“Tempos Modernos” – (1936)
O Homem moderno – ou já seria pós-moderno? – vive na dubiedade, na indecisão. É gradual seu estado de melancolia e de ausência de si mesmo diante de tantos fatores, caminhos ou possibilidades que o rodeiam. Vivemos numa atualidade do abandono de nós mesmos, de um ausentar-se de si para à necessidade incessante do que nos sustenta: o capital. Não é possível viver sem dinheiro, isto é, sem trabalhar; É? A disseminação constante dos frutos alheios via rede, ou seja, à internet, é viral e não cessa, é rodeada de barulho, de movimentação; não há silêncio, não há inação.
O acúmulo de tempo que nos doamos é ínfimo perto do restante que doamos às nossas ações “produtivas” e que nos trazem àquela Felicidade que tanto buscamos, já que estamos fazendo algo que nos traz dignidade, sucesso e respeito diante dos olhos dos outros. É de se espantar a voracidade com a qual o trabalho nos oprimi, nos desorienta e ao mesmo tempo, nos dá o conforto de uma cama, de um prato de comida e de um banho quente. Para onde seguir? O que escolher? Vivemos nos tempos sombrios que calham de apagar outras luzes que poderiam dar vida às nossas próprias sem ser à que ilumina somente a rota da necessidade vital com a qual lidamos desde o nosso nascimento.
Com tanta obscuridade, dúvidas, preenchimentos de espaços-temporais que na verdade não sabemos como os preencher, desse modo, o fazemos da forma mais comum: trabalhamos. Adequando-se então a tal forma de vida, nos enquadramos numa cultura produtiva que tem uma avassaladora preocupação com o material, com uma aproximação íntima da técnica produtiva e por isso somos alvo ativo de um afastamento de nós mesmos, de nossos afetos, isto é, ao não nos enquadrarmos nesse ambiente, assim, negamos uma certeza; é como dizer não ao que nos pode fazer bem, é ausentar-se do comum à todos. O ócio, a preguiça, a dessemelhança ao que nos rodeia diariamente são abstrações para quem as condena, e o intuito é refletir sobre isso, sobre essa acusação ao não trabalho, visto que o não trabalho é ruim, deprimente, pejorativo. Porém, o que é essa afirmação e o que significa isso: não trabalhar? A negação do ócio, como etimologicamente a palavra negócio se explica, é o intuito dessa reflexão, ou seja, é preciso elogiar tanto o ócio quanto a preguiça no sentido de se expor o que o trabalho e o modo de vida com o qual ele convive, representa nas nossas vidas. É preciso, então, ter-se o direito à preguiça.