Crítica: Zootopia – Essa Cidade é o Bicho
Zootopia é o mais novo filme da Disney, será que honrou os velhos momentos da companhia?
Ficha Técnica:
Direção: Byron Howard, Rich Moore, Jared Bush
Roteiro: Phil Johnston e Jared Bush
Dubladores (americanos): Ginnifer Goodwin, Jason Bateman, Idris Elba, J.K. Simmons, Octavia Spencer, Shakira.
Dubladores (brasileiros): Rodrigo Lombardi, Monica Iozzi, Ricardo Boechat, Cecília Lemes, Vagner Fagundes
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (17 de março de 2016 no Brasil)
Sinopse: os animais evoluíram e vivem em uma civilização próxima a que temos no nosso mundo (não há humanos, ou pelo menos eles não aparecem, aqui). Cada bicho tem um papel na sociedade de acordo com as características intrínsecas deles. Judy Hopps tem o sonho de ser uma policial, mesmo sendo uma coelha, e fará de tudo para conseguir.
Zootopia – Essa Cidade é Bicho (subtítulo for dummies) me causou sentimentos dúbios. Cada elogio meu tem um porém e cada ponto negativo tem algo de valor por trás. Já abro a crítica dizendo que não gostei tanto quanto alguns colegas, mas Disney você se superou nesta animação… isso é inegável.
O foco da narrativa está em Judy Hopps, uma simpática coelha que tem um sonho de ser policial – algo um tanto problemático pelo tamanho dela. Outro protagonista aqui é Nick Wilde, uma raposa (macho) bem articulada e desenvolta.
Para evitar revelar detalhes da trama, os tão odiados spoileres, vou abordar aqui aspectos mais tangenciais, assim poderão apreciar melhor o filme. Mas posso adiantar que o roteiro é muito bom. Temos uma história que envolve e instiga. Alguns pontos são meio óbvios, é verdade, mas no todo vemos elementos de suspense policial e, é claro, comédia que vão além do normal dos filmes dos gêneros.
As referências ao nosso mundo (tanto as visuais, quanto as textuais) são qualquer coisa de excelente. Há citações de vários filmes, séries, cantores e tecnologias para dar e vender… lembra até Deadpool (acho que serei o único a fazer uma crítica de Zootopia linkando o anti-heroi tagarela). Algumas referências são bem explícitas outras tem que ter estar mais alerta para pegar. E tem uma, de um dos maiores filmes de todos os tempos, que aparece nos dois sentidos: de forma clara e no subtexto.
Claro que o filme é para crianças – e pais controlem seus pequenos, por favor – mas os temas abordados são um tanto complexos. Ao mesmo tempo pode suscitar discussões e conversas com eles sobre preconceito, disputa de poder, drogas, lutar pelos próprios sonhos… Já adianto que dá para levar a criançada tranquilamente e que você e eles terão uma boa experiência.
Os personagens principais tem muito carisma. E mais que isso: eles possuem camadas, são complexos e falhos. Já os secundários tem uma função muito específica, servindo bem nelas, mas não serão tão marcantes.
A primeira cena tem um jeito simples e bem bolado de explicar todo o universo que vamos ser inseridos. Aliás, o primeiro arco como um todo vai bem neste sentido. Rapidamente entendemos como funciona cada coisa. E dá uma vontade de ficarmos mais tempo neste ponto, mas, acertadamente, há uma certa aceleração no ritmo aqui.
O desenvolvimento é um pouco mais longo do que deveria (uns 20 minutos a menos e ficaria joinha – o filme todo tem 107 minutos). Contudo, grandes momentos da história, e talvez o grande mérito, esteja neste ponto da narrativa.
O final é um pouco óbvio e corrido, mas resolve bem as pendências e dá um fechamento bem digno. A última cena tem um corte perfeito e termina com uma das piadas mais engraçadas do filme (como é bom sair do cinema com essa sensação).
Zootopia tem um diferencial inquestionável que é a construção daquele universo. O design de produção cumpre com maestria o trabalho. E temos algo raro até considerando as melhores animações. Típico filme que temos que ver novamente para reparar em tudo. É bastante colorido, mas sem saturar. Os detalhes dos cenários vem como plano de fundo à história e como elemento narrativo. E a integração animais humanizados na cidade é executada brilhantemente.
A trilha sonora é bem pop, focada na Shakira. Digo que, mesmo monotônica demais em alguns momentos, atinge o objetivo de animar e corrobora os elementos que citei antes.
A equipe original de dublagem parece ser muito boa e os nomes são de peso. Mas creio que só vieram para o Brasil cópias dubladas… só que, surpreendentemente, temos um bom trabalho e o resultado foi satisfatório. Vi elogios ao 3D, mas na minha sala acho que a tecnologia deveria estar com defeito, pois só teve o nome Disney ressaltado…
Eu resumo os defeitos (se é que dá pra falar isso aqui) de Zootopia em: um pouco arrastado em um dado momento, uma certa preguiça nos personagens secundários (em O Bom dinossauro ocorreu o mesmo. E gosto quando temos alguém além dos protagonistas para simpatizar) e alguns pontos óbvios na trama. Além disso pensei em um plot twist melhor que o apresentado e quando isso ocorre costumo tirar alguns pontos. E principalmente: ao comparar com outras animações recentes, como as do Oscar (Anomalisa, Divertida Mente, O Menino e o Mundo e até Quando Estou com Marnie), acho que Zootopia não consegue bater de frente.
Mas, para não encerrar em um tom negativo, temos uma sacada muito boa, com piadas que funcionam quase 100% das vezes (e em alguns momentos – como na cena da nudez – dignas de gargalhadas), protagonistas marcantes e uma composição visual extraordinária.
Ou seja, corra para os cinemas para ver Zootopia e, tenho que admitir, esse filme é o bicho….