Crítica: Fernanda Young – Foge-me ao Controle
Fernanda Young – Foge-me ao Controle
Direção: Susanna Lira
Sinopse: Ensaio poético sobre a vida da escritora, apresentadora e roteirista Fernanda Young.
Filme visto no Festival É Tudo Verdade
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Em um momento de Fernanda Young – Foge-me ao Controle, vemos a escritora e roteirista lendo um trecho de What It Feels Like for a Girl de Madonna no programa Saia Justa. Ela não consegue prosseguir a leitura e começa a chorar por conta do tanto que a canção mexe com ela.
Apesar do seu trabalho de bastante notoriedade na TV e no cinema, sua personalidade chamava muita atenção e ela ganhou os holofotes também por ser essa figura inquieta, às vezes polêmica e que dizia o que queria dizer, fugindo de padrões que são impostos às mulheres. Fernanda nunca foi uma pessoa que agia conforme o que era esperado, sendo vista por muitos como rebelde.
O documentário ensaísta de Suzanna Lira tenta mostrar Young de uma forma poética e ao mesmo tempo caótica. Quase como um mergulho na mente da escritora. É uma obra intensa e que se preocupa em mostrar as diferentes facetas de Fernanda pelas suas próprias palavras, em geral. Trechos de entrevistas, pedaços de programas, imagens pessoais, citações de seus livros e até mesmo das séries que escreveu. Tudo sendo sobreposto por fotografias, pequenos trechos de filmes antigos, ilustrações, instalações em vídeo. Tudo isso vai compondo um mosaico do que era essa mulher, mas sem jamais querer entregar uma resposta pronta.
Por mais contraditória que fosse, Fernanda Young marcou uma geração de mulheres com desejo de escrever, principalmente roteiro. Foi talvez a primeira mulher a ter notório sucesso como roteirista no Brasil. Lembro como foi mágico pra mim descobrir com o sucesso dela que era possível ganhar a vida escrevendo roteiros.
O documentário mostra seu amor e necessidade pela escrita. Como ela escrevia como falava. E como suas personagens carregavam sempre um pouco – ou muito – dela. O longa também mostra sua visão de feminismo e das belezas e dificuldades de ser mulher em um mundo tão opressor. Retrata sua relação com a família. Sua dificuldade de relação com seu pai, sua visão de casamento e o amor pelos filhos.
Assistir Fernanda Young – Foge-me ao Controle traz inquietações, como tantas que tinha a personagem central. Também cria vontade de conhecer ou revisitar a obra da artista. E celebra a vida de uma mulher que morreu cedo demais, mas que realizou muito em vida.