Crítica: Thunderbolts*
Thunderbolts* – Ficha Técnica
Direção: Jake Schreier
Roteiro: Eric Pearson, Joanna Calo
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2025
Elenco: Florence Pugh, Sebastian Stan, Julia Louis–Dreyfus, Lewis Pullman, David Harbour, Wyatt Russell, Hannah John–Kamen, Geraldine Viswanathan, Wendell Pierce, Chris Bauer.
Sinopse: Um grupo de anti-heróis do universo Marvel que se une em busca de sobrevivência acaba se vendo em uma aventura que mudará completamente suas vidas.
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O SIMPÁTICO E DECENTE THUNDERBOLTS*
De fato, “a Marvel voltou” desta vez, em algum nível, só que isso vai variar do quanto você acha que o MCU realmente já foi grandes coisas. Eu não sou um desses. É um filme diferente das atrocidades que quase nem podem ser chamadas de cinema como Deadpool & Wolverine e Capitão América: Admirável Mundo Novo ou das bagunças completas tipo Quantumania e outras paradas do tipo, ele segue muito mais o esquema dos longas-metragens até a fase 3 da Marvel ou bobagens com um verniz falso como Wandavision só que em um viés mais positivo (porém não muito): produtos que são muito mais uma junção algorítmica de estratégias de negócio, estímulos e fórmulas seguidas esquematicamente e milimetricamente do que filmes ou cinema de fato. Produtos que servem a uma funcionalidade engessada, que é o contrário da criatividade.
Thunderbolts* pelo menos é um longa-metragem decente e é o melhor filme da Marvel desde Guardiões da Galáxia Vol. 3, o que não quer dizer muito. Como é constante nos filmes do MCU os acertos são sempre rodeados de limitações na mesma medida. Começando pelos acertos é o primeiro filme deles em muito tempo que os personagens falam como seres humanos, onde as alfinetadas, os momentos emocionais e a sua temática dramática são orgânicos quando aparecem e em seu desenvolvimento. O estado emocional depressivo e quebrado de Yelena – a protagonista absoluta do filme, praticamente um The Florence Pugh Show, que tem na combinação de sobriedade e carisma de Florence Pugh a melhor coisa do filme – é exposto como uma certa gravidade inesperada de temas adultos que cercam a vida dos personagens por Thunderbolts* (por mais simplório que seja o tratamento todo desses temas e mesmo eles sempre sendo reforçados por uma leveza constante pra não deixar o clima pesar o filme é eficaz nesses pontos e felizmente faz isso sem ser marcadinho), que de fato se debruça minimamente pelas dinâmicas dos personagens, respira um pouco com eles e une bem a metáfora e o concreto dentro da trama que eles estão passando ao falar de luto, perda, dor e etc. observando o impacto que isso tem dentro deles.
Nesse sentido é infinitamente melhor que Wandavision que tenta isso mas fica apenas no terreno do pastiche, da intenção apenas, disso colocado esquematicamente como validação e do textual ao desenvolver isso na série ou na sua protagonista. Lewis Pullman e Wyatt Russell estão bem (principalmente o primeiro) mas são muito mais instrumentos de roteiro e servem para se contrapor/espelhar Plug do que qualquer outra coisa, enquanto Hannah John-Kamen e Sebastian Stan são super coadjuvantes. O histrionismo do David Harbour é eficientemente tratado pelo texto e pelas suas relações com os companheiros de cenas que conseguem dar um foco melhor e mais específico pra isso do que o Viúva Negra. O sarcasmo do humor das dinâmicas dos personagens nesses sujeitos disfuncionais que se juntam e as suas observações, alfinetadas ou diferenças de temperamento chegam lembrar um pouco um bom– humor do texto do Joss Whedon sem perder pontuações de momentos dramáticos ou pinceladas nesse sentido que rodeiam as suas figuras. Fazia tempo que eu não via um filme da Marvel com bons diálogos e de fato a participação da roteirista Joanna Calo (que acumula trabalhos em séries como BoJack Horseman, Hacks, The Bear, Beef e outras) no roteiro do filme se faz notável colocando a fluidez e naturalidade necessárias para esse texto.
O filme até tem boas ideias visuais muito pontuais: a entrada no vácuo escuro que representa a depressão, as transições de cenários giratórias lá dentro, os momentos que o grupo observa a manifestação do Sentinela cercado por sombras, os planos zenitais (aqueles por cima do teto olhando pra baixo) de Yelena e Bobby observando o passado dele, a ideia de ser um filme mais escurecido pra representar o estado dos personagens (mas apenas a ideia disso) e as cenas de ação provavelmente executadas pela segunda unidade são muito agradáveis nas suas coreografias coordenadas e nos seus combates corporais mesmo que não tenham personalidade própria. O problema é que o cerca isso é uma direção totalmente básica que além de não aproveitar o melhor dessas ideias, também prejudica o alcance delas escolhendo filmar as maioria das coisas da maneira mais comum e padronizada possível. É muito lamentável por exemplo a incapacidade da fotografia em iluminar de forma minimamente interessante e notável cenas escuras ou noturnas.
É óbvio que a intenção é querer usar a escuridão para evidenciar a melancolia que cerca aquelas figuras mesmo que o filme trate dessas coisas com um equilíbrio de muita leveza e humor no geral, mas essa iluminação baixa e o visual limpo entre esse azul e cinza desbotados são muito genéricos e ficam ainda mais quando vemos os poucos momentos de constate entre o vermelho e o amarelo refletidos nos espaços e nos personagens com a padronização estética costumeira desses filmes e aquilo parecendo apagado esteticamente. Um visual escuro e dessaturado pode perfeitamente não ser estéril visualmente, ser belo, ser imaginativo e ser visível, mas poucas vezes isso é o caso desses filmes. E não é que o filme seja feio ou mal organizado como os filmes anteriores da Marvel, ele parece um filme, ele é funcional, mas parece um filme qualquer. Uma sucessão sem graça e sem inspiração de planos gerais, planos fechados, planos médios, planos/contraplanos e alguns poucos travellings laterais rápidos feitos com várias câmeras decididos depois protocolarmente na montagem.
Narrativamente a aventura que reúne os personagens e todas as etapas dela também é tão formulaica quanto o filme é visualmente e cenicamente comum e burocrático. É evidente como a personagem de Julia Louis-Dreyfus apesar do talento imenso da atriz e da boa caracterização é só parte de uma fórmula de roteiro, enquanto a sua assistente feita por Geraldine Viswanathan muda de forma repentina conforme apenas as necessidades do roteiro. Mas pelo menos o tratamento ao grupo de personagens e a sua protagonista dão algum caldo nisso tudo deixando o filme minimamente simpático e divertido.
Nota: 3 /5