O que 10 anos de RuPaul’s Drag Race (re)despertaram?
Quando RuPaul’s Drag Race estreiou em 2009, achei que muitas pessoas iam descrobrir o maravilhoso mundo Drag, mas isso só aconteceu anos depois. Não sei o quanto Drag Queens participaram da vida e jornada de cada pessoa LGBT, mas da minha, elas estavam presentes desde o começo, longíquos 14 anos atrás.
A história de como surgiram Drag Queens é uma evolução de práticas ritualísticas nativo-americanas e egípcias (registradas em rituais Incas, Astecas e Egípcios) e teatrais japonesas (com dramas Kabuki e Noh), mas evoluiu, permeou e ganhou legitimidade ao longo de (muitos) anos. Drag Queens são o epicentro da cultura desde que existem. São desafios à sociedade como entendemos e são atos políticos ambulantes.
No século 21 (mas no 20 também), Drag Queen deixou de ser sobre um homem vestido com roupas de mulher. Drag Queen é uma entidade. E falo também que Drag não se resume a RuPaul! Definitvamente não. Drag existia antes do programa e seguirá existindo depois, mas então, por que RuPaul’s Drag Race foi tão significativo?
A cultura Drag é maior que RuPaul
Quando eu saí do armário, 15 anos atrás, eu não conhecia absolutamente nada sobre nada do universo LGBT. Mesmo Paris Is Burning eu só fui assistir anos depois. O acesso a informação ou conteúdo deste universo era mínimo. Assim, saía pelas ruas de São Paulo para procurar os meus iguais e no meio do caminho encontrei Drag Queens. Isso mudou tudo!
Imagine só: a gente cresce em um mundo binário e normativo, cheio das masculinidades e feminilidades. De repente, você descobre que não precisa ser nada daquilo! É realmente mágico!
As Drag Queens já existiam no cenário paulistano há anos, mas nos anos 90 elas se tornaram grandes figuras da cultura LGBT. Vale saber quem são Kaká di Polly, Salete Campari, Nanny People, Veronika, Márcia Pantera, Paulette Pink, Léía Bastos, Alma Smith, Grace Lesada, Simplesmente Nenê, Dimmy Kier e Silvetty Montilla. Se hoje temos a liberdade que temos, talvez valha agradecê-las. Mas como isso chega em RuPaul?
Drag Queen funciona no Mainstream
O reality show de competição para Drag Queens foi ao ar pela primeira vez em 2009. Hoje, 10 anos depois, continua mantendo e crescendo sua audiência, que se estendeu além da comunidade LGBT. Além de ter recebido prêmios no Emmy de 2018.
Com a estreia de RPDR, a cultura Drag foi capaz de montar uma nova plataforma, com muito mais exposição. A cena Drag já não tinha mais a força que teve nos anos 80 e 90. E em 10 anos de programa, vimos passar pela TV mais de 100 Drag Queens. Quando conseguiríamos isso caçando shows em boates?
Há muitas problemáticas ao redor do programa, mas existe também um aspecto quase educativo (para quem quiser entendê-lo). A diversidade de Queens que passaram pelo programa trazem construções e desconstruções não só para a comunidade LGBT, mas com questões que afetam a comunidade LGBTQ no geral.
RPDR teve a internet para contruir sua própria comunidade, colocando a comunidade marginal no spotlight. Trazendo discussões importantes para a mesa. RuPaul colocou Drag no mainstream e não parece que vai sair de lá. RPDR não se firmou como um Reality Show, sim formou um microcosmo excêntrico, dramático e com identificação da experiência humana.