Crítica: Azul é a Cor Mais Quente (La vie d’Adèle – 2013)

Entrei nesta roubada por causa de um grande amigo que me disse: “você só escreve sobre ‘blockbusters’, está na hora de você escrever coisas alternativas”. Mal sabia ele da lista de prêmios que este filme ganhou… e veio à calhar, afinal, percebi que nós do Cinem(ação) não falamos sobre ele. Perdão pessoal. Falha nossa. Vamos corrigir isso agora.
O nome em francês do filme não diz muito sobre o mesmo… “A vida de Adèle” (tradução livre) é um nome fraco para dizer sobre o filme. O nome em português é realmente, muito mais comercial e diz muito mais sobre o filme, assim como o nome em inglês. Na verdade, o nome “Le Bleu est une couleur chaude” é o nome do romance gráfico de Julie Maroh de onde foi baseado o filme. 
Graças à esta história, posso dizer tranquilamente nunca ter passado por tanta vergonha assistindo um filme dentro do meu apartamento… Ele tem cenas muito, mas muito picantes, de sexo explícito, e como são cenas de sexo lésbico, é algo muito diferente, e que inocentemente eu não esperava do filme. O duro foi atender o celular, sair da sala para conversar sem o barulho da TV e ter que voltar correndo para parar o vídeo pois as protagonistas estavam em uma inesperada cena de sexo… e aos gritos! Cheguei até ouvir a vizinhança abrir e fechar a porta… até hoje penso que estavam prestes à bater na porta do meu apartamento para reclamar do barulho… e espero nunca descobrir se estavam fazendo isso mesmo ou não! E para explicar ao telefone o que estava acontecendo?! Nossa… essa cena me deu trabalho! Deste ponto em diante fiquei mais atento.
A direção do filme ficou à cargo de Abdellatif Kechiche, um diretor Franco-Tunísio, que coloca algumas influências culturais árabes no cotidiano do filme, especialmente com músicas (o que aparentemente já é comum na Europa). Mas o destaque não está aí. Está na forma de contar a história e a passagem do tempo. Demora para perceber que esta passagem se refere à anos ou meses, e não à dias ou semanas. No começo a troca de cenas se refere a dias, mais no fim, se refere à anos. Não sei se não tive inteligência ou sensibilidade suficientes para perceber isso logo ou se é difícil mesmo de se entender, mas quando me toquei disso (já no fim do filme) ele ficou mais agradável. Aliás, o fim do filme é o mais interessante, mostrando uma daquelas lições de vida onde deixar algumas coisas como estão é o melhor a se fazer. Mas as últimas cenas são… como diria… elas geram muita ansiedade! Ao fim, você quer que a principal personagem fique bem, mas não vou me estender mais no assunto para gerar uma expectativa do filme pois vale assistir.

Por fim, o roteiro escrito por Julie Maroh (a autora da HQ) Ghalia Lacroix (uma roterista francesa) o próprio diretor Abdellatif Kechiche, conta uma história de amor, não diferente de uma história que você, eu, ou no mínimo alguém que você conhece viveu (em um relacionamento heterosexual ou homesexual, tanto faz, um relacionamento de amor de verdade, de paixão, de ciúmes, encontros e desencontros). A roupagem homosexual deixa tudo diferente, assim como a descoberta da própria personalidade (no caso da personagem Adèle). A direção, o roteiro, as imagens (que muitas vezes são sem falas na tentativa de reproduzir a sensação que as imagens dos quadrinhos provocam) e o roteiro são atrativos (apesar do filme arrastar em alguns momentos). Pena que as cenas de sexo explícito são muito intensas e em alguns momentos deixam o filme muito próximo da vulgaridade. É certo que levou a Palma de Ouro e tenho que admitir que o filme é bom… mas honestamente… já assisti melhores.