"La Delicatésse" - A delicadeza do Amor (2011) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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“La Delicatésse” – A delicadeza do Amor (2011)

“E assim é numa sociedade consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a “experiência amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço”. (BAUMAN, 2004, p. 22)

A busca pelo amor imediato como uma compra numa loja de um shopping ou como o saciar de um desejo rápido ao comer um doce, é o que, em Amor Líquido, Zygmunt Bauman faz, ao comparar o ideal romântico à luz de um olhar crítico e presente sobre o tema na sociedade contemporânea. A questão se esbarra tanto na tradição de que quando encontrarmos alguém que nos complete por inteiro seremos felizes para sempre, como por exemplo o cinema infantil faz, com os personagens da princesa e do príncipe, os quais foram destinados a viver um para o outro; quanto ao conceito de beleza tanto do homem quanto da mulher, ou seja, o príncipe louro de olhos azuis e impecável em seu traje e porte, e a princesa que se apaixona por ele ser tão belo e rico; há também a menina que perde o pai e torna-se empregada em uma casa, contudo, não perde as esperanças de viver bem e um dia encontrar um grande amor, e assim, se apaixona pelo príncipe do castelo.

Tais contos sobre o amor são mitos? A arte na estética platônica seria como uma produção do espírito fundamentada na mímeses (imitação). O artista, então, não seria apenas um mero imitador da realidade sensível e esta para o filósofo grego, é apenas uma imitação do mundo das ideias, por conseguinte, a arte tornar-se-ia uma dupla mentira, ou seja, uma imitação da imitação. A intenção de tratar aqui de alguns momentos da filosofia é buscar mais sentidos sobre o que viria a ser esse amor ideal segundo os contos de fadas e esse amor imediatista, segundo Bauman, que vivemos atualmente. Por mais que vivamos desde crianças vendo e assistindo filmes, séries e desenhos os quais incessantemente nos mostram o que deveria ser o amor ou como ele deveria acontecer, na realidade, não é o que acontece.

A crença no mito do amor ideal pode existir para algumas pessoas mas para a maioria, ainda mais hoje em dia, é uma completa mentira. Não se acredita mais no amor puro e sincero, não se dá mais flores para quem se ama, não há gestos de carinho que comportem o bem estar imediato e supérfluo do comportamento humano contemporâneo. Atualmente a ideia de se ter somente uma pessoa pelo resto da vida é motivo de risada, de chacota, de dispersão do real e assim sendo, há a descrença no tradicional já que tudo que um dia existiu, como tradição, não se tem mais valor, o mundo mudou, as pessoas mudaram, as liberdades se confundiram umas com as outras; entretanto, se apaixonar de verdade por alguém seria então um erro? Libertar-se do paradigma de estar com alguém considerado bonito pela mídia ou pelas revistas de fofoca ou mesmo pelo ideal do belo é então algo vergonhoso nos dias de hoje, ou seja, ao nos dedicarmos à algo singelo por alguém que nada mais nada menos tocou nosso coração, independentemente se essa pessoa é rica, loura de olhos azuis, forte, etc, é ruim, não basta. Há uma frouxidão dos laços afetivos, dos desejos duradouros, assim como, do medo de prender-se no relacionamento errado e fechar-se à possibilidades de outros amores.

A Delicadeza do Amor - Crítica do filme by Película Criativa 2

Segundo Hegel, do sol que se põe nada se pode dizer além de “como é belo”, pelo fato disto não ser para-si e existir somente enquanto ser para-outro. Com isso, Hegel quer dizer que o por-do-sol necessita da participação do espírito para ser reconhecido como tal, tornando-se, apenas, um reflexo do espírito humano, o modo pelo qual o espírito humano contempla sua própria beleza. Dito isto, o filme A Delicadeza do amor é um suporte para os que acreditam no simples, no que pode vir a ser verdadeiro, nos que realmente acreditam no amor.

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