Crítica: Elvis e Nixon (2016)
Elvis e Nixon retrata de um jeito singular como poderia ter sido um dos encontros mais marcantes da história.
Ficha técnica:
Direção: Liza Johnson
Roteiro: Joey Sagal, Hanala Sagal, Cary Elwes
Elenco: Michael Shannon, Kevin Spacey, Alex Pettyfer, Johnny Knoxville, Colin Hanks, Evan Peters, Sky Ferreira
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (16 de junho de 2016 no Brasil)
Sinopse: em 1970 o super astro Elvis Presley quer ser um agente federal à paisana e se infiltrar em grupos comunistas e subversivos com o intuito de desarticulá-los, mas o que ele deseja mesmo é um distintivo no peito. Para tal empreitada recorrerá ao Presidente americano da época Richard Nixon.
Muitos filmes têm subtramas demais, em geral não conseguindo desenvolver com apuro nenhuma delas. Aqui a premissa é direta: o desejo inusitado de Elvis e toda a articulação para realizá-lo (isso até culminar em uma emblemática foto da história americana). Um pequeno desvio nesse mote tão linear é um inofensivo alívio dramático à hilária absurda história central. Absurda, aliás, é a palavra mor aqui. Um senso de urgência improvável de um anseio quase lúdico.
No primeiro arco vemos bem marcado algo que vai permear toda a obra: Elvis usando a figura dele mesmo para abrir portas. A presença, carisma e desenvoltura convence todo tipo de gente (menos a um sósia que desacredita que aquele é o verdadeiro Elvis). Todo esse arsenal torna mais irônico ele querer ser um agente anônimo e ter um distintivo federal.
Em seguida tem toda a preparação para o encontro das duas figuras do título. O segundo arco é o mais fraco do filme, mas ainda assim com bons momentos. Quando o momento do “embate” de fato acontece, no terço final do longa, a coisa fica simplesmente genial. Dificilmente alguém irá desgrudar os olhos da tela. Os personagens secundários trazem ótimas participações. Mesmo sem aprofundamento algum, há uma cena para cada mostrar uma expressão, um movimento ou simplesmente um olhar que leva o público às gargalhadas.
Já os protagonistas honram o ingresso e importância do momento (a foto do encontro é a mais requisitada do arquivo nacional americano). A troca de interesses, no estilo “uma mão lava a outra”, é usada e abusada neste trecho em especial. O sarcasmo e até, pasmem, um certo desleixo interpretativo de Kevin Spacey e Michael Shannon dão um tom singular àquele momento. Space é assombroso em se transformar em Nixon, incrível como conseguimos desassociá-lo do marcante Frank Underwood House of Cards. Shannon não se parece com Elvis, mas tal qual Michael Fassbender fazendo Steve Jobs, vamos nos acostumando e nos convencendo que aquele era o ator certo para o papel. No fim a sensação que fica é de total simpatia por ambos.
Em meio a todo humor, foi um dos filmes que mais ri no ano, há uma fala muito bonita sobre o reconhecimento da figura artística – o que ela representa para o fã- e não da pessoa em si. Os 86 minutos de filme foram quase criminosos, eu queria ver 1 ou 2 cenas a mais como aquela ou até mesmo mais do encontro dos dois ícones – até um desenvolvimento melhor de Nixon.
Elvis e Nixon é sem dúvidas detentor de um humor despretensioso, mas de muita qualidade. Traz o absurdo quase como um personagem. A trilha decepciona um pouco em se tratando de um filme com o Elvis. Aliás, não é genial tecnicamente em nenhum aspecto, contudo cumpre o que promete a maior parte do tempo. Talvez passe batido por muitos, o que será uma pena. Elvis continua vivo e agora Nixon também.