Crítica (2): Superman (2025) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
4 Claquetes

Crítica (2): Superman (2025)

Superman
Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2025
Elenco: David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult, Edi Gathegi, Anthony Carrigan, Nathan Fillion, Isabela Merced, Sara Sampaio, Christopher McDonald, Pruitt Taylor Vince, Neva Howell, María Gabriela de Faría, Frank Grillo.
Sinopse: Em Superman, acompanhamos a jornada do super-herói em tentar conciliar suas duas personas: sua herança extraterrestre como kryptoniano e sua vida humana, criado como Clark Kent. Dirigido por James Gunn, o novo filme irá reunir personagens, heróis e vilões clássicos da história de Superman, como Lex Luthor, Lois Lane, Lanterna Verde, Mulher Gavião, entre outros.

.

*leia a outra crítica do filme aqui

Há uma máxima dentro das relações internacionais que a política internacional é anárquica. Isso não é em um sentido pejorativo, mas sim na sua característica primordial de não ter uma mediação. Caso aconteça algo com você dentro do Brasil, por exemplo, é possível acionar a Justiça, a polícia e mais. Se um país ataca o outro, quem está lá para “impedir” isso, a não ser pelo uso da força?

Mas imagine um universo em que há uma intervenção sobrenatural, não humana. É através desse caminho que James Gunn começa “Superman”, filme inaugural do novo universo cinematográfico da DC. Ele faz uma passagem no tempo desde a chegada do bebê kriptoniano, até sua intervenção em uma guerra que causou uma crise diplomática, chegando ao momento fatídico: pela primeira vez, Superman foi derrotado.

É fundamental essa forma inicial da produção porque Gunn estabelece, de cara, dois elementos que serão fundamentais no andamento do filme: a política e o herói falho. Longe de qualquer busca de perfeição, Superman aqui é praticamente um personagem no início de carreira. Erra ao lutar, não entende os pontos fracos do inimigos e apanha – como apanha. Porém, isso é sua base para elucidar a discussão de que não estamos vendo uma figura de um extraterrestre e sim, no fim das contas, de um humano.

A direção trabalha a ingenuidade do personagem perante seu universo a todo instante. Em uma conversa com Lois Lane (Rachel Brosnahan), que sabe que Clark Kent é Superman (David Corenswet), ele diz que o único objetivo de ter impedido a guerra entre os dois países foi evitar mortes e salvar a população. Havia um caráter humanitário, de um herói que busca apenas o bem. No entanto, esse mesmo que não compreende como a atitude gera uma crise de desconfiança na população – ele reclama das hashtags que se usa contra Superman – e da diplomacia dos Estados Unidos com ambas as nações.

Mas é possível controlar esse herói? Gunn estabelece outro elemento fundamental na compreensão da humanidade desse universo: a mídia. Ela é fundamental para a consolidação de narrativas por todas as partes. Isso em um caráter mais direto, como no jornalismo exercido por Lois e Jimmy Olsen (Skyler Gisondo), até mesmo de uma forma indireta, quando Lex Luthor (Nicholas Hoult) busca acabar com a coisa mais importante para o herói: sua reputação.

As telas se transformam em um elemento fundamentalmente de criação de histórias por si só. E elas precisam ser completas para fazerem sentido. Esse caráter fica bem evidente na discussão da encenação ao trazer um plot twist da mensagem dos pais originais de Clark (ou Kal-El). Ela é amistosa ou não? Novamente, a anarquia das relações internacionais entra em ação. Até que ponto é possível confiar em um herói falho e capaz de intervir em tudo?

A conexão de Lex com Superman é outro fator que permeia a narrativa ao abarcar o poder financeiro como elemento fundamental. Em certo sentido, “Superman” quase chega a ser um filme antissistêmico, visto que coloca o herói como uma figura de baixo, imigrante, enfrentando a riqueza e poder americano. Assim, o vilão é alguém que busca controlar apenas pelo dinheiro. Ele faz porque pode. E busca comprar o que não consegue humanamente: ser o Superman.

É interessante que Lex até mesmo é capaz de domínio sobre a tecnologia e outros grupos. Ele, enquanto um homem branco, controla capatazes diversos (de etnias e raças), assim como seu principal exemplar robótico é uma mulher latina (Maria Gabriela de Faria).

O discurso de Hoult em uma das sequências finais sobre a inveja que sente de Kal-El é algo que toca diretamente nesse tema. Lex é, no fim das contas, uma figura ressentida porque percebe que não pode nem mesmo controlar uma guerra pela força financeira por não ter o poder que Clark possui.

Todos esses elementos estão presentes dentro da projeção junto do relacionamento entre Lois e Clark, os outros heróis que mediam o universo (Mulher Gavião, Sr. Incrível e Lanterna Verde), os pais de Clark, entre outros assuntos. O maior problema de “Superman” é justamente tentar encontrar conurbações entre esses diversos núcleos. É algo que, em uma parte dos casos, parece travar um pouco o andamento do longa. Porém, na maior parte das vezes, flui pelo elemento central da busca da humanidade desse personagem. Ele se aproxima mais de um vendedor de falafel do que necessariamente de outros heróis.

Outro fator que parece gerar gargalos na produção é um pouco da própria ironia ao lidar com a ideia de um universo já “estabelecido”. Enquanto defende isso em diversos momentos, a encenação faz questão o tempo todo de rememorar certas questões em um caráter bem expositivo. Isso fica claro desde o início, em que o roteiro quase se transforma em um elemento chamativo para a trama. Um dos exemplos disso é na cena em que Clark está com os pais no sítio e eles relembram seus nomes, quando o encontraram pela primeira vez e mais.

Em certo sentido, isso pode ser encarado como um reforçamento do lado quadrinesco que a trama busca ter. Em toda HQ, seja de origem ou não, há sempre reforçamento de ideias. No entanto, soa confuso quando o mesmo longa defende o contrário no seu letreiro de abertura.

James Gunn é bem claro no que quer construir, no fim das contas. Se isso peca pelo excesso em alguns instantes, em outros transborda o cartunesco que poucos filmes de herói conseguiram anteriormente. 

“Superman” é como estar lendo uma graphic novel ou uma especial do personagem nas bancas. Porém, não uma das histórias descartáveis, e sim aquela que será possível guardar bem na coleção. Falar de uma HQ combina com a própria ideia da mídia que a narrativa está abordando, no fim das contas. É mais uma forma de mediação dos diversos elementos do universo.

Mas aqui, o herói é uma figura capaz quase de acabar com essa anarquia internacional. Acabar com o sistema financeiro. Acabar com o controle de governos ou midiático. Ele é verdadeiramente um elemento capaz de balançar com o universo. Isso sem necessariamente o poder. Apenas sendo humano.

Nota: 4 /5

Deixe seu comentário

×
Cinemação

Já vai cinéfilo? Não perca nada, inscreva-se!

Receba as novidades e tudo sobre a sétima arte direto no seu e-mail.

    Não se preocupe, não gostamos de spam.