MANSOME
Como me é de costume, aproveitei o domingo à noite para apreciar um documentário, já que a minha tolerância para programas de TV não está das melhores ultimamente. Parti para o Netflix e fui dar uma olhada nas sugestões que o site me dava, neste momento, dei de cara com “Mansome”(2012). Ao ler a descrição tive a sensação de que já sabia o que estava por vir, mas de qualquer modo resolvi encarar.
Dirigido por Morgan Spurlock – “Super size Me”(2004) -, o documentário atinge como tema central a “vaidade masculina”. Basicamente, trata de como os homens têm cuidado de sua aparência nos últimos tempos, o que é bonito ou feio e sobre como este cuidado com a estética vêm mudando. Não preciso dizer que, apesar de cômico, o documentário é bastante superficial. Contudo, eu tendo a acreditar que promove alguns pontos importantes para reflexão. O cuidado excessivo com a aparência não é de hoje, o que mudou nas últimas décadas foi que este não se restringe mais apenas às mulheres, mas também aos homens. A indústria da beleza finalmente descobriu um campo promissor de consumidores, ela só tem de convencê-los, ano após ano, de que este é o novo padrão de “homem moderno”.
Sabe-se que os ideais de beleza se alteram com o tempo, as roupas e traços físicos que eram admirados no século passado talvez não sejam observados atualmente com o mesmo entusiasmo. Porém, o que me assusta – além da extrema valorização da aparência física – são as razões biológicas atribuídas a este comportamento. Compreender as razões da incessante busca pela perfeição física no ser humano têm sido o objetivo de muitos estudiosos. Ora, mas será que quando justificamos nossas angústias e questionamentos pelo viés biológico não estamos, pelo menos em parte, impossibilitando a discussão do ponto de vista cultural? Não estamos nos abstendo da nossa responsabilidade enquanto seres humanos ativos na construção da sociedade? Por exemplo, quando nos restringimos à razões meramente reprodutivas ou dizemos que determinada mulher é mais atraente porque é “natural” o homem se interessar por ela, já que ela possui determinadas proporções físicas, estamos naturalizando o processo. Ou seja, neste momento, termina-se a discussão, tiramos o peso das nossas costas, das costas da cultura, da indústria e do comércio, para colocar na biologia, no “instinto”.
Quero deixar claro que não estou negando, em momento algum, a biologia, mas acho importante parar para pensar sobre a sociedade que nós também estamos construindo. Além do que, vimos todos os dias filmes, novelas e celebridades do mundo inteiro que ditam, dia após dia, o que deve ser bonito ou feio. Por isso, eu gosto de me questionar: por que será que damos tanta importância para isso? Por que tantos concursos e revistas de beleza? Por que temos de estar constantemente preocupados com a estética?
Ainda poderíamos discutir sobre outras temáticas envolvidas, como o sofrimento gerado por “não estar dentro dos padrões de beleza” ou ainda a discussão machista sobre “masculinidade fragilizada”, quando homens se submetem a tratamentos estéticos. Veja que o meu propósito aqui é levantar questionamentos, é preciso refletir para saber que caminhos queremos tomar. Queremos manter as coisas como estão? Será que não estamos ficando preocupados demais com a nossa aparência, por que nos falta conteúdo? Assista-o e reflita, discuta e questione-se.