“True Detective” – 2014
Porque não começar pela abertura? Ao som da banda The Handsome Family temos uma visão do que está por vir. É um contágio imediato com a letra, com a melodia e com o estado e simpatia com os quais a música dialoga, sem falar das imagens que compõem a cena. É muito claro quando um dom artístico nos prende, nos atenta, nos faz perceber o quanto aquilo – aquela coisa fruto de alguma inspiração – nos aproxima da arte e nos revela o quanto importa sim o talento. Não é necessário aqui desviar a rota do meu pensar para encontrar uma resposta sobre o que seria esse engenho e de onde viria, contudo, não afirmar que tal vigor ou habilidade exista, é demasiado ingênuo.
É um trabalho delicado e complexo, mas ao que ao mesmo tempo simples no seu formato, isto é, não nos encontramos com o espalhafatoso, exagerado – com muitas explosões, tiros, etc, pelo contrário, quando o menos consegue transparecer o mais, com certeza tem algo de diferente. Não é necessário artifícios externos, por exemplo, ao trabalho dos atores tanto quanto para à direção que, como uma forma de necessidade, dêem credibilidade à narrativa. Nico Pizzolatto é o escritor dessa obra. Seu modo de trazer à realidade fatos íntimos de cada um de seus personagens e juntamente dialogar com a profissão difícil de ser um policial, em certa medida, nos informa o quanto nos identificamos com algumas falas como também com os diálogos propostos, os quais se distanciam da normalidade para algo além. Embora a série, no atual momento, tenha já a sua segunda temporada lançada, me resguardo à primeira.
Em True Detective, os principais atores: Matthew McConaughey e Woody Harrelson. Não tenho a intenção de menosprezar o trabalho dos outros atores envolvidos como também fazer algum tipo de comparação – mesmo que isso talvez esteja subtendido na minha escolha, porém não por acaso. Matthew além de ótimo ator, faz um trabalho magnífico interpretando Rust. Woody, que conheci o trabalho no filme White man can’t jump de 1992, traz de novo sua energia e sua vivacidade para seu papel Martin. Ambos são policiais e trabalham numa delegacia de polícia do Estado de Louisiana, localizado ao sul dos EUA.
É um tanto interessante dizer que True Detective me lembra muito ou me traz algo do cinema, talvez na forma dramatúrgica, não tenho certeza, porém quando assisto a um episódio sinto-me como estar experimentando apenas uma parte de um filme e ele não acaba ao fim de um capítulo, pelo contrário, só termina quando é finalizada a temporada. O argumento é tão bem escrito e diagramado quanto o é feito de forma sutil, entretanto, com muita força, que somente tem essa característica porque temos um corpo de atores fabulosos e que arrebentam em cena. Digo isso com vista ao modo pelo qual acredito no que vejo, no que os intérpretes sentem quando vivendo aqueles papéis, é vívido e o tempo passa muito rápido, pode ser numa cena onde Rust é quem fala e Marty é quem escuta ou quando um deles só, acompanhado de seu cigarro e suas latas de cerveja, transborda do papel – através do corpo, dos gestos, de sua fala – às palavras bem escritas por Nico. Temos nesse trabalho, o que podemos considerar como o de mais precioso na arte da interpretação quanto de fazer cinema: o crível (em se tratando de uma obra realista). A busca por um serial killer já fora tema de outras séries ou ainda é, mas neste caso essa caça se dá de forma diferente. É através do futuro, ou seja, de relatos onde ambos os personagens, que após um tempo afastados contam essa estória – como narradores, temos o encontro do acontecido ou do inventado, temos os trejeitos de cada um deles quando abrem a boca pra contar suas versões do ocorrido, são os pontos de vista distintos contudo compactuados que nos trazem a beleza do conto escrito, dito e filmado.
Para quem é ator, diretor, dramaturgo, escritor ou apenas um apaixonado por séries, deve assistir a essa bela obra de arte. Recomendo bastante., principalmente a primeira temporada.
https://www.youtube.com/watch?v=TXwCoNwBSkQ