Crítica: Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025)
Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025)
Direção: Jennifer Kaytin Robinson
Roteiro: Jennifer Kaytin Robinson, Leah McKendrick, Sam Lansky
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, Austrália, Canadá, 2025
Elenco: Madelyn Cline, Chase Sui Wonders, Jonah Hauer-King, Tyriq Withers, Sarah Pidgeon, Billy Campbell, Freddie Prinze Jr., Jennifer Love Hewitt, Gabbriette, Austin Nichols.
Sinopse: Após causarem um acidente de carro fatal, cinco jovens amigos prometem guardar segredo sobre a tragédia que causaram e seguir em frente com suas vidas. Mas o passado volta para assombrá-los quando são perseguidos por um maníaco armado com um gancho.
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Em uma das sequências finais da nova versão de “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”, um personagem fala para outro (com o mínimo de spoiler por aqui):”Anos 90 de novo. Você sente a nostalgia?”. Enquanto o outro responde “Nostalgia é superestimada”.
Essa autoconsciência do filme estabelece um parâmetro interessante para a produção. No fim das contas, “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”, que convive entre o remake, reboot e algo novo, se estabelece como se fosse uma grande piada com o próprio passado. E isso não apenas por uma fala mais escancarada, e também para constituição cênica de uma produção que gira em torno de cenários repetidos com o primeiro filme, de 1997.
O grande problema é que essa “piada” só está, no fim das contas, em pouquíssimos momentos. Além disso, em vez de querer soar como se fosse uma aura, continuação espiritual, esse novo basicamente se transforma em dependente do longa original. Ou seja, ele é sua âncora de desenvolvimento e da própria existência.
Um dos exemplos mais translúcidos disso é a participação de dois personagens da franquia original: Julie James (Jennifer Love Hewitt) e Ray Bronson (Freddie Prinze Jr.). Apesar de não serem protagonistas, se transformam em relevantes para a trama andar. Essa que, em sua base, é a mesma da de antes. Um grupo de amigos formados por Ava (Chase Sui Wonders), Danica (Madelyn Cline), Teddy (Tyriq Withers), Milo (Jonah Hauer-King) e Stevie (Sarah Pidgeon) se envolvem em um assassinato na comemoração do dia 4 de julho. Um ano depois, eles passam a ser perseguidos por um assassino envolvido com a morte daquele dia.
O mais curioso do novo “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado” é que ele quase ecoa um lado bem próprio na sua direção. Jennifer Kaytin Robinson parece sempre transitar em um olhar irônico sobre esse universo – algo recorrente nas produções de terror mais jovens atualmente – com uma brincadeira sobre o universo enganado por si próprio que tenta esconder o passado, mas vive eternamente atormentado por ele. Mas o tempo todo a primeira parte engole a segunda e canibaliza o próprio filme.

Estruturalmente, a produção até remete a “Pânico 3”, de Wes Craven, em que há uma brincadeira da ideia de retornar para todo esse universo e relembrar todos os cenários e situações. No entanto, se nesse a ironia é onipresente em uma narrativa que abraça o terror e a comédia (compreender que o que atormenta estará sempre atrás de você ao mesmo tempo rir de si mesmo com isso tudo), em “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado” tudo vira graúdo, sem nem se tornar pesado o suficiente e nem cômico o suficiente.
Essa ideia de relembrar os cenários e locações é uma que a franquia “Pânico” utiliza como maneira irônica, ao brincar até mesmo dentro do terror – a fuga em um mesmo espaço no 1 e no 3 são completamente diferentes. Aqui ela é apenas um fundo, uma referência, completamente vazia de sentido e que busca ser apenas uma piscadela para o público. É como se o filme trouxesse através do roteiro isso para ser um peso a esse universo e uma lembrança de um eterno retorno e, ao mesmo tempo, só ele estar achando isso legal.
Esse problema de tom ainda torna o filme em algo mais sem identidade. É como se todas as piadas que envolvessem isso caíssem em um caminho completamente vazio (a morte na mansão é algo bem claro disso).
Talvez a ideia fosse transmutar “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado” para a década de 1990. Porém, o filme não consegue observar nem mesmo os bons filmes que se utilizam de uma espécie de decadência cênica do terror naquele período, inclusive o próprio longa original. Nessa autorreferência e auto ironia, fica bem claro que o elenco e Robinson se divertiram e riram muito com o processo, o problema é que isso ficou tão distante de transparecer para um momento da tela, que tudo ganha contornos vazios.

Ao fim, a produção ainda traz uma cena pós-crédito para fazer uma nova conexão com a trilogia clássica. E adivinha? Mais uma vez é uma piada que soa apenas para eles próprios.
Rodando em círculos, falta para “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado” o que “Pânico 3” faz tão bem: compreender que retornar para esse mesmo mundo é sempre uma forma de fracasso pessoal. Só que, enquanto no segundo, parece que um mundo anda ao refletir sobre isso, no primeiro parece que estamos retornando apenas para trás, e parando em um “O Dentista” da vida.
Nota: 1 /5