Desaprendemos a ir ao cinema e ao teatro? - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Imagem do Musical Wicked no Brasil: Desaprendemos a ir ao cinema e ao teatro?
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Desaprendemos a ir ao cinema e ao teatro?

A nova temporada brasileira do espetáculo Wicked tem gerado comentários por conta do comportamento da plateia. Muitas são as pessoas que durante os números musicais cantam as canções a plenos pulmões e até mesmo gritam, transformando a experiência de apreciar a peça de teatro em algo um tanto quanto difícil. 

Não é de hoje que fãs de cinema reclamam do comportamento de algumas pessoas durante as exibições dos filmes. Muitas conversas em volume alto e que atrapalham a concentração de quem tenta assistir ao filme, além da situação com o celular. 

Um fenômeno que começou a ocorrer nos últimos anos, principalmente por conta das redes sociais, é o da segunda tela. Enquanto você assiste algo em uma TV ou computador, fica com o celular ao mesmo tempo, seja comentando o que está vendo ou mesmo batendo papo sobre outras coisas. E as pessoas levaram esse comportamento de casa aos cinemas. 

Não é incomum ver pessoas filmando as telas de cinema no meio da sessão, rolando o feed do Instagram ou mesmo conversando no WhatsApp. E a verdade é que esse comportamento pode ser extremamente incômodo para quem pagou caro e quer apenas se desconectar do mundo e prestar atenção no que está assistindo. 

Cinema, teatro, são experiências coletivas onde a atenção é importante. Não é como um show, onde é parte da experiência coletiva cantar e gritar junto. 

É claro que existem sessões de cinema que exibem shows, o que é completamente diferente. E também tem as sessões de filmes musicais famosos, como The Rocky Horror Picture Show, onde as pessoas vão fantasiadas e é esperado que elas cantem e até mesmo dancem as músicas. Mas esses são casos específicos. 

Num geral, quem vai a um musical de teatro, e paga caro por isso, deveria ter a oportunidade de ver com atenção os artistas performando. Quem vai ao cinema deveria ter o direito de não ter sua atenção incomodada pela luz de um celular. Mas aparentemente está se tornando impossível ir ao teatro e ao cinema sem passar por alguma situação desagradável. 

Será que o individualismo das redes sociais nos tornou imunes a entender que não é tudo sobre nós? Não é porque você quer muito comentar algo com seu crush ou sua amiga que você precisa atrapalhar a experiência das outras pessoas dentro da sala escura do cinema. Não é porque você ama uma música que precisa cantar durante um espetáculo. Existe algo chamado karaokê que é específico para aplacar seu desejo de performar uma canção. 

É um desejo tão grande de mostrar que esteve no lugar, de registrar que cantou a música de Wicked em pleno musical que você deixa de experimentar a experiência de ver os artistas. Você transforma tudo sobre você e seus registros e ignora que o mundo não gira ao seu redor. 

E ficam as questões: será que estamos caminhando para uma época em que não vamos mais conseguir ficar quietos por duas horas, sem mexer no celular? Será que vamos nos tornar tão individualistas que não saberemos mais respeitar a experiência das outras pessoas e vamos transformar tudo em algo sobre nós mesmos? É para se pensar.

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