Divertida Mente Vs Minions – Uma experiência na fila do Cinema

Este artigo começa com uma historinha que me aconteceu. Era um Domingo diferente. Fui até a Poços de Caldas para passear com minha namorada. Um passeio legal, baixo custo (afinal, como todos sabem, o país não passa por um bom cenário na economia). Mas como lá tem um cinema 3D no shopping (no centro da cidade também, mas no shopping tinham 4 fuscas restaurados muito caprichados, ótimos para admiração de um fã de carros antigos), assistimos o filme que estava sendo lançado naquele final de semana: Minions.

Filme 3D, cidade maior, o custo era um pouco maior. Perguntei para minha namorada se ela topava, e disse que sim. Porém, como uma boa parte das mulheres, ele preferiu passear nas lojas no lugar de ficar na fila do cinema (espertinha heim!). E lá eu fiquei esperando… Na fila, logo após meu lugar, viria uma famíla: um pai com cara de pouco entendido em cinema (que nitidamente estava lá só para levar os filhos) o filho de uns 8 anos, a filha de aproximadamente 14 ou 15 anos. Faltava a mãe, mas ela estava por vir.

Quando você está em uma fila grande de um cinema o temor é um só: acabar os ingressos para a próxima sessão do filme que você quer assistir. É claro que o pai em questão estava com esta preocupação, e com medo de pegar uma fila por nada, o homem começou a levantar a hipótese de assistir outra animação em cartaz. Então ele falou “Divertida Mente… será que este filme é bom?” E eu, com minha inocência de cinéfilo fascinado por este último filme, disse “Ele é ótimo”.

Pronto… esta foi a deixa para a recém adolescente me lançar um olhar de “cara, eu te odeio profundamente, principalmente se meu pai entrar nessa história de ‘Divertida Mente’.” Minha gente… juro que pensei na hipótese da garota me puxar pelo colarinho e dizer “cala a boca”. Nesse momento olhei para o pai e vi a possibilidade da menina estar certa: enxerguei a dúvida no olhar do homem que nitidamente estava mais afim de sair da fila do que comprar o ingresso, o amor paternal venceu e ele levou as crianças no filme que elas queriam: Minions. Este é um daqueles momentos que o mais certo é ficar quieto, afinal a garota tinha aproximadamente 1,65m e o pai uns 1,95m e uns 110kg. Eu com meus 1,72m e meus 100kg naquela época… bem… apesar  de saber que “Divertida Mente” seria muito melhor que Minions (mesmo sem assistir este segundo filme) a chance de uma lesão se não mantivesse a boca fechada seria grande.

Mas a coisa não para aí. Durante a semana após a estréia do filme, comentei com uma colega de trabalho que a animação da Pixar era muito boa, e ela resolveu levar a filha de 6 anos para assistir. Depois de algum tempo perguntei “o que você achou do filme?”. A resposta foi algo assim: “Pelo que me contaram do filme, esperava mais dele”, e também disse que a filha não gostou. Certamente elas gostaram mais de Minions…

E não são somente estes casos próximos á minha pessoa que demonstram esta preferência. A tabela abaixo foi retirada do site Wikipedia, no dia 03/08/2015. Reparem que Minions teve a terceira maior bilheteria do ano no Brasil até o momento e “Divertida Mente” está em nono… Vejam que interessante: entre estas duas colocações citadas temos apenas uma história original, que não é uma seqüência de uma franquia ou ainda uma adaptação de outra mídia, e este filme é “Loucas Para Casar” uma comédia romântica nacional com atores já famosos na comédia nacional (como Ingrid Guimarães e Tata Werneck).

Mas a pergunta é: O que leva à esta situação? Na tabela acima apenas 2 longas são originais, não são derivados ou adaptações… O que acontece? E para responder isso vou citar 3 pessoas, sendo elas: 1)Rubens Ewald Filho via Rafael Arinelli 2) Erico Borgo do Site Omelete 3) Canisso, baixista dos Raimundos.  Lá vai:

1) Uma vez, em um dos vários momentos que acompanhei o que é publicado aqui no Cinem(ação) ouvi o Rafael Arinelli falar sobre Rubens Ewald Filho. Arinelli disse que Ewald possui umas 5 formações superiores, nenhuma delas relacionada diretamente à cinema, podendo mencionar que para ter uma opinião respeitável sobre cinema, é necessário um conhecimento amplo. 2) Assistindo um dos vários comentários que li sobre “Divertida Mente” vi Érico Borgo dizer algo próximo à “‘Divertida Mente’ não possui aquele fator de repetição, que muitos filmes tem onde as mesmas coisas acontecem durante o longa, e isso facilita o entendimento pelas crianças. Por isso, tenho medo que as crianças não gostem muito deste filme”, e fora isso, ele teceu vários elogios ao filme. 3) Assistindo uma entrevista do Canisso, baixista dos Raimundos, ele disse algo assim: “As gravadoras (no caso, podemos ler produtoras de cinema) não se arriscam mais. Não lançam novas bandas e principalmente novos estilos musicais (filmes) pois não querem mais se arriscar”. Se não me engano, ele disse que a origem deste problema estava na pirataria, mas já estou estendendo muito este texto e não vou tocar no assunto pirataria.

Onde quero chegar com isso tudo? Simples: É natural das pessoas procurarem uma zona de conforto, um área já conhecida, um caminho pelo qual já percorreu, que já conhece (especialmente crianças e adolescentes). Pouquíssimas pessoas investem tempo e dinheiro em expandir seus conhecimentos e sair da sua zona de conforto e, pelo menos tentar entender algo diferente. Sendo assim, é normal pessoas procurarem pelo que já conhecem, e no cinema isso implica procura por franquias e adaptações de roteiros vindos de outras mídias já conhecidas. Não é um defeito das pessoas não procurarem coisas diferentes, não procurarem entender o novo, elas estão apenas seguindo nossa tendência em explorar nossa zona de conforto. Ciente desta vontade humana, os grandes estúdios de Hollywood trabalham a repetição, pois normalmente ela é bem mais atrativa que o novo (e bem menos arriscada financeiramente). Afinal, é muito melhor investir no certo do que no duvidoso.

Minions tem tudo isso (como já era de se esperar): É um filme derivado de um sucesso de animação da Universal (Meu Malvado Favorito 1 e 2), onde trabalharam os personagens cômicos de uma franquia e decidiram estender a mesma temática, com praticamente as mesmas piadas e idéias básicas do primeiro filme. Resultado: riso na certa. Aliás… eu mesmo ri muito mais em Minions do que em “Divertida Mente”, porém, a vontade de voltar assistir, de ler sobre, de escrever sobre o filme da Pixar é muito maior que a vontade de escrever sobre os ajudantes amarelos de Gru. Aliás… acredito que esta seja a vontade da maior parte da equipe e dos leitores do Cinem(ação), pois até o momento, ninguém escreveu sobre a nova animação da Universal (e acredito que pouca gente notou esta falta).

Depois de tudo isso, só me resta parabenizar a Pixar (coisa que provavelmente a maioria dos cinéfilos de plantão deseja fazer) por mais esta ótima animação, que consegue se posicionar entre as 10 mais assistidas no país, e certamente entre os 10 mais recomendados de qualquer cinéfilo de plantão.