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Crítica: Suçuarana (Festival de Brasília)

Suçuarana – Ficha técnica:
Direção: Sérgio Borges, Clarissa Campolina
Roteiro: Clarissa Campolina, Rodrigo Sorogoyen
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2024 (Festival de Brasília)
Elenco: Sinara Teles, Carlos Francisco, Karina Silvério Augusto, Marisa Bernadete, Rafael Botero, Raquel Wanusa Cardoso, Ágnis Cardoso, Olívia Coelho.
Sinopse: “Suçuarana” narra a história de Dora, uma mulher que passou os últimos anos de sua vida na estrada, em busca de uma terra perdida que ela e sua mãe tanto sonharam, um lugar mítico onde imagina que possa encontrar pertencimento. Em meio a encontros com outros viajantes e guiada por um misterioso cachorro, Dora atravessa um território em ruínas, devastado pela mineração, onde seu destino parece sempre um pouco mais distante.

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A estrada tem sido a grande companheira de Dora, uma jovem que vive saindo de lugar em lugar, sem ter um lar e sem construir raízes em nenhum ponto. Em suas andanças sempre busca emprego nos locais que resolve parar, mas jamais parece disposta a ficar. A premissa do filme de Clarissa Campolina e Sérgio Borges é simples. Um aparente road movie em que nós acompanhamos a vida de andarilha de Dora. As dificuldades que uma mulher sozinha em uma beira de estrada passa e os encontros fortuitos que fazem parte da sua jornada. A jovem mulher busca o Vale de Suçuarana, terra que quando criança sua mãe contou da existência e que acredita ser um lugar para proclamar como seu. 

Sinara Teles dá vida a uma Dora que traz todas as dores sofridas no corpo e no olhar. Sua personagem pouco fala, mas na verdade diz muito. A cada encontro com um estranho diferente, as variadas reações estampadas em sua interpretação. Como não ser desconfiada de tudo e todos após anos e anos seguindo como andarilha?

Com o passar do tempo, um cachorro que ela acaba chamando de Encrenca, se junta a ela. Em um primeiro momento a tentativa de abandonar o cão parece funcionar, mas as trajetórias dessa humana e desse animal parecem estar cruzadas, trazendo para o longa um leve flerte com o realismo mágico. E o laço entre eles acaba se tornando mais forte quando Dora encontra um grupo quilombola que a ajuda. Só que para esta mulher, de vida tão sofrida, se fixar em algum lugar não é uma opção.

Suçuarana é um filme que cresce em você conforme a passagem do tempo. Sua premissa simples não é sinônimo de falta de impacto. A cada pessoa que Dora encontra, a cada gesto de gentileza em um mundo devastado, traços do que existe de belo na humanidade vão sendo mostrados ao público. E tudo isso enquanto a câmera, com seus planos abertos, mostra as destruições que o homem é capaz de fazer com a natureza.

Minas Gerais já foi muito explorada por conta da mineração. E tudo isso trouxe impacto para os locais explorados e sua população. Sem fazer um discurso político no texto, Suçuarana não deixa de mostrar a devastação nas áreas que antes eram de mineração e que hoje em dia não possuem a mesma riqueza de outrora. E uma das grandes qualidades do longa é justamente ser capaz de dizer tanto sem precisar colocar tudo no texto.

O final do filme nos mostra que a jornada nunca tem fim, mas ela sofre modificações. Não necessariamente mudanças bruscas ou muito grandiosas, mas sutis e às vezes silenciosas.

Nota: 4/5

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