"The Square" - (2017) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Cine(filo)sofia

“The Square” – (2017)

“The square is a sanctuary of trust and caring. Within it we all share equals rights and obligations.”

The Square, a partir de questões fundamentais como direitos humanos, igualdade e obrigações de um para o outro em sociedade, além de trazer através do cinema tais temas, contrasta o objetivo intrínseco da obra o qual faz parte do dilema que envolve todo o filme a respeito da arte. O filme intitulado como uma obra que seria apresentada no fictício museu de arte contemporânea de Estocolmo pertence a um lugar distinto quando tentamos conceituar seu gênero. Para além de uma comédia ou um drama, The Square é um estudo sociológico, um aparato de pensamento o qual tem como objeto de estudo o ser humano e a sociedade.

O enredo narra particularmente as mudanças pelas quais Christian (Claes Bang), curador do museu, passa durante os minutos que se passam. Branco, Heterossexual, rico, elegante e considerado culto tanto por seus colegas de trabalho quanto por sua imagem impecável, traz aos nossos olhos algo de prepotência e sabedoria, pelo menos no ínterim do início do longa-metragem. Ao passo que vamos nos aproximando do conteúdo e chegamos perto de um entendimento do que está acontecendo, notamos que o objetivo em The Square é atrair esse modelo exemplar de pessoa, no caso Christian, ao seu lado sombrio ou mesmo sua sombra real da qual se esconde atrás de seus óculos imponentes e seu terno impecável.

A jornada de Christian começa quando é assaltado no meio de uma praça pública e acaba perdendo seu celular e sua carteira. Com a ajuda de um estudante, consegue rastrear seu telefone o qual acaba sendo encontrado num prédio localizado numa região considerada perigosa da cidade. Após tal descoberta, ambos ameaçam todos os moradores do prédio a devolverem seus pertences e o modo pelo qual o fazem é um tanto que curioso. As não esperadas consequências que através de um acaso acabaram por se tornar danosas a sua própria vida, também, trouxeram junto desses problemas, um menino raivoso que acabou sendo punido pelos pais por ter sido acusado do tal roubo.

A imagem desse personagem cheio de fúria é o reflexo da voz cansada que procura por justiça, ou seja, a sociedade. Em outras palavras, The Square observa que qualidades como empatia, caridade e solidariedade, muitas vezes, mesmo que inerentes aos mais estudados e liberais, acabam destoando de seus discursos teóricos, principalmente quando esses atributos devem ser praticados. O charme e inteligência de Christian acabam trazendo para si problemas com os quais não deveria ter que lidar, ou mesmo, nem chegar a tê-los, com vista o estatuto social no qual convivemos diariamente. Seu envolvimento com uma jornalista (Elizabeth Moss) que vai até o museu para entrevistá-lo, acaba por trazer uma batalha de poder pelo gozo, literalmente. 

Uma das instalações expostas no museu pode ser descrita como vários punhados de granito os quais no chão, como montes, acabam por perderem alguns grãos via um erro de um funcionário que acabou sumindo com eles com seu aspirador de pó. E, ao mesmo tempo que isso ocorre, num outro ambiente do museu um chef de cozinha apresenta seus pratos para uma audiência até que razoável a qual no meio de sua fala, com todo seu respeito de classe A, o deixam falando sozinho e ouvem um grito estridente de sua parte clamando por atenção.

É de se acreditar que a direção do filme nos dá um modelo social muito parecido com o que vivemos e chega nos interrogar e nos botar no lugar dos personagens: o que faríamos no lugar deles em dada situação? O que faríamos se um performer que nunca sai de seu personagem – o qual é um macaco – aparece do nada num jantar de gala e acaba por torcer do avesso todo o meticuloso ambiente social e aprazível ao ponto de atacar fisicamente os convidados ali presentes? 

The Square nos faz refletir ao sairmos do cinema. Há questões acerca do que viria ser arte e conseguimos apreciar isso no início da película quando Christian é entrevistado e se depara com um texto que ele mesmo escreveu, contudo, nada sabe sobre seu conteúdo que é envolto de palavras difíceis e um eruditismo literário que ninguém consegue compreender. É a partir desses momentos que a mensagem do filme se dá por concreta, isto é, quando nos apresenta um reconhecimento de nossas atitudes as quais temos noção, porém, preferimos fingir que não a conhecemos, ou mesmo, se caso não saibamos, melhor seria continuarmos assim, isto é, sem saber.

Deixe seu comentário