‘Professor Godoy’ e a relação fetichista entre professor e aluno.
Sou formado em Letras e já fui professor de língua inglesa. Um mediano professor estagiário dependente do caderno de anotações. (Confesso!)
Estive dos dois lados do campo minado que são as quatro paredes de uma sala de aula. ‘Agredi’ e fui agredido, pesquei e combati (tentei) vorazmente a prática do ato, desejei e fui objeto de desejo.
Na minha época de aluno, fiquei ansioso para ter vários professores, um de cada matéria. Depois ansiava com o ingresso no Ensino Médio. E não era por causa do ENEM, era porque queria ter os professores das turmas mais maduras da escola.
“Perdi a conta de quantos tive. Alguns sequer lembro o nome, já outros são inesquecíveis, pelos mais variados – e despudorados– motivos”.
O professor é repetente em todas as fases da nossa contínua vida de aprendiz. Seja na pueril e traquina infância ou na ebulição hormonal da adolescência, o papel do mestre é fundamental na disseminação do conhecimento e na formação dos homens de outrora.
Nada irá superar o poder da oralidade e o calor da matéria humana.
“Professor Godoy” é um filme de pouco menos de quinze minutos, que passa longe de ser enfadonho como uma aula de matemática.
O personagem-título é a representação de toda uma classe e da relação recheada de imaginários, fetiches e provocações que configura a via de mão dupla entre Aluno – Professor.
O título do curta metragem do cineasta paulista Gui Ashcar, foi uma fagulha nostálgica na minha busca por curtas metragens pela web.
– Quem é Godoy?
– Que tem esse professor de diferente dos outros para ter seu nome e seu título no cartaz de uma produção cinematográfica?
Um homem exaurido há 25 anos acostumado com a equação da rotina exata se vê diante de um jogo enigmático com um aluno.
Bilhetes em forma de teoremas matemáticos ambíguos dão o tom ao provocante jogo. As investidas do jovem Felipe (Kauê Telloli) travam uma guerra logarítmica entre o desejo aos olhos do Prof. Godoy (Roney Facchini) e a ‘obrigação’ moral de contê-los.
O diretor consegue captar com sutileza e precisão todas as nuances do fetiche latente na relação proibida entre mestre e aprendiz. Qualidade que reflete no ótimo desempenho dos atores em cena. Roney passa todo o peso da sua maturidade e com ele o medo, o receio moral de estar vivendo um flerte homossexual com um jovem menor de idade e seu aluno. Enquanto Kauê, na entonação da voz, nos trejeitos faciais, encarna bem à vontade o papel do adolescente que provoca e tem plena consciência do seu poder.
Outro mérito do roteiro é a desconstrução que o personagem título faz.
Godoy é totalmente o avesso dos estereótipos do professor cobiçado por 90% do seu alunado. É velho de guerra, baixinho, barrigudo, careca…
“Como em uma sala de aula, ora me vi como professor, ora me vi como aluno, totalmente envolvido na ação (…). Fiquei instigado em saber o resultado final dessa equação (…). Odeio matemática, mas a prova dos nove não deixa dúvida de que o curta poderia (e ainda pode) virar um teorema de longa duração”.