Crítica: Lobos
Lobos – Ficha técnica:
Direção: Jon Watts
Roteiro: Jon Watts
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2024
Elenco: George Clooney, Brad Pitt, Amy Ryan.
Sinopse: Dois solucionadores rivais se cruzam quando ambos são chamados para encobrir o erro de uma importante figura pública de Nova York. Durante uma noite conturbada, eles terão que deixar de lado suas diferenças e egos para concluir o serviço.
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O novo filme da Apple TV+, traz dois dos maiores galãs e atores de Hollywood para uma jornada de ação e aventura aos moldes clássicos dos filmes policiais dos anos 1990. A dinâmica Bad Cop, Good Cop funciona de forma razoável em Lobos, quetem a direção e roteiro de Jon Watts, responsável pela franquia dos filmes do Homem-Aranha na Marvel Studios. Brad Pitt e George Clooney são limpadores profissionais, mas limpadores de cenas de acidentes ou crimes que podem comprometer figuras importantes da alta sociedade estadunidense. Após um acontecimento inusitado, ambos são chamados ao mesmo local para resolver o mesmo problema.
Lobos está relacionado a ideia do lobo solitário, ou seja, um sujeito que trabalha sozinho. Clooney é chamado por Elizabeth, papel da sempre carismática Amy Ryan, para limpar a cena de um acidente. Elizabeth é promotora e estava num quarto de hotel com um garoto. Quando este se acidenta e aparentemente morre, ela liga para o desconhecido número para situações emergências. Logo após a chegada de Clooney – que não tem um nome – Brad Pitt – que também não tem um nome – e é também um limpador profissional, toca a campainha do quarto. Uma pequena discussão com bom humor e pitadas de ironia, faz com que eles se unam para trabalhar juntos.
É uma premissa interessante. Clooney e Pitt fazem papéis que estão acostumados a fazer. Pitt como o canalha divertido e de bom coração e Clooney o sujeito mais sério e menos divertido, mas de bom coração. Esses arquétipos se invertem ao longo do filme garantindo diversão e entretenimento razoável a essa história que talvez seja mais longa do que precisava. Muito do filme se resume a inúmeras situações inusitadas, que são colocadas como obstáculos para os protagonistas resolverem com algum esforço, mas nem tanto. Não deixa de ser divertido quando o garoto que pensávamos estar morto, de repente acorda no porta-malas do carro e uma confusão generalizada se instala.
Tirando esse pequeno momento do início do filme, nada é muito mais interessante. As piadas – ou as tentativas de fazê-las – nem sempre funcionam, inclusive por serem calcadas no envelhecimento dos personagens (dor nas costas, uso de óculos) ou por situações sobre o uso de drogas do Garoto – que só chama Garoto. A fileira de acontecimentos que os protagonistas precisam resolver, vão sendo colocadas à medida que se faz necessário acrescentar alguma ação na trama e aumentar os minutos de duração. Não são situações absurdas e fora de lógica para aquele universo, mas são acontecimentos quaisquer, que não muda nada, e o pior, não provocam nenhuma reação de quem está assistindo.
Difícil dizer algo mais interessante de George Clooney e Brad Pitty, eles estão sendo o de sempre e não há grandes esforços de nenhuma parte. A participação de Zlatko Burić como o mafioso Dimitri também é o de sempre. Talvez o pouco destaque seja do Garoto, papel de Austin Abrams, que na fisicalidade e timing cômico se sai bem e até diverte com seu jeitinho garoto-excluído-da-escola-de-poucos-amigos, mas fica por isso mesmo. Há uma cena em específico que é bem bolada, que envolve um quase acidente de carro. É bem filmada, divertida e o timing da montagem deixa ela um pouquinho mais engraçada, mas em linhas gerais é um filme com pouquíssimos bons momentos.
Tudo isso para chegarmos ao grande responsável por esse produção: o diretor e roteirista Jon Watts. A história é simples, as vezes até demais, e o filme poderia facilmente ter uns 15 minutos a menos. Existe uma extensão de acontecimentos que particularmente não leva ninguém a lugar nenhum e a tentativa de criar um desenvolvimento dos protagonistas para além dos arquétipos é muito mal resolvida e brega – só que de um jeito ruim. Mesmo que a intensão fosse propositalmente caminhar para o erro – o que quase sempre acontece – a expectativa criada para esses momentos é muito incipiente.
Watts não é um diretor muito criativo. O uso exagerado de primeiro plano e plano médio não ajuda em nada e, quando há um plano aberto para mostrar com mais clareza a ação, ele é brevíssimo, pois logo há um retorno ao primeiro plano. Por exemplo, tudo que Jon Watts parece saber fazer, ficou claro em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021), especificamente. Ambos os filmes poderiam ter uma escala maior – na composição de planos e imagens – e tinham à disposição um grande elenco para produzir algo mais interessante, até porque, chances para a criatividade havia de sobra. Homem-Aranha tinha tudo para ser uma conclusão épica, mas a pobreza de planos e enquadramento deixa tudo muito sem graça, insosso. Lobos sofre exatamente da mesma coisa, é um filme visualmente pobre. É até difícil atribuir culpa ao diretor de fotografia Larkin Seiple, ele já fez trabalhos mais interessantes que esse.
Lobos conta com um elenco que esbanja carisma e simpatia sem muito esforço, mas desperdiça oportunidades excelentes de ser criativo, enérgico e interessante. A direção e roteiro de Jon Watts cumpre o básico: apresenta um mar de piadas e consequências óbvias e sem graça, intercala acontecimentos de um ponto ao outro porque sim e falha na objetividade da narrativa que as vezes tenta ser algo e acaba sendo quase nada. Mesmo não esperando nada, não deixa de ser decepcionante ver uma oportunidades perdida dessa forma. O curioso é que se essas oportunidades tivessem sido aproveitadas, ajudaria a disfarçar um roteiro frágil e pouco inspirado, os defeitos poderiam ser encobertos e a magia do cinema poderia fazer sua graça. Infelizmente isso não aconteceu, mas continua sendo digno de nota o quão básico Jon Watts consegue ser, pelo menos ele o faz direitinho com o bônus de que parece estar se divertindo. Difícil é dizer se quem assiste vai se divertir na mesma medida que ele.