu de pouco mais de 1.400 salas para somente 507, somando um market share atual de 3.19% e indo parar na sexta posição.

Acima dele, quatro títulos coreanos lançados nesta semana e na semana passada somam, juntos um market share de cerca de 74%, com variedade de gênero conquistando o Top 1 e Top 2.

A redução de salas é uma coisa que impressiona, principalmente pelo fato de a cota de tela do país já ter sido cumprida. Atualmente, a Coreia do Sul reserva apenas 78 dias por ano para filmes nacionais, uma medida reduzida às custas da perturbação do MPA no mesmo início dos anos 2000 ao qual citei acima.

Parte da consciência não está tão atrelada assim ao senso comum da tal lei de oferta e demanda, mas sim com a política e construção de sociedade que a Coreia do Sul elaborou desde o fim do domínio japonês.

Vale citar que as primeiras tentativas de preservar os filmes nos cinemas ainda aconteceram nos anos 1950, o primeiro auge da indústria coreana, e seguiu firme se remodelando em décadas após.

Mesmo com um embate para tentar vender e impor seu protagonismo, Hollywood vem passando dificuldades e hoje é ela que precisa mais da Coreia do Sul do que o contrário. Besteira falar que a indústria norte-americana não se interessa mais pelo mercado asiático, cada vez mais impositivo.

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